A Igreja de São Domingos em Lisboa recebeu uma celebração de dois patrimónios imateriais da Humanidade pela Unesco: o Fado e o Cante Alentejano nas vozes de Ricardo Ribeiro e do Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa.
Em 2015, mais propriamente em Novembro o Fado comemora o quarto aniversário da sua elevação a património imaterial da humanidade enquanto o Cante comemora o seu primeiro aniversário. Ambos são patrimónios de valor sentimental incalculável para as nossas gentes e são também dois dos mais dignos representantes da nossa cultura artística e humana.
A celebração começou ainda fora da igreja com o fadista e o grupo de cante a interpretarem modas alentejanas perante uma multidão emocionada e que usava dos telemóveis e maquinas fotográficas para registarem o momento. A excepção ocorreu no final das modas em que os aplausos se fizeram ouvir de modo efusivo e ruidoso.
Seguiu-se a entrada na igreja e um espectáculo imponente não só musicalmente como espiritualmente.
Começou o Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa que trouxe na voz os encantos das paisagens alentejanas e as estórias das gentes desta região do país. Sóbrios numa interpretação carregada de alma e sentimento. A acústica da Igreja de São Domingos ajudou a que toda a actuação do grupo fosse ainda mais arrepiante para quem ouvia. Havia pessoas a chorar, não de tristeza, mas como que lavando a alma com a magia embutida nas palavras cantadas pelos serpenses. Do seu reportório constaram modas como “Alentejo, Alentejo”, “Vigem Maria”, “Bom Pastor” ou “Serpa de Guadalupe”. No final da sua actuação o público que encheu a igreja aplaudiu de pé.
O Fadista Ricardo Ribeiro voltou a mostrar toda a sua projecção e capacidade vocal e provando ser um dos mais dignos representantes da arte nobre que é cantar o Fado. Com um alinhamento “de acordo com o espaço onde estamos, mais espiritual”, o fadista fez-se acompanhar por três músicos de excelência: José Manuel Neto na guitarra portuguesa, Carlos Manuel Proença na viola de fado e Daniel Pinto na viola baixo. As suas mudanças de registo são assombrosas e as palavras por si cantadas ganham ainda maior dimensão. Ricardo sente as palavras dos poetas como suas e canta como mais ninguém o faria. Os adjectivos para tamanha beleza interpretativa começam a faltar na extensa lista de palavras integrantes da língua de Camões.
Como curiosidade recordamos que a Igreja de São Domingos sofreu a 13 de Agosto de 1959, um violento incêndio que destruiu por completo a decoração interior da igreja, onde constavam altares em talha dourada, imagens valiosas e pinturas. Apesar do triste acontecimento carrega consigo uma espiritualidade que marca a todos os que nela entram.
Para a sua historia deverá também ficar o final de tarde do dia 29 de Novembro de 2015 em que dois patrimónios imateriais se juntaram para mostrar toda a portugalidade pelas vozes de Ricardo Ribeiro e do Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa.