2020 é o ano da temporada tauromáquica mais atípica que nos lembramos em Portugal, nos últimos anos. A pandemia mudou e cancelou alguns planos mas há um nome que se tem destacado: Andrés Romero.
O rejoneador espanhol leva, até ao momento, três corridas em Portugal e todas elas com lotação esgotada: Nazaré, Figueira da Foz e Moita.
Seguem-se corridas na Azambuja (27 de Setembro) e Campo Pequeno (1 de Outubro). Andrés Romero é um rejoneador que não tem deixado ninguém indiferente e concedeu uma entrevista ao Infocul, na qual falou sobre esta atípica temporada, sobre as próximas corridas, a actual quadra de cavalos e ainda sobre nomes importantes na sua carreira e vida pessoal como são António Nunes (apoderado em Portugal), o rejoneador luso-espanhol Diego Ventura e o cavaleiro Rui Fernandes.
Andrés Romero revelou-nos que encara estes dois compromissos (Azambuja e Campo Pequeno) com “a ilusão máxima”.
“Pelas circunstâncias que vivemos nesta temporada, Portugal tornou-se o meu refúgio e o lugar onde posso encontrar a recompensa por tantos meses de trabalho no campo, dia-a-dia, e, claro, o calor do público, que tanto precisamos, os toureiros”, explicou.
Em Espanha quase toda a temporada foi cancelada, sendo poucas as corridas que se realizarão durante o ano de 2020. As maiores feiras taurinas não se realizaram devido à pandemia provocada pela COVID-19.
“O ano em Espanha foi muito difícil, quase impossível. Por isso concentrei todos os meus esforços em desfrutar de poder lutar em Portugal e encerrar a campanha aparecendo noutra praça como a Azambuja e regressando ao templo da tauromaquia que é o Campo Pequeno, onde tourear é sempre uma verdadeira honra”, acrescentou.
Depois de lotação esgotada (dentro das limitações impostas pelas autoridades de saúde) nas três corridas de touros em que actuou em Portugal, questionámos Andrés se considerava que já tinha conquistado o público português.
Andrés disse-nos que “espero tanto quanto eles me conquistaram a mim”.
Explicou-nos que “Portugal tornou-se no centro da minha carreira nas últimas temporadas, graças ao trabalho do meu empresário António Nunes. Acho que já conheço bem os aficionados portugueses, com quem partilho a paixão e o respeito inegociável por tourear com pureza e verdade. Quando um toureiro vai a uma praça e a vê cheia, já se sente um pouco bem-sucedido, então não tenho como agradecer ao público o carinho com que estão respondendo a essas corridas que já toureei. Além disso, mostra que as pessoas têm ganas de ver touros”.
Andrés define o seu toureio como “apaixonado e, como já disse, na busca constante da pureza como condição essencial. Não vou gostar do dia em que conseguir triunfar mas sem conseguir fazer como desejo e como busco diariamente com o meu trabalho”.
“O que procuro é tourear bem porque é a forma mais segura de conquistar o triunfo. E também é verdade que, pelo meu jeito de ser, gosto de me conectar com as pessoas, transmitir-lhes e excitá-las, entregar-me e não deixar nada por dentro. Eu entendo a tauromaquia como um exercício de felicidade para mim e para o público”, acrescenta.
Sobre as suas referências, na tauromaquia, começou por nos dizer que “certa vez, ouvi dizer que o melhor aficionado é aquele que tem mais toureiros na cabeça” e portanto, “acho que o melhor rejoneador é aquele que é capaz de beber de mais fontes, daquelas de antes e de agora, de ver, compreender e absorver. Não copiar nada de ninguém, mas não parar de aprender e, por consequência, crescer”.
Destacou a “proximidade com Diego Ventura, que é meu amigo acima de tudo, mas também, meu professor. A pessoa que mais me ajudou e que mais me ensinou. Tenho uma relação muito especial com ele, nos conectamos e compartilhamos muitas horas de treinamento e conversa. É um luxo tê-lo por perto”.
Andrés Romero que deu também destaque a uma “relação especial, de admiração e carinho”, com Rui Fernandes. “Ambos temos em comum a amizade com Diego Ventura e isso nos permitiu compartilhar muitas experiências. Ele é um toureiro muito bom”, acrescentou.
A corrida de touros na Azambuja (bem como a do Campo Pequeno) será transmitida online a partir da plataforma Ticketline Live Stage, e nesse sentido perguntámos se a responsabilidade aumentava com a transmissão.
“Claro, é sempre uma vantagem. A televisão chega a todos os cantos e pode ajudar-me a ser recebido por aqueles aficionados portugueses que ainda não tiveram a oportunidade de me ver ao vivo na praça. É verdade que, uma vez na arena, esquecemos todo o ambiente e a lide de cada touro é o mais importante e só pensamos em triunfar. Mas se conseguir isso, a televisão terá um papel multiplicador fantástico”, explicou.
Já sobre a presença na mais importante praça de touros do país, o Campo Pequeno, assumiu que “o Campo Pequeno é um dos grandes cenários taurinos de todo o mundo. Como eu disse antes, um templo. Fazer ‘o passeíllo’ lá, viver e sentir sua liturgia é muito especial e emocionante. E, claro, também é um teste de alto nível para qualquer rejoneador. É como um exame médico. O público lisboeta é constituído por grandes aficionados e profissionais, o que aumenta muito o nível de exigência. Mas, bom, eu quero ser toureiro para estar em lugares como este e desafiar-me nas corridas mais importantes, então saber que volto ao Campo Pequeno, antes de mais nada, deixa-me muito feliz”.
Sobre a sua quadra de cavalos actual, definiu-a como “uma quadra muito completa e com a qual me identifico plenamente. É uma quadra que tenho procurado ter, depois de tantos anos de experiência, aquela que eu mesmo fiz, a que melhor se adequa ao meu conceito. Existem cavalos veteranos como o Jerjes ou o Guajiro, que é a estrela e sempre será, junto com outros ainda jovens, mas que já estão comigo há alguns anos e que se tornaram essenciais, como Kabul, Caimán, Fuente Rey, Chamán, Montes … E aos poucos vou acrescentando novos cavalos com os quais tenho trabalhado muito no campo. É o caso do Máximo, Beirão ou Golondrina, entre outros. A ambas as praças levarei os melhores, isso é seguro”.
Sobre as estrelas da sua quadra, falou no “Guajiro que está comigo quase desde o início e é um cavalo fundamental para mim. Deu-me muito. Com ele alcancei triunfos muito importantes. Ele é apaixonado e sincero, como eu. É um pouco o meu prolongamento. É um cavalo para as bandarilhas como o Kabul, Fuente Rey e Caimán, três cavalos que eu também fui treinando e que me dão muito ante todo o tipo de touros. Tornaram-se a espinha dorsal da minha quadra. E de saída tenho o Montes, um animal com uma classe excepcional e que me permite tourear muito devagar”.
O rejoneadoar deixou ainda uma mensagem dirigida a todos os nossos leitores: “Em primeiro lugar, envio-lhes os meus melhores votos de saúde. É o mais importante, ainda mais, em circunstâncias como as que estamos vivendo. E, além disso, agradeço o amor que vocês me mostram em praça. Se trabalho todos os dias, é com a ilusão de ser um toureiro melhor e dar o que tenho dentro de mim. Convido-vos a juntarem-se a nós na Azambuja e no Campo Pequeno para que, juntos, possamos assim dar mais um importante impulso à Tauromaquia em Portugal. Espero que sejam dois dias importantes, em que os touros invistam e possamos desfrutar muito e ser felizes”.
Recordamos aqui os cartéis de Azambuja e Campo Pequeno:
AZAMBUJA- 27 de Setembro
Rui Salvador, Andrés Romero e Luís Rouxinol Jr., frente a touros São Martinho. Pegam os forcados amadores de Tomar, Azambuja e Cascais.
CAMPO PEQUENO- 1 de Outubro
António Ribeiro Telles, Marcos Bastinhas, Duarte Pinto, Francisco Palha, o rejoneador Andrés Romero e Luís Rouxinol Jr., frente a touros da ganadaria Passanha. Pegam os forcados amadores de Lisboa e Ramos Grande.
Entrevista e Texto: Rui Lavrador
Fotografia: Diogo Nora.