
Miguel Ángel Perera, matador espanhol e figura mundial do toureio, será a presença de maior destaque da Feira Taurina da Moita 2020.
O matador espanhol, e também ganadeiro da sua recente ganadaria Alqueva, tem um estilo de toureio com um conceito clássico, baseado na quietude e na profundidade “ Gosto de saber a distância a que chega a investida do touro. Sentir inclusive que a investida se prolonga e que aprofundo o touro na sua bravura. Para eu conseguir isso, o temple é fundamental! O meu estilo de toureio requer levar o touro pegado à muleta desde o embroque até que o solto, o mais longe possível, para de novo o enganchar e assim ligar as tandas. Tento realizar este meu toureio, envolvido na maior naturalidade possível”
Perera considera ter adquirido esta naturalidade na sua forma de tourear ” com o passar dos anos, o ofício e com o conhecimento que fui adquirindo sobre os animais. “
Sobre Portugal, o reconhecido matador espanhol referiu-nos que “ Portugal é uma terra que considero muito próxima, começando por uma questão de proximidade. Desde a minha casa Los Cansaos, em Olivença, vejo a cada dia Portugal, pois apenas nos separa o Alqueva. Vou com frequência a Portugal, seja para tourear a campo ou para aproveitar o tempo livre junto de família e amigos, dos quais muitos são portugueses. Lembro-me sempre com carinho da entrega do público português e como sempre fui compreendido, respeitado e valorizado cada vez que toureei em Portugal”.
Mas o conhecimento sobre Portugal não se resume às experiências que tem vivido por aqui! Perera tem a noção da realidade do Toureio apeado português “ Portugal é o paraíso do toureio equestre, o que faz com que haja mais corridas a cavalo do que a pé e isto condiciona o aparecimento de novos toureiros a pé, que motivem e criem ilusão na afición!
Dos matadores portugueses, Miguel Ángel, confessa-nos que gostava muito do conceito de quietude e elegância de Pedrito de Portugal e da “raza de figura e o amor próprio do maestro Vitor Mendes”.
Sobre a sua vinda para tourear em Portugal não foram só os motivos da proximidade e gosto por Portugal, que o fizeram aceitar o convite da empresa Tauroleve. “Apetecia-me voltar a Portugal, depois de algum tempo sem tourear aí… e como este ano temos mais disponibilidade na agenda, juntaram-se às circunstâncias o facto de termos abertura na agenda profissional, para poder estar presente na Feira Taurina da Moita.”
Setembro é um mês muito forte em termos de número de corridas de touros em Espanha e França, com feiras importantes, uma seguidas às outras, o que tem impossibilitado Perera de tourear mais vezes em Portugal.
Com esta diminuição do número de corridas e “o interesse por parte da empresa e a vontade que esta nos demonstrou aliado ao facto de eu considerar que devo dar um apoio ao toureio apeado português, decidi aceitar vir tourear a Portugal e nada melhor que fazê-lo numa praça como a Moita e com a Feira tão bonita que tem!”
“Apesar de em Portugal predominar o Toureio Equestre, consta-me que o público português gosta de toureio apeado e que há bons aficionados ao toureio a pé, assim que tenho vontade de encontrar-me com eles”, referiu-nos o matador mostrando carinho ao aficionado do toureio apeado português.
O matador espanhol ainda não definiu o traje de ‘luces que irá usar, já que o decide sempre à última hora e por isso vai trazer vários, confessa-nos entre risos “ tenho sempre mais que uma opção, por isso decido sempre em cima da hora de vestir-me”
Quanto às expectativas para a corrida de abertura da Feira Taurina da Moita, Perera explica-nos que “gosto muito do cartel, porque sou aficionado ao toureio a cavalo, adoro a Praça de Touros da Moita e tenho uma vontade enorme de regressar a Portugal!”
Perera teve esta temporada muito reduzida comparada com as anteriores mas isso não o desmotivou “ Sinto que me encontro num momento especialmente doce, porque estou desfrutando plenamente da minha profissão! Apesar de estar a ter uma temporada curta, esta, está a ser uma temporada muito bonita! As tardes em que toureei em Huelva, Beziers e a última corrida que fiz em Mérida deixaram-me um sabor especial… Desfrutei de cada momento dessas três tardes e dos dias que as antecederam…Como Toureiro sinto-me bem e fresco e é esse ponto que um toureiro procura durante anos, que tem a ver com a maturidade e a serenidade… este factor influencia a maneira de estar na praça e de ‘cuajar‘ os touros. “
Durante a entrevista, o matador mostrou-se preocupado com os artistas e ganadeiros espanhóis, e pela forma como estão a ser tratados durante esta situação de saúde pública: “Estamos a viver um momento muito preocupante! A redução drástica da actividade taurina é um drama para as ganadarias que têm de mandar para o matadouro, uma boa parte das suas camadas deste ano! Há muitos toureiros parados em casa sem entrada de dinheiro, o que também é fatal para as quadrilhas e para as suas famílias! O governo espanhol tem mantido o sector taurino à margem das ajudas de carácter social, apesar de as conceder a outros âmbitos artísticos!”.
Questionado sobre o motivo dessa diferença, o matador considera que esta diferença está a acontecer por “pura ideologia e por desprezo à Tauromaquia e aos milhares de pessoas que vivem da Tauromaquia”
Em Espanha suspenderam-se várias corridas e poucas que se programaram devido às medidas de segurança extremas impostas pelo governo espanhol. Isto inviabilizou a realização das mesmas. “Muitas corridas foram suspensas quando, até ao dia de hoje, não foi registado nem um único foco de contágio de coronavírus numa praça de touros! Não têm em conta o importante aporte económico que damos à economia de Espanha, em forma de impostos e criação de riqueza nos lugares onde há touros. “
Ao matador, esta temporada extremamente condicionada também afectou: “ Este ano toureei muito menos do que podia ter toureado! Não é normal estarmos tanto tempo em casa sem tourear nestas alturas, porém preparo-me diariamente, como se esta fosse uma temporada normal, porque para mim, Tourear é imprescindível, seja no campo ou de salão!”
Dia 15 – 22:00 horas – Corrida Mista – Tradicional Corrida do Município
Cavaleiros: Luis Rouxinol e João Telles
Forcados: Amadores da Moita
Matador de Toiros: Miguel Ángel Perera
Ganadarias: David Ribeiro Telles (4 toiros para a lide a cavalo) e Ascensão Vaz (2 toiros para a lide a pé)
Entrevista e Texto: Sónia Batista
Coordenação e Edição: Rui Lavrador