“O Fado em Nós” é o mais recente disco de Pedro Moutinho que nos leva pelas melodias do Fado tradicional e nos deixa rendidos às palavras de Manuela de Freitas, Amélia Muge ou Maria do Rosário Pedreira. Em entrevista ao Infocul.pt o fadista fala-nos da concepção do disco, da escolha de reportório, dos músicos, dos poetas, de espectáculos. Pedro Moutinho é e fala de Fado.
O fadista Pedro Moutinho regressa aos discos com “O Fado em Nós” gravado no Museu do Fado e que leva os ouvintes a viajarem pelas ruas e vielas onde o Fado impera e a alma se renova. Neste disco o velho nunca deixa de ser novo e o novo nunca deixa de ser tradicional. Confuso? Nada disso, apenas e só tudo o que o Fado nos pode e consegue transmitir. Paixões, amores, desamores, dor, tudo mas mesmo tudo pode encontrar e ouvir neste disco.
Num disco que se torna prazeroso de ouvir, é também ele muito completo. Contudo há fados que se destacam. “Meu amor sem direcção” com letra de Vasco Lima Couto e música de Joaquim Campos, um tema “Que em nós o tempo sozinho/Não mata a dor de viver” segundo escreve o poeta.
“Fado da contradição” é talvez o que mais nos fica no ouvido, o que nos faz cantarolar logo às primeiras palavras. A letra é de Lourenço Rodrigues e música de João Nobre. “Num beijo foi se me a vida” escreve Manuela de Freitas em “Só um beijo” musicado por Joaquim Campos. O single deste disco, “Um carnaval” conta com letra de Alexandre O’Neill e música de João Braga e Jaime Santos Júnior que tem talvez das melhores estrofes de todo o disco, “Deixa a tristeza roer/As unhas do desespero/Deixa a verdade e o erro/Deixa tudo vem beber”.
A genialidade de Amélia Murge surge em “Leva-me contigo” e em “O Fado em Nós”. “Se eu te pudesse dizer” de Fernando Pessoa e com música de Armando Augusto Freire é talvez dos temas mais introspectivos deste disco. De Manuela de Freitas e obrigatório de ouvir são “Sem querer” e “Apenas uma história”.
Um disco para ser ouvido e apreciado por quem gosta de Fado, por quem ama Portugal e a sua música.
De seguida deixamos a entrevista realizada ao fadista.
Pedro quando é que começaste a preparar este disco e a seleccionar os temas?
Foi há quase dois anos, surgiu numa conversa que tive com a Amélia Muge, e em que lhe disse que gostava de fazer um disco fora daquela coisa do estúdio, queria um disco directo em que tocássemos todos ao mesmo tempo e a partir dai comecei a escolher o reportório.
Tu arriscas ao não fazer em estúdio. Ao optares por gravar no Museu do Fado, trazes ainda mais portugalidade a este disco, vincando ainda mais a tua faceta de fadista tradicional?
Sim, eu acima de tudo escolhi o Museu do Fado e existe um porquê. Não só pelas imagens todas mas por toda a documentação que existe ali dentro, todos aqueles fadistas que lá estão, eu conheci-o a quase todos, alguns deles tive a oportunidade de conviver com eles, e o Museu do Fado é a casa dos fadistas, um sítio onde me sinto bem e quando fui ao auditório percebi que acusticamente era o ideal, acabando por gravar ali.
Quais foram os maiores desafios ao gravares um disco ao vivo?
É tudo muito mais simples. O disco foi gravado em quatro noites, no sentido em que é tudo muito bem ensaiado antes de gravar e depois tem tudo a ver com o momento e com a espontaneidade que se cria naquele momento, muito à imagem do que acontece nos palcos e nas casas de fado.
Quais os músicos que te acompanharam na gravação deste disco?
Foram José Manuel Neto, Carlos Manuel Proença (que fez a produção e direcção musical do disco) e o Daniel Pinto. São músicos que já me conhecem, em que temos muita cumplicidade.
Consegues neste disco contar com um dos melhores guitarristas portugueses, José Manuel Neto. É um orgulho para ti poder gravar com músicos deste calibre?
Sim claro. Sem dúvida, é um orgulho. Não é apenas o facto de serem fantásticos, eiste uma amizade. Existe uma compreensão e tudo isso passou para este disco.
Como convidas os amantes do Fado a ouvir este disco? O que vão encontrar de novo no Pedro Moutinho?
Eles vão encontrar um passado que não é velho e acaba por ser novo, através dos fados tradicionais e de alguns fados de referências minhas que eu gravei, mas também vão encontrar os poetas de hoje, como Manuela de Freitas, a Amélia Muge, a Maria do Rosário Pedreira, mas é acima de tudo um disco de Fado.
Como está a tua agenda de espectáculos para 2016?
Por enquanto tenho o CCB no final do ano, a 30 de Novembro, antes estarei no Caixa Ribeira, vou estar em Castelo Branco e irei fazer algumas apresentações nas FNAC’s e na proximoa semana tenho a apresentação oficial no Museu do Fado a 25 de Fevereiro e no dia a seguir estarei na FNAC do Chiado.
Sendo tu de uma família fadista como tens acompanhado a aclamação do Fado desde que foi considerado Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO?
Eu acho que foi a cereja no topo do bolo, há uns anos que o fado tem sido reconhecido, agora claro que com a elevação a Património da Humanidade ainda mais o ajuda a manter-se e a cumprir-se e acho que vai de vento em pôpa.