Tudo vale a pena quando a alma não é pequena, já o dizia Fernando Pessoa no livro “A Mensagem”. Vale a pena ler, mais uma vez, a obra do escritor dos múltiplos heterónimos mas, desta vez, adaptada ao século XXI pelo músico Diogo Piçarra.
O músico Diogo Piçarra apresentou o seu livro “Diogo Piçarra em Pessoa” na Escola Secundária Eça de Queiroz em Lisboa. Depois de Braga, foi a vez de Lisboa descobrir uma nova vertente do vencedor, da edição de 2012, do programa “Ídolos”.
Diogo Piçarra nasceu, em Faro, em 1990. A formação de base do jovem é em línguas e comunicação. “Finalmente pude colocar em prática todos os meus conhecimentos literários e linguísticos“, admite o cantor do sucesso “Tu e Eu” sobre o processo de escrita da obra.
Mas como se iniciou esta parceria? ” O livro foi uma surpresa. Eu não estava à espera do convite mas também não o podia recusar. O livro oferece-nos a obra para além das folhas brancas para poderem interpretar à vossa maneira. Na altura em que estudava não me identificava muito com a obra de Pessoa. Não sou escritor nem poeta. O grande desafio foi inventar os heterónimos”, responde o cantor. “Quem se faz passar por outras pessoas para escrever é um génio literário“, sublinha Diogo Piçarra sobre Fernando Pessoa.
Alunos, professores e meios de comunicação social encheram o auditório da instituição de ensino para verem e ouvirem Diogo Piçarra a escrever sobre o trabalho de Fernando Pessoa. Para além da apresentação formal, foi possível assistir a um pequeno excerto de uma peça de teatro, que vai correr as escolas do país para falarem sobre este projecto, e ouvir duas novas músicas do cantor. Estes dois temas foram inspirados em poemas de Ricardo Reis e Walter Ego. Um dos heterónimos criados por Diogo Piçarra. Os outros são um idoso cubano: Ingenuo Garcia e uma sueca de nome Luna Thea.
“Não faria sentido escolher heterónimos portugueses. O português sou eu! Tentei fazer o oposto e apostar na diversidade dos meus heterónimos“, confessa Diogo Piçarra quando é questionado sobre o porquê dos três heterónimos que criou, ao contrário de Fernando Pessoa.
A peça de teatro está entregue aos atores Boaventura Rodrigues, que faz o papel de Fernando Pessoa, e Fábio Rocha, que faz do jovem Walter Ego.
O projecto criado pela empresa Betweien tem como objectivo lançar um repto diferente, uma nova abordagem a um dos maiores génios da literatura portuguesa e mundial. ” Os alunos do décimo segundo trazem ideias pré-concebidas da obra de Pessoa“, confessa a directora da Escola Secundária Eça de Queiroz, a doutora Maria José Soares.
Narciso Moreira, representante da empresa, explicou o que pretendem com esta iniciativa:” Este desafio que pretendemos levar às escolas pretende criar e reconstruir 20 poemas de Fernando Pessoa. Este projecto tenta aproximar Pessoa dos mais jovens“.
” Foi bom participar neste projecto. Deram-me muita liberdade e foi um prazer fazer estes poemas. Espero que isto vos incentive para estudar Pessoa, poesia e outros autores portugueses. Espero que este livro vos incentive a descobrir uma veia artística que ainda desconhecem“, este é o desejo do músico.
” O Diogo é um jovem muito talentoso que escreve muito bem. Incentivo todos a conhecer melhor este projecto e como ele está estruturado“, esta é a mensagem que Narciso Moreira, representante da editora Betweien, deixa para que fiquem a conhecer o livro “Diogo Piçarra em Pessoa”.
O livro tem 153 páginas e duas particularidades. A primeira é que na página da esquerda encontramos textos de Pessoa, na do lado direito temos o “espelho” de Diogo Piçarra, uma nova versão para aquele poema. Ao longo do livro vemos páginas em branco que convidam os jovens leitores a criarem eles, adaptações para os poemas do mestre.
As ilustrações do livro estão a cargo de Ana Gabriela.
Na nota de introdução, Diogo Piçarra deixa o repto ideal para a aquisição do livro e estudo da obra Pessoana: Somos todos poetas pois vemos a razão onde ela não habita.