O Porto abraçou esta sexta-feira o Fado, no primeiro dia da segunda edição do Caixa Ribeira. Da janela, no Hard Club, nas Escadarias e no interior da Igreja de São Francisco, na antiga Junta de Freguesia de São Nicolau ou no Palco Caixa localizado lado a lado com o Douro, o talento fadista contagiou o povo do norte que fez deste primeiro dia uma verdadeira festa.
De onde é o Fado? Esta é uma pergunta muitas vezes feita e o mesmo número de vezes com distintas respostas. Podemos apenas dizer que o fado é de quem o sentir. O Porto sente o fado. Provou-o neste primeiro dia de Caixa Ribeira 2016.
Milhares de pessoas andaram de palco em palco apreciando as vozes fadistas que dão corpo ao festival. O Infocul percorreu alguns dos palcos e acompanhou excertos dos concertos de Beatriz, Maria do Sameiro, Miguel Ramos, José Gonçalez, Gonçalo Salgueiro, António Zambujo, Maria da Fé e Ana Moura.
O Caixa Ribeira iniciou-se com o “Fado à Janela” eram 20:00, com Jorge Silva, Miguel Monteiro e José Manuel Rodrigues a receberem os aplausos de algumas dezenas de pessoas que apreciavam as guitarradas por eles interpretadas.
Na antiga Junta de Freguesia de São Nicolau actuou a jovem Beatriz acompanhada por José Manuel Neto, Carlos Manuel Proença e Daniel Pinto. Dona de uma voz bonita foi prejudicada pela acústica do espaço que demonstrou não ser a melhor. Correcta a sua interpretação de “Fado da Sina”.
Maria do Sameiro na Escadaria da Igreja de São Francisco demonstrou toda a sua força e alegria em palco tendo perante si um publico que a acarinhou e a acompanhou, ora com palmas ora cantando, nos seus temas. Com um alinhamento bem escolhido foi natural o crescendo de público que ao chegar era maravilhado com a sua voz. Terminou em bom nível a sua actuação com “O Fado é fixe”. Foi acompanhada neste espectáculo por Guilherme Banza, Bernardo Viana e Gustavo Roriz.
Das escadarias para o interior da Igreja de São Francisco fomos ver e ouvir José Gonçalez. Com uma carreira já longa é ciente da capacidade da sua voz e usa isso em seu beneficio. Acompanhado por excelentes instrumentistas, destacamos o tema “Tenho um cristo que subi” que conta com a letra da autoria de José Gonçalez. O público presente na igreja, talvez a metade da sua lotação, acarinhou o artista com aplausos após cada tema ou a cada solicitação do fadista, tendo ainda cantarolado em conjunto em partes do espectáculo.
Miguel Ramos actuou no Hard Club, sala 1, e apesar de correcto na interpretação dos temas em que pudemos usufruir da sua voz que modela a gosto, não teve uma grande adesão de público. Note-se a grande capacidade da sala. Uma actuação que deixou, dos temas que vimos, vontade de voltar a ver em breve.
Um dos melhores concertos da noite a que assistimos teve como responsável o fadista Gonçalo Salgueiro. Tem um incrível aparelho vocal, a sua voz permite-lhe tudo e usa isso a seu favor. Nas escadarias da Igreja de São Francisco disse que “sou aqui deste povo”, “amo o Porto” e entre os temas interpretados podemos destacar “Sombras da Madrugada”, “Amores esquecidos” ou “Nem às paredes confesso”. Com uma linguagem corporal sóbria, foi a sua voz que fez o público estremecer, aplaudir efusivamente cada tema, gritar “Lindo” ou “Ah fadista” num ambiente incrível. Nesta primeira noite Gonçalo Salgueiro esteve irrepreensível, brilhante. Mostrou que é das melhores vozes em Portugal.
No palco Caixa, António Zambujo subiu a palco já depois das 22:20 previstas, mas desde cedo agarrou o público. Comunicador nato, inteligente nas suas interpretações dos temas, Zambujo domina o palco como poucos. Interpretando alguns dos seus maiores sucessos terminou o concerto com o “Pica do 7”. Acompanharam-no em palco Bernardo Couto, José Miguel Conde, João Mário Costa e Ricardo Cruz. Perante um “cenário bonito” e agradecendo a “todos os que vieram” Zambujo sai naturalmente e sem grande dificuldade como um dos mais aplaudidos da noite.
Do Palco Caixa, voltámos a subir à Igreja de São Francisco, desta vez para ouvir Maria da Fé. “Estou na minha cidade, que amo, estou muito emocionada” começou por dizer. “Valeu a pena”, É daqui da minha terra”, Tudo isto é fado” ou “Lençóis de palha” foram alguns dos temas em que alma, a mística, a garra e o sentimento que a sua voz carrega, se fizeram sentir. Aplaudida efusivamente pelo público presente que ocupava grande parte da lotação do espaço.
Fechou o palco Caixa e também o primeiro dia de festival a fadista Ana Moura que ali apresentou o seu mais recente disco, “Moura”. Segura na voz aveludada, carinhosa para com o mar de gente que ali acorreu a assistir ao concerto, esteve em plano superior. Algumas das suas interpretações foram soberbas.
Abriu com “Moura encantada”, para depois nos fazer dançar ao som de “Meu amor foi para o Brasil”, continuando a desfiar “Moura” através de temas como “Fado dançado” da autoria do nortenho Miguel Araújo ou “Tens os olhos de Deus” do também nortenho Pedro Abrunhosa. O folclore teve também luar no seu alinhamento com “Valentim” ou “Bailinho à portuguesa”. Mas colocou muito a publico a dançar a sério com “Dia de Folga”. Após curto encore regressa a palco com “Loucura” e termina em grande festa com “Desfado”. Continua a ser a única Moura a encantar e a levar ao rubro as gentes do Porto. A destacar neste excelente concerto de encerramento do primeiro dia de Caixa Ribeira 2016 os músicos que a acompanharam: Ângelo Freire na guitarra portuguesa, Pedro Soares na guitarra clássica, André Moreira no baixo, Mário Costa na bateria e João Gomes nos teclados.
O Fado apaixonou o público do Porto, fazendo-o Porto andar de rua em rua, de espaço em espaço e até olhar para a janela. O mesmo público que terminou a primeira noite rendido a uma Moura, Ana Moura.
Rodeada de grande espectativa esta segunda edição, teve um primeiro dia de sucesso. O segundo promete ainda mais. “Onde actuará Gisela João?” foi a pergunta mais ouvida da noite. Dentro de algumas horas teremos a resposta.