Há muito que a festa de toiros nos Açores, tem um cunho especial, uma singularidade quase exótica que faz com que muitos tenham interesse em viver e contemplar como no meio do Atlântico se criam toiros e se vive esta paixão. Com centro nevrálgico na Ilha Terceira, mas com ganaderias com dimensão em S. Jorge, separados pela beleza do canal, do Pico e do Faial; esse encanto parece ser um chamariz para muitos aficionados desejosos de experienciar a festa taurina pelos mais variados lugares do mundo.
Tome-se como exemplo a multitude de gente que visita anualmente as feiras taurinas mais afamadas de Espanha, onde disfrutam das tradições locais, vivendo o dia a dia da ganaderia, algo muito próprio e que parece ser um negócio em franco crescimento.
Por cá nas ilhas se a natureza se vende por si, também a nossa tauromaquia e o nosso campo bravo parecem ter muito interesse. De quando em vez há notícia de grupos de aficionados que percorrem as duas ilhas com ganaderias de lide e se deleitam nos tentaderos, alguns dos quais aficionados práticos, com os produtos bravos das verdejantes pastagens do interior da ilha. Há depois a gastronomia, a cultura e as amizades já feitas que tornam atrativa uma etnografia já de si muito ligada à festa brava e aos valores do campo.
No fim de semana de 11 a 14 de abril, quase de surpresa, foi possível verificar pelos sítios mais pitorescos da vida taurina da Ilha Terceira, um grupo de gente, franceses, espanhóis e portugueses, que não obstante a péssima meteorologia, desfrutou de dias bem passados na Ilha de Jesus Cristo tendo o gado bravo como pano de fundo. A maior parte das tentas programadas, acabaram por não acontecer devido ao mau tempo, mas na quinta e na sexta-feira, conseguiu-se ver tourear e alguns desses aficionados práticos alimentaram o seu gosto pelas emoções das lides taurinas.
Neste grupo, e para nossa surpresa, vinha inserido o matador de toiros Marc Serrano, francês da aficionadíssima cidade de Nimes, no bastião francês taurino que conforma a afamada Região da Provença Francesa. Com alternativa tomada em 8 de junho de 2000 em Nimes diante do touro Fusilero, número 9 da ganaderia de Celestino Cuadri, com El Zotoluco como padrinho e José Luis Moreno como testemunha, este francês vive para o toiro e pelo toiro, baseando sobretudo a sua carreira no seu país. Toureiro de valor rodado nas corridas de ganaderias apelidadas de “duras”, sofre uma grave colhida em Samadet em 2021, cornada com duas trajetórias que lhe quase lhe atingem a femoral.
O Matador francês tem um clube taurino com o seu nome, com muitos seguidores e com plataformas de divulgação de atividades do matador e do grupo que o seguem para toda a geografia taurina, onde toureia e tenta. A vinda do toureiro e dos seus seguidores, aos Açores, está amplamente divulgada nestas mesmas plataformas com milhares de visualizações…
Apesar de programadas várias tentas, a meterologia só permitiu a com novilhos de Herdeiros de Ezequiel Rodrigues no tentadero de Sta. Bárbara, único mais abrigado da intempérie e que permitiu, ao toureiro e aos que assistiram, desfrutar com as boas investidas dos novilhos da divisa verde e Branca de S. Bartolomeu.
Apesar das inclemências do tempo viu-se tourear, quando a meteorologia o permitiu, numa atividade em grupo onde pontificavam aficionados, alguns deles práticos, do México, Portugal e França, momentos esses captados pela objetiva de Paulo Gil.
Por. José Paulo Lima*
*Doutor em Produção animal
Foto1: Marc Serrano numa importante tarde em Las Ventas
Foto 2 e 3: Marc Serrano em Sta. Bárbara, frente a novilhos de Ezequiel Rodrigues
Fotografias de Bernard Fournier e Paulo Gil.