Ana Moura encheu ontem o MEO Arena num concerto integrado na digressão do seu mais recente disco, “Moura”. Uma noite memorável para a artista ribatejana, que teve uma prestação a provar porque é uma das mais conceituadas artistas nacionais.
O Meo Arena estava engalanado e no palco uma espécie de casulo meio fechado e uma borboleta (símbolo da metamorfose) explicava aos mais distraídos a essência de “Moura”, o sexto disco de originais
Aos primeiros acordes de “Moura Encantada” o casulo que contornava o palco foi abrindo vislumbrando-se os músicos, que foram os primeiros a entrar, seguidos pela fadista com um brilhante vestido negro. Com a voz cuidada cedo mostrou que estava numa noite de inspiração para nos narrar a metamorfose de Moura através dos temas contidos no disco homónimo.
Seguiu-se “Ai Eu” da autoria de Pedro da Silva Martins, dos Deolinda, tendo a fadista cumprimentado o público no final do tema com um “Muito boa noite MEO Arena, destacando a sua felicidade e a dos músicos em ali estarem e por terem ali todo aquele mar de gente. Confessava-se nervosa por ali ter “muitos amigos, familiares, colegas…”. Entre os fadistas presentes na plateia há a destacar Raquel Tavares, Cristina Branco, Jorge Fernando, Ricardo Ribeiro, Mariza, Maria da Fé a que se juntava Dino D’Santiago, também nas primeiras filas. Mas Ana Moura fez questão de saudar alguém em especial, Marcelo Rebelo de Sousa, “agradeço a presença do Sr. Presidente da República”, sentado num dos camarotes.
Feitos os cumprimentos, foi hora de interpretar de Carlos Tê, “O Meu amor foi para o Brasil”, um dos melhores temas do seu último disco.
A fadista fez-nos recuar até ao Século XIX, altura em que “o fado era dançado, dizia-se até bater o fado”, pois dançava-se com a anca, explicou a artista. Este foi o mote de apresentação de “Fado Dançado”, da autoria de Miguel Araújo. O público gostava e aplaudia a artista efusivamente no final de cada tema. Em cada um dos temas há a destacar o jogo de luzes e as imagens que eram passadas no ecrã alojado no palco.
Da autoria de Márcia cantou um introspectivo “Desamparo” para logo de seguida voltar a agitar o público com um dançante “Agora é que é” da autoria de Pedro Abrunhosa.
Após esta sequência de temas de “Moura”, Ana levou-nos às melodias do fado tradicional e ai sim mostrou toda a sua alma fadista. A intensidade na interpretação, a verdade que transmitiu, foi assombrosa. Destaque para “Porque teimas nesta dor”.Ontem tudo corria bem, a fadista estava numa noite que se tornava puro prazer poder ouvi-la. Num dos fados tradicionais contou com Romeu Runa, bailarino que veio dar ainda mais brilho ao tema com uma actuação incrível e que agradou sobremaneira ao grande público que lhe tributou uma grande ovação.
Pedro Soares na guitarra clássica, Mário Barreiros na guitarra eléctrica, Ângelo Freire na guitarra portuguesa, João Gomes nos teclados, André Moreira no baixo e Mário Costa na bateria brilharam depois com um instrumental de alguns minutos, os quais foram aproveitados pela fadista para sair de palco e trocar de vestido, regressando a palco com um longo e brilhante vestido branco.
Nem só de fado vive o repertório de Ana Moura. Aliás a artista abarca em si sonoridades de todo o mundo, bem vincadas nos temas deste Moura, os quais com o seu timbre afadista-os na interpretação. E novo momento de euforia chegou com o folclore, ao interpretar “Valentim”, seguido do tema que dá nome ao seu mais recente disco.
Sendo este o seu sexto disco, muitos sucessos vão-se já aglomerando na sua discografia. O público provou que os conhece a todos e com grande facilidade cantarolou no refrão “Leva-me aos Fados” e “Os Búzios”, ambos da autoria de Jorge Fernando, que foi importantíssimo no início de carreira de Ana Moura.
“Tens os olhos de Deus” é um tema escrito e composto por Pedro Abrunhosa e que conta com um dos melhores videoclipes realizados na música portuguesa, nos anos mais recentes. As palavras ganham ainda mais pujança na voz aveludada de Ana Moura.
“Bailinho à Portuguesa” voltou a trazer o folclore ao Meo Arena e “Dia de Folga”, o primeiro single deste disco mais recente antecedeu o encore com o público de pé, batendo palmas e cantando o refrão.
Mas todos queriam mais. A fadista estava a gosto no palco e o público queria ouvir mais temas. Regressou a palco para “Loucura”, “Desfado” e terminou com os seus músicos num momento de improviso a cantarem consigo de pé na frente palco e sem instrumental. Aqui destaque para Ângelo Freire. Para além de ser dos melhore guitarristas portugueses, é fadista e tem uma extraordinária voz.
Ana Moura teve na noite de ontem a consagração como a artista mais aclamada neste momento em Portugal, provando que o legado de Amália ganhará novos contornos. A fadista ribatejana traz ainda mais influências ao fado, criando um espectáculo de qualidade superior. Aliás Ana Moura com o concerto de ontem colocou a fasquia bem alta para os artistas nacionais, pois com toda a certeza que no final do ano, data em que são eleitos os melhores do ano, este espectáculo será um deles. Com toda a certeza!
Ana Moura é a nova rainha do Fado em Portugal.
Fotografia: Facebook Oficial Meo Arena