Entre o fado e a rumba flamenca surge um dos mais interessantes projectos musicais em Portugal: Sangre Ibérico

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Os Sangre Ibérico são um dos grandes fenómenos na musica portuguesa revelados no ano de 2016. Surgiram no Got Talent na RTP e a partir dai têm trilhado o seu caminho entre o fado e a rumba flamenca. Já ninguém lhes fica indiferente e em entrevista ao Infocul abordam o percurso e algumas curiosidades no relacionamento com os fãs.

 

 

Os Sangre Ibérico são constituídos por Alexandre Pereira (Voz e Percussão, Cajón Flamenco), André Amaro (voz e guitarra) e Paulo Maia (guitarra) e deram-se a conhecer ao grande público no programa “Got Talent” da RTP 1. Desde daí são muitos os concertos que este grupo tem dado de norte a sul do país, mostrando uma interessante fusão entre a rumba flamenca e o fado. O poderio de uma voz, o suave dedilhar apoiados numa percussão servida de modo equilibrado são os ingredientes destes  três bons rapazes.

 

 

Composto por 3 jovens, com idades compreendidas entre os 21 e os 26 anos, os Sangre Ibérico estão servidos por músicos de excelência, possuindo um dos melhores guitarristas do género a tocar em Portugal, e uma voz única, numa mistura de rouquidão, sensibilidade, alma e timbre.

 

 

 

 

Quando é que nasceu este projecto?  

  

Alexandre Pereira- Nasceu a 4 de Julho de 2014 através de uma amizade que eu tinha com o André e mais tarde o Paulo integrou o projecto.   

  

  

Este projecto tem um grande boom quando participam no Got Talent. Quando se inscreveram no programa tiveram receio de ser apenas mais um grupo a passar por um programa ou achavam que aquele era mesmo o programa indicado para vos dar um impulso em termos mediáticos?  

  

AP- A ideia da nossa participação no programa foi do Paulo, que dizia “isto vai correr bem”, eu estava ali nos 50-50 e o André um pouco abaixo dos 50%…  

André Amaro- Eu achava que era apenas mais um programa e que iriamos ficar sempre colados ao programa e isso não era uma coisa que eu gostasse quando saísse de lá. Mas voltaríamos a fazer tudo outra vez.  

  

  

Olhando com algum distanciamento para o programa sentem que já não são os mesmos meninos que surpreenderam Portugal. Houve uma grande evolução…  

  

Paulo Maia- Houve uma grande evolução. Já nos vêem com outros olhos, já acreditam no nosso trabalho.  

  

  

Já não têm o rótulo como o grupo do programa…  

  

AA- Não. Já nos vêem como Sangre Ibérico.   

  

  

2016 foi o no em que se deram a conhecer ao público com espectáculos ao vivo. Participaram no Caixa Alfama… Qual a importância de terem participado neste festival?  

  

AA- Foi um dos concertos que mais prazer nos deu fazer pelo público, pelo sitio, pelo festival em si. Em termos de carreira, foi um concerto que despertou muita curiosidade, as pessoas estavam curiosas para nos ver porque ouviam falar de nós mas como não temos ainda nenhum trabalho em concreto, de como seria um concerto nosso pois só conheciam três temas nossos e sentimos isso claro.   

  

PM- Foi um concerto onde nos apresentámos com banda, o que foi também uma novidade para nós. 

 

 

Foi mais confortável para vocês ou uma pressão maior actuarem ao lado do vosso manager (José Gonçalez)? 

 

AA- Foi confortável, bastante confortável. Foi uma bengala, foi um apoio termos alguém mais experiente e isso deu conforto e acabou por ajudar-nos. 

 

 

Esse concerto que teve ainda uma surpresa chamada FF… 

 

AA- Sim nós tínhamos pensado em chamá-lo, ele tinha-nos comentado que iria lá estar e foi um prazer estar com ele

 

 

A seguir ao Caixa Alfama apresentaram o vosso primeiro single “Cavalgada” que conta com mais de 40 mil visualizações. Como está a correr esta vossa “cavalgada”? 

 

AP- Está a correr muito bem, temos tido uma boa reacção do público

 

O facto de apostarem num tema que não é um original vosso como é que o público reagiu? 

 

AA- Há certas pessoas que pensam que é nosso, porque é uma versão tão diferente do original que há pessoas que ouvem e não sabem identificar qual é a música.  

 

PM- Não é bem um cover. Acaba por ser mais uma versão de um tema

 

 

Esse single foi apresentado no Lounge D do Casino Estoril. Questiono como sentiram a vossa evolução e qual a comparação por exemplo com o concerto no Caixa Alfama. Houve mais ou menos pressão? 

 

PM- Tínhamos um pouco mais de pressão porque estávamos sozinhos em palco e ainda para mais no Casino Estoril.  

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Para 2017 sairá o primeiro disco. O que é que já podem desvendar? 

 

AA- Nada (risos). Vai sair no inicio do ano, vai ter aquilo que as pessoas estão à espera mas também algumas surpresas.  

 

 

Vão haver apenas versões ou também originais vossos? 

 

AA- Isso já não posso revelar (risos). O segredo vai permanecer. Mas sairá ainda no primeiro semestre. 

 

 

Quando se fala em Sangre Ibérico aborda-se a portugalidade e a fusão de sonoridades que fazem entre Portugal e Espanha. Se tivessem que caracterizar o vosso género musical como o fariam? 

 

PM, AP e AA- Sangre Ibérico. 

AA- Nós criámos uma sonoridade diferente que as pessoas não estão habituadas a ouvir e que tem influências no flamenco e no fado mas que não é uma coisa nem outra. Portanto dai dizermos que é uma sonoridade Sangre Ibérico. 

 

 

É uma sonoridade algures entre Lisboa e Madrid? 

 

AA- Sim. É uma sonoridade totalmente diferente do que as pessoas estão habituadas.  

 

 

Como tem sido o feedback de pessoas ligadas ao fado quando vocês pegam em fados em dão uma sonoridade de flamenco?  

 

AA- Já tivemos reacções e até agora têm sido boas porque nós não fazemos fado e as pessoas ligadas ao fado sabem isso, portanto não estamos de maneira nenhuma a agarrar no estilo e a prejudicá-lo ou a torna-lo diferente. Simplesmente não fazemos fado nem flamenco, portanto acaba por não chocar ninguém. Vêem como um novo estilo e não como uma revolução no fado ou no flamenco.  

 

 

Ao apresentarem este género conseguem não só abrir portas em Portugal mas também em Espanha. Quando criaram este projecto tiveram isso em mente ou foi apenas baseado nos vossos gostos? 

 

AA- Foi tudo natural e com base nos nossos gostos. São dois géneros que gostamos e que achávamos que combinavam

 

 

Um género que vem dos vossos gostos e até da vossa formação enquanto músicos. Quando nasce este gosto pela sonoridade espanhola? É que apesar de Portugal e Espanha terem um história de muitos anos ainda não tinha havido um grupo que juntasse o melhor da cultura destes dois países… 

 

PM- Em mim surgiu desde muito novo, onde havia uma grande comunidade de etnia cigana e fui ouvindo eles cantarem e tocarem e fui aprendendo com eles. Mais tarde fui para Barcelona.  

 

 

E sentes que ganhaste uma outra maturidade musical por teres estado em Barcelona? 

 

PM- Sim.

 

 

Alargou-te horizontes?

 

PM- Sim e deu-me mais conhecimentos.

 

 

E isso acaba por se reflectir na sonoridade dos Sangre Ibérico?

 

PM- Sim.

 

 

Para 2017 o que já podem revelar de espectáculos?

 

AA- Podemos revelar que já temos algumas datas marcadas, estão a fechar-se outras. Esperamos estar nos sítios importantes, teremos muito gosto, e esperamos também que as pessoas nos acompanhem e nos sigam na tour 2017. Que nos acompanhem tanto como na tour deste ano, algo que foi também uma surpresa para nós. Depois do programa, havia uma curiosidade que tinham , não sermos só os rapazes da televisão, não iam só à procura disso mas também da nossa música e isso para nós foi um objectivo alcançado. Quando entrámos no programa e eu tinha essa receio de quando acabasse ficarmos só como os rapazes que apareceram na televisão, e com o passar do tempo começámos a perceber que já não era isso e que as pessoas iam para ver e ouvir a nossa música.

 

 

Vocês têm tido um bom crescimento nas redes sociais e o vosso público atinge uma vasta faixa etária, quase dos 8 aos 80. Como é esta relação com os fãs?

 

AA- Para quem começou à pouco tempo como nós, ao inicio é um pouco estranho porque não estamos habituados a que tanta gente nos siga e que tanta gente queira saber de nós. A mensagem que recebemos quase todos os dias é “quando é que sai o cd?”, e ao inicio não estávamos habituados. Agora é óptimo ver que as pessoas reconhecem o nosso trabalho e que têm a preocupação em saber como estamos e o interesse em saber qual a próxima data. Em relação às idade é engraçado de ver. Ainda no outro dia recebemos uma mensagem engraçada a dizer “a minha filha de nove anos adora-vos e quer ir ver-vos”, logo a seguir recebemos de uma avó qualquer  a dizer que gosta muito de nós e isso acaba por ser muito engraçado.

 

AP- Já aconteceu crianças mandarem-nos mensagens e não apenas portuguesas e é óptimo.

 

 

Quais os países?

 

AA- Espanha e Brasil. Também recebemos das comunidades portuguesas a perguntar quando vamos aos sítios onde estão e isso é óptimo porque estão a reconhecer o nosso trabalho e porque gostam dele.

 

 

Quem são os Sangre Ibérico fora do palco?

 

AA- São três amigos que vivem mais tempo entre si do que com as respectivas famílias, e isso nota-se em palco. Passamos muito tempo juntos e isso torna qualquer relação mais forte.

 

AP- Estamos muito tempo juntos, pois almoçamos juntos, saímos juntos, vamos aqui e ali…

 

 

Com este mediatismo que ganharam e pelo facto de estarem a gravar um novo disco, quais foram as maiores diferenças e desafios nas vossas vidas pessoais?

 

AA- Quando encarámos este projecto como a nossa vida e actividade profissional, percebemos que teríamos que abdicar do nosso tempo a 100% e que teríamos que fazer alguns ajustes na nossa vida. Não significa deixar algumas coisas para trás mas sim deixá-las um pouco mais para a frente. Mudou um bocadinho os nossos horários e a nossa rotina mas nada que nos prejudicasse.

 

 Ainda conseguem andar na rua tranquilamente?

 

AA, AP e PM- Sim, sim.  (risos)

 

 

Qual foi a reacção mais estranha que já tiveram na rua?

 

AA- A minha foi quando um dia fui correr à tarde e uma senhora pára o carro na estrada, ao meu lado, eu pensava que a senhora me ia perguntar informações e ela questiona-me “olhe é dos Sangre Ibérico?” e eu respondi “sou”. A senhora saiu do carro e questionou-me “posso dar-lhe dois beijinhos?” e eu disse que sim. Deu-me dois beijinhos, perguntou-me onde eu iria estar, meteu-se no carro e foi embora. Foi estranho e caricato.

 

AP- Já aconteceu também uma estranha. Fomos os três a uma loja e o senhor dessa loja vem em direcção a nós e pensámos que vinha dizer-nos ou explicar-nos a promoção. Mas não. “Desde já bem-vindos. Deixem-me só informar que gostei muito da vossa prestação no Got Talent”…

 

AA- Depois há também muita gente que não nos vem falar mas em que sentimos e vemos que nos olham e isso para nós é muito bom e ao mesmo tempo ainda um bocadinho estranho.

 

 

Sentem que as pessoas ainda são muito envergonhadas ao abordar os seus ídolos na rua?

 

AA- Bastante. Às vezes não é bem o medo mas sim o facto de não quererem incomodar… Outra coisa engraçada é as pessoas mais novas que parecem ter receio…

 

 

Entretanto estão neste momento com uma das maiores editoras do mundo. Quando surgiu esta oportunidade e o que significa para vocês?

 

PM- Surgiu após o Got Talent e para nós foi um sonho assinar com uma das maiores editoras do mundo. É um sonho!

 

AA- Não estávamos à espera na altura e para nós foi um sonho saber do interesse da Sony Music.

 

 

Acreditaram logo ou ainda acharam que fosse uma brincadeira?

 

AA- Brincadeira não porque eles não brincam com isto (risos). Nós não estávamos mesmo à espera disto.

 

AP- O nosso objectivo com o programa era apenas mostrar o que somos e ter mais concertos…

 

AA- Não estávamos à espera que as pessoas fossem gostar tanto do nosso trabalho. E ao inicio isso não foi assustador mas foi estranho. Quando acabou o programa, as pessoas queriam ouvir-nos, gostavam de nós e conheciam-nos… Nós não fomos para o programa com nenhum objectivo traçado, só queríamos dar a conhecer o nosso trabalho. As coisas acabaram por acontecer tão naturalmente que para nós foi estranho. Tão natural e tão rápido…

 

 

Aproxima-se 2017. O que gostariam de dizer aos vossos seguidores?

 

PM- Queríamos agradecer o apoio, temos recebido muitos feedbacks. Dizer para continuarem a seguir o nosso trabalho, vem ai novidades.

 

AA- Sei que às vezes é difícil agradecer a toda a gente, à nossa “família ibérica”, mas às vezes é difícil. Até porque temos uma vida além das redes sociais, mas tentamos sempre responder a toda a gente. Mas queremos mesmo agradecer todo o apoio e incentivo porque quando abrimos a nossa página e vemos tantas mensagens é…o que qualquer artista gosta e é importante para o artista sentir isso. Nós não tocamos para nós, mas sim para as pessoas. E o mais importante é quando tocamos e as pessoas gostaram, emocionaram-se, sentiram-se bem…quando mandam mensagens a dizer que foram ver o concerto e adoraram. Esse é o nosso objectivo.

 

 

Qual é a sala dos vossos sonhos?

 

(risos)

 

AP- Há tantas… Mas eu pessoalmente, se surgir oportunidade de voltarmos ao Coliseu dos Recreios com um espectáculo nosso… Será o regressar a onde tudo começou.

 

 

Qual seria o artista, caso houvesse possibilidade, que cantasse convosco?

 

(risos)

 

AA- Ai já vai dos nossos gostos pessoais… É difícil escolher um apenas, há muitos com quem gostaríamos….

 

Em termos espanhois?

 

AA- Miguel Poveda, Diego El Cigala, Nina Pastor… Em Portugal com Ana Moura, António Zambujo…Mariza…seria por aí…

 

 

Classificando toda esta aventura que estão a viver numa única palavra qual seria?

 

AP, PM e AA- Excepcional.

Rui Lavrador

Iniciou em 2011 o seu percurso em comunicação social, tendo integrado vários projectos editoriais. Durante o seu percurso integrou projectos como Jornal Hardmúsica, LusoNotícias, Toureio.pt, ODigital.pt, entre outros Órgãos de Comunicação Social nacionais, na redacção de vários artigos. Entrevistou a grande maioria das personalidades mais importantes da vida social e cultural do país, destacando-se, também, na apreciação de vários espectáculos. Durante o seu percurso, deu a conhecer vários artistas, até então desconhecidos, ao grande público. Em 2015 criou e fundou o Infocul.pt, projecto no qual assume a direcção editorial.

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