Duarte Nuno Vasconcellos nasceu na Madeira a 08 de Junho de 1973, vive em Lisboa desde 1991 e desde Agosto de 2011 é director geral e de produção da Buzico!Produções Artisticas, empresa por si criada. A publicação da entrevista concedida ao Inofucul.pt será efectuada ao longo de três dias nos quais serão abordados pelo produtor os projectos da produtora Buzico para 2016, a Buzico Agência, a peça “Um ano sem ti” de João Ascenso em cena no Espaço Escola de Mulheres no Clube Estefânia e ainda um espectáculo que levará a portugalidade a Terras de Sua Majestade.
A produtora Buzico começou 2016 com a peça “Um ano Sem Ti” de João Ascenso. Que eu tenha conhecimento estão previstos: um espectáculo em Londres (Once in Fado), “Variações de António” com Sérgio Praia. Há mais algum espectáculo já preparado que possas adiantar?
Há mais um que posso adiantar. Decorrerá antes do “Variações de António”. Será em Abril na Sala Estúdio do Teatro da Trindade, chama-se “Eu Tu e a Terapeuta” é de uma autora portuguesa, Eduarda Laia. A encenação é do Hugo Sousa que é realizador da Plural, mas ele vai começar agora um projecto portanto estamos aqui a ver algumas situações. Uma das actrizes já confirmadas é Joana Bastos. Portanto mais um texto de um autor português e numa sala em que a Buzico volta a estar presente. Uma sala em que desde a sua remodelação, a Buzico tem lá estado pelo menos uma vez por ano.
Contando com “Um ano sem ti, são já quatro os espectáculos confirmados para 2016. O que podes adiantar mais sobre o que irá a Buzico produzir este ano?
Tenho duas coisas que posso falar. A primeira é que tenho mais um texto de João Ascenso na mão, o nome do espectáculo não está fechado…
Mas o nome do espectáculo não está fechado porque o João prefere nomes longos, e tu optas por nomes mais curtos?
(Risos) Quem te contou isso? Foi o João? Sim, porque “Um ano sem ti” não tinha este título inicialmente mas também não vou revelar qual era (risos). O texto em si obviamente que tem um título, e que não é pequeno, como também é normal no João Ascenso, mas desta vez foi sugestão dele eventualmente reduzir um pouco o título. Não foi minha sugestão. Mas sobre este texto não posso dizer muito. Posso dizer que é um espectáculo para quatro actores, metade do elenco está pensado e não posso dizer mais.
E a segunda novidades que podes dizer é…
A adaptação de um texto não português, um texto inicialmente escrito para cinema e posteriormente adaptado para teatro e que ainda não tem nome em português. Ainda não está montada a estrutura, a única coisa que existe é o texto e o actor que será o protagonista do espectáculo, Flávio Gil. O resto vai depender de termos uma sala, traduzirmos o texto, ter encenador, construir o restante elenco. Desta vez vou ultrapassar a minha quota de pessoas, porque o espectáculo tem um número grande de personagens, o que terá um numero significativo de actores em palco. Não sei se para este ano ou apenas para o próximo ano, a única certeza é que há um texto nas mãos da Buzico para ser levado a palco.
Falaste no Flávio Gil, um artista agenciado pela Buzico Agência. A Buzico enquanto grupo está divida em dois segmentos: a produção de espectáculos (Buzico! Produções Artísticas) e o agenciamento de artistas (Buzico Agência). Quais as principais características que os artistas deverão ter para serem agenciados pela Buzico?
Passa por identificar nos artistas que vêm ter connosco ou que a Buzico pretende agenciar, algo em que vale a pena apostar. A minha ideia para a Buzico Agência é que seja muito mais que um repositório de artistas, muito mais que um mero colector de trabalhos no final do mês, mas que seja algo que tenha a maior proximidade, e sei que não é fácil conseguir, com os actores no sentido de haver um trabalho de gestão de carreira, de querer que as pessoas vejam na agencia aquilo que se faz lá fora, para além da pressão de vender os artistas que consiga gerir o que pensamos ser uma boa ou má opção para a sua carreira profissional. Obviamente que o dinheiro é sempre importante mas há trabalhos em que vamos ganhar só 100 euros e vale a pena ir, enquanto noutros ganhamos 10 mil euros e só o vamos fazer porque precisamos do dinheiro mas ficamos com uma mancha na carreira. E o que eu tento fazer, é verificar qual o momento em que podemos dizer não.
Não esquecendo o lado monetário, a carreira do artista é o foco?
Sim, certo.
Portanto um artista da Buzico, será alvo de uma gestão que terá em conta a carreira em vez da carteira?
O que eu tento ver com o próprio artista é o que pode ser melhor para a carreira. Eu não sou dono da verdade nem o artista o é…
E duas cabeças pensam melhor que uma…
E duas cabeças pensam melhor que uma. A minha ideia é sempre ser, dando uma imagem religiosa sempre fácil de associar, o confessor dos meus agenciados tal como antigamente haviam os confessores dos reis. E acho que é esse trabalho que falta muitas vezes nas agências, que não têm tempo para ouvir as pessoas.
Tu tomaste a decisão de criar uma empresa (Buzico) numa altura muito complicada, devido à crise, quando muitas pessoas criaram Associações. Tu tens um gosto especial pelos obstáculos ou gostas mesmo de ser diferente?
(Risos) Acho que são as duas coisas. Eu gosto de ser eu. E eu sou assim. Nunca abriria uma associação, nem fundação ou cooperativa. Para já não tenho dinheiro para isso e depois todos os exemplos que eu conheço deram asneira. Dou um exemplo: trabalhei na Companhia Teatral do Chiado, não conheci Mário Viegas. Mas sei que ele quando a fundou com o Juvenal, a companhia como empresa foi porque dizia que tinha feito parte de muitas associações e cooperativas e que tinha dado sempre molho, muita asneira. Portanto agora era um empresário à moda antiga criando uma empresa. Eu não sou nenhum Vasco Morgado porque não faço grandes produções como ele fazia, mas a lógica que eu queria dar à Buzico era uma logica empresarial com todos os custos que isso tem, pois criar uma associação é o caminho mais fácil.
Mas criando uma empresa tens um desfio financeiro maior. Como consegues combater este desafio?
Não consigo mas tenho o entendimento e a compreensão da grande maioria das pessoas que trabalham comigo para quando há momentos menos felizes. Tenho a felicidade de trabalhar com pessoas que entendem os momentos menos simpáticos.
A tua equipa é o teu maior suporte e a maior motivação perante os desafios?
Sim sem duvida. Todos os que trabalharam, e que por variadíssimos motivos ou por propostas mais aliciantes, saíram, eu não fiquei frustrado ou rancoroso. Eu digo sempre às pessoas que no dia em que quiserem sair, a porta está aberta, tal como a têm para ficar. Eu tenho essa relação até com os agenciados. Eles têm um contrato de exclusividade que após um período inicial, é revogável a qualquer momento. Eu não gosto que ninguém esteja ligado a mim contrafeito. E essa liberdade que dou às pessoas não é comoda para quem lida comigo directa e indirectamente. Acho as invejas, os rancores, os remorsos, são coisas que tento não ter. Já me fizeram muitas partidas ao longo da vida, desde que abri a empresa algumas foram rasteiras e feias, e eu continuo aqui de coração aberto com muitas dessas pessoas e sem qualquer rancor.
Se tivesses que definir a Buzico numa palavra, qual seria?
Sonho.
O Infocul.pt agradece à Pastelaria Benard todas as facilidades concedidas para a realização da entrevista.