Margarida Marinho é uma das actrizes mais conhecidas e acarinhadas pelo público português. Depois de ter feito de Marina Nogueira na telenovela da SIC e de ter feito uma participação em “Rainha das Flores”, da mesma estação, a actriz volta à RTP, local onde se estreou como protagonista em “A Grande Aposta” (de 1997), na série “Vidago Palace”, que estreia no horário nobre da estação pública no dia 30 de Março.
“A Benvinda de Fátima é um bombom que o Henrique me ofereceu porque é uma personagem maravilhosa, é uma mulher que é obcecada por uma figura do estrelato brasileiro, que é a Carmen Miranda. Tudo nela a impressionava e ela é uma mulher com uma liberdade até fora do vulgar para a época, o que é uma coisa que a distingue das outras mulheres. As outras mulheres que depois vocês vão ver na série são mulheres com uma exigência formal da própria época e a Benvinda, a minha personagem, é uma mulher com o seu próprio código social e ela, apesar de quando está junto de pessoas com algum ‘berço’ tenta imitar mas é sempre excessiva, tem uma sensualidade que não se compadece com a frieza das das damas que ocupavam este hotel na época“, conta Margarida Marinho sobre a sua nova personagem, Benvinda de Fátima, uma mulher à frente da sua época, que ri alto e é bastante emocional chegando, por vezes, a ser descompensada, o que acaba por abalar os costumes instalados no Vidago Palace Hotel.
O empreendimento pertencente ao grupo Unicer recebeu o elenco e a equipa técnica da Hop e PortoCabo durante os quase dois meses de rodagem desta história que se desenrola no verão de 1936 e apresenta uma história de amor impossível. Amor, guerra e muitas intrigas vão decorrer neste hotel que serviu como cenário natural para as filmagens.
“Estamos num espaço de uma beleza e de uma dignidade que não há preço. É um décor, como vocês calculam, conseguir isto é um momento único. Temos um texto que é o primeiro lançamento para nós actores e que tem uma qualidade impar. Chegamos aqui e temos é que fazer o nosso trabalho. O nosso trabalho é representar, nada mais. Estão tão bem desenhadas, cada personagem, tão bem ligados os acontecimentos, os grandes plots, que nós só temos a ganhar se nos concentrarmos no nosso trabalho“, diz a actriz que considera “Vidago Palace” uma experiência única na televisão portuguesa.
Nesta série Benvinda de Fátima (Margarida Marinho) veste-se e age como a diva da música e da representação brasileira, o que por vezes a coloca em situações caricatas. Só que esta não é a única personagem cómica que pode ser encontrada em “Vidago Palace”.
“Há outras personagens, as nossas manas Perliquitetes, que são maravilhosas, mas já é com outro desenho. Enquanto esta é uma energia que emana fruta, fruta da Carmen Miranda, as manas têm outra mas depois isto tudo encaixa porque há muitas paisagens psicológicas e culturais na série e isso é que é engraçado depois ver como as personagens vão cerzir o todo e isso é muito giro“, diz a actriz que durante as gravações encontrou “velhos” conhecidos, como: Pedro Barroso, Maria Henrique, Mikaela Lupu, Marco António Del Carlo ou João Didelet, com que contracenou na série da RTP, “Diário de Maria”.
Benvinda de Fátima é portuguesa mas tem a particularidade de falar português com sotaque brasileiro, já que emigrou para o país há vários anos e tem em Carmen Miranda a sua grande inspiração.
“Ela aprendeu a falar brasileiro com as empregadas porque de quando em quando lá iam à grande cidade do Rio de Janeiro onde absorvia por completo todas as informações que tinham sobre a Carmen Miranda. Ela abre logo com o ‘Tico Tico no Fuba’ e acaba num grande momento, durante um baile, onde ela enlouquece e canta o ‘Balancé’, de Carmen Miranda“, diz a actriz que nesta produção para além de falar com sotaque brasileiro também canta.
“Não posso falar nem uma única vez em português de Portugal. É sempre com sotaque. Porque ela…digamos que está completamente possuída“, explica Margarida Marinho que interpreta uma portuguesa emigrada no Brasil. Este não é o primeiro trabalho em que a actriz teve que lidar com uma outra língua. Em 2011, fez a espanhola Violante Borges na telenovela da TVI, “Remédio Santo”.
Tal como a sua “musa”, Benvinda de Fátima é uma personagem bem-disposta, algo exagerada e emana uma energia forte e contagiante que não vai deixar nenhum dos hóspedes do hotel indiferentes, independentemente do género.
“Tive a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a figura da Carmen Miranda. Tinha aquela ideia longínqua, de quando era miúda, os filmes portugueses dos anos 40 já traziam porque ela já era uma grande vedeta em Hollywood e já havia esse intercâmbio cultural e ela fez parte do grande marco da cultura brasileira à época e foi ela que abriu as portas à comunidade musical ao mundo porque ela no fundo foi um ícone contagiou toda a música popular brasileira“, conta a actriz que para criar Benvinda de Fátima teve que pesquisar sobre a vida da diva brasileira que nasceu em Portugal.
Para criar esta personagem a actriz teve que ver vários filmes protagonizados por Carmen Miranda, vídeos e os testes de imagem que fez para Hollywood e que podem ser vistos no YouTube.
Benvinda de Fátima é mãe de César Augusto (Pedro Barroso) e São (Beatriz Barosa) e emigrou para o Brasil muito jovem com o marido, Bonifácio da Silva (João Didelet).
“É um casal muito apaixonado. Os filhos envergonham-se de nós. Os filhos não queriam ter esse pai e essa mãe a fazer essas figuras, principalmente a mãe, mas ao mesmo tempo ficam enternecidos. São críticos. Eles apesar de tudo já têm um pé numa sociedade organizada e com algum formalismo“, diz a actriz sobre o relacionamento que Benvinda de Fátima vai ter com o marido, que é considerado o “Barão do Cacau” devido ao número de roças que têm no nordeste, e os filhos do casal.
O maior sonho desta mãe é casar os filhos bem e aparentar-se com a nobreza, já que é uma nova-rica algo deslumbrada com o dinheiro. Como tal é a maior impulsionadora, ao lado de Lívia (Anabela Teixeira), do casamento do seu filho com Carlota do Vimieiro (Mikaela Lupu).
“Ela é uma mãe súper obcecada pelo filho. Ela estraga este filho. O pai quer mostra-lhe a realidade, a mãe quer lhe mostrar a ilusão. A mãe infantiliza este filho enquanto é crítica com a filha, tem ali alguma tensão muito de mulher. Ela infantiliza o filho“, conta sobre a relação que a sua personagem vai ter com o filho, César Augusto. Os dois actores já tinham trabalhado anteriormente em “Mundo ao Contrário” e em “Meu Amor”, novela vencedora do Emmy para melhor novela. Nesta produção deram vida aos irmãos Jorge e Helena Vargas Mota.
A produção de “Vidago Palace” juntou uma equipa composta por elementos dos dois lados da fronteira, duas formas diferentes de trabalhar a ficção televisiva. Mesmo antes de concluídas as gravações, esta nova série foi vendida para outros países, para além de Portugal e da Galiza.
“Fiz várias cenas com alguns colegas espanhóis e eles estavam a fazer um esforço suplementar, e temos que sublinhar isto, que eu sei porque já fiz alguns filmes em língua estrangeira. Eles tentaram falar em português e encontrar o lugar mais comódo para serem verdadeiros. Não é nada fácil e estamos a tentar ali a servimo-nos uns aos outros, a sermos solidários e isso é engraçado“, diz a actriz sobre trabalhar com a equipa espanhola. Margarida Marinho já entrou em algumas produções internacionais, como: “Quand j’etais petit”, “Les jumeaux oubliés” ou “Mata Hari”.
Depois de vários trabalhos em televisão, Margarida Marinho volta à RTP e às séries 11 anos depois de “Bocage”, onde fez o papel de condessa de Oyenhausen.
“O tempo de uma série é mais curto e também a investigação é mais profunda. Temos mais tempo para fazer, por outro lado é o próprio conteúdo, a forma como chega ao espectador terá mais a ver com aquilo que eu procuro quando vejo televisão. O exercício da novela é um exercício importantíssimo, há muitos jovens actores que foram formados na novela, o que obriga a uma ginástica enorme dada ao desenvolvimento do trabalho em si, o que também é muito mais longo, mas para mim enquanto actriz prefiro esta qualidade“, responde a actriz sobre qual género de ficção prefere, a novela ou a série.
As grandes apostas da estação pública para o ano de 2017 são as séries “Ministério do Tempo”, que tem uma segunda temporada garantida, e “Vidago Palace”, que aborda acontecimentos marcantes da história recente de Portugal e Espanha.
“Vidago Palace” estreia a 30 de Março no horário nobre da RTP.