Luís Vitorino sobre Al Mossassa: “Aqui podem apreciar três culturas distintas que se unem e que abriram caminho para as tradições portuguesas”

 

 

 

Luis Vitorino, presidente do município de Marvão, concedeu uma entrevista ao Infocul sobre Al Mossassa, que decorre entre 5 de 7 de Outubro nesta localidade.

 

 

Num regresso ao passado, a vila de Marvão recua até ao séc. IX para recordar as suas origens e o ambiente vivido na época, numa celebração cultural única. O Festival Al Mossassa (Festa da Fundação), que se realiza nos dias 5, 6 e 7 de outubro, pretende ser, sobretudo, uma homenagem a Ibn Marúan, figura ímpar e visionária, rebelde fundador de Marvão e da vizinha Badajoz (Espanha).

 

Durante três dias, a vila do Alto Alentejo é invadida por recriações históricas, espetáculos de música, dança, fogo, artes circenses, aves de rapina, serpentes, artesãos a trabalhar ao vivo, jogos medievais para crianças, mercadores, tabernas e muito mais. Com atividades e animação itinerante e de palco para todas as idades.

 

Entre toda a envolvência medieval e cultural, o “Mercado das 3 Culturas” apresenta cerca de 60 pontos de venda, onde será possível encontrar um vasto leque de produtos e objetos relacionados com as culturas islâmica, judaica e cristã. Com o objetivo de recriar o ambiente de um mercado típico da época, o “Mercado das 3 Culturas” vai estar situado na parte alta da vila de Marvão.

 

O presidente do município abordou a importância do evento, o retorno económico para a região e ainda a componente turística e a ligação a Espanha.

 

 

Para quem nunca veio, o que é o Al Mossassa?

O Festival Al Mossassa é a celebração da fundação da muy nobre e sempre leal vila de Marvão. É um festival que envolve três culturas de grande influência não só em Marvão, mas em todo o território português: islâmica, judaica e cristã. Durante três dias, a vila de Marvão recua no tempo para recordar e celebrar a sua fundação, onde as ruas se enchem de pessoas com trajes da época, onde vamos buscar a gastronomia da época e as bebidas, com música e animação de rua como se estivéssemos numa vila em pleno século IX. Vamos ter também um mercado das 3 culturas, onde podem adquirir produtos que remontam a séculos anteriores, e inúmeras actividades para toda a família. Este ano vamos ter a participação de músicos, bailarinas, malabaristas, manipuladores de fogo, aves de rapina, encantadores de serpentes e figuras características da época. Que vão levar Marvão e os seus visitantes numa viagem temporal à data da sua fundação e aos costumes de antigamente que são o nosso património histórico e cultural.

 

 

 

Quais as expectativas para este ano, e como tem sido a solidificação e crescimento do certame?

 

Trata-se de um festival com enorme simbolismo para Marvão e para a região. Além disso, realiza-se em parceria com Badajoz. O município tem vindo a investir na sua agenda cultural e queremos colocar, cada vez mais, Marvão no mapa dos eventos culturais que se realizam em Portugal, sempre de acordo com os nossos valores e com as nossas tradições. Esta edição fica também marcada pelo certificado de EcoEvento, o que acontece pela primeira vez.Temos vindo a notar um crescimento ao nível de visitantes nos eventos que realizamos, exemplo disso, é o Festival Internacional de Música de Marvão que este ano recebeu mais 1.500 visitantes que na edição anterior, e isso mostra que estamos no caminho certo. Este ano esperamos receber mais de 10 mil visitantes nos três dias de Al Mossassa.

 

 

 

Este é um dos eventos que marca a programação anual, em termos culturais, de Marvão?

Sim, sem dúvida. Por celebrarmos a nossa fundação e homenagearmos a figura que deu nome à nossa vila, é um evento carregado de simbolismo e tradição. Marvão tem muitos séculos de história e tradições que deve a Ibn Maruán. Para os marvanenses trata-se de um festival muito rico. Durante três dias notamos que os habitantes de Marvão puxam pelo seu patriotismo e se unem para levar a cabo um evento que é de todos nós. Tal como a Feira da Castanha, um produto certificado de origem marvanense, ou o próprio FIMM que se está a afirmar como um ex-libris de Marvão. Podemos mesmo dizer que o Festival Al Mossassa não é um festival qualquer, não é igual a nada que se realize no nosso país, pois é cravejado de história e mistura três culturas bem definidas, num cenário único.

 

 

 

Que impacto económico tem este evento?

É um evento muito importante para nós. Apesar de se realizar já depois do final do verão, permite que Marvão continue a ver as ruas cheias de animação. Sentimos esse impacto no recinto do evento, onde os visitantes aproveitam para degustar sabores de séculos passados e adquirir uma lembrança, mas também ao nível da ocupação hoteleira e da restauração em todo o concelho. Verificamos que as unidades hoteleiras do município estão praticamente lotadas nesta altura e isso mostra que o Al Mossassa desperta o interesse de quem nos visita. Além do afluente de público, temos também um enorme número de figurantes e artistas que vêm de fora para o festival.

 

 

 

Marvão actualmente dispõe de quantas camas para albergar quem o visita?

Actualmente, Marvão tem unidades hoteleiras com capacidade para receber mais de mil visitantes por noite. Estamos, neste momento, a projectar novas unidades hoteleiras, nomeadamente um hotel com maior capacidade pois notamos que falta um espaço que possa albergar grandes grupos. Esse será um projecto que poderá vir a ganhar forma nos próximos anos e que faz falta a Marvão, de modo a fixar a população e atrair novas formas de investimento para a região.

 

 

 

 

Qual o orçamento para este evento?

Este evento tem um orçamento adequado aos objetivos. O município vê este investimento envolvido na nossa aposta estratégica na cultura e no turismo, uma estratégia bem definida por nós e que tem vindo e vai continuar a dar frutos. Trata-se de um evento muito importante para Marvão e que atrai muitos turistas.

 

 

 

Há uma ligação entre Marvão e Badajoz. Essa ligação histórica acaba por ser reflectida neste evento. Espanha é um parceiro estratégico quer em termos programáticos quer em termos de promoção de Marvão?

Existe desde logo esta ligação com Badajoz pois partilhamos o mesmo fundador, o rebelde Ibn Maruán. O Festival Al Mossassa também se realiza em parceria, Badajoz realizou o certame neste fim de semana que passou, onde nós também estivemos presentes. Espanha é um parceiro muito importante, não só a nível cultural e turístico mas também a nível económico. Temos orgulho nas relações transfronteiriças que mantemos com os nossos vizinhos e temos realizado diversas parcerias com Badajoz, Valência de Alcântara, Cáceres, entre outros, às quais aliamos a presença em eventos e feiras do outro lado da fronteira. Como nós costumamos dizer, “é a fronteira que nos une”. Mantemos contacto durante todo o ano, partilhando as agendas culturais, promovendo a troca de experiências e partilhas entre Marvão e as localidades vizinhas. Temos sido também parceiros em diferentes projectos de investimento e, sempre que surgir uma boa oportunidade, estamos sempre dispostos a dialogar com os nossos vizinhos do outro lado da fronteira. Estas relações transfronteiriças perduram há séculos, sendo a Rota do Contrabando do Café um ótimo exemplo, que ainda hoje em dia é celebrado com um evento onde os ayuntamientos são parceiros importantes.

 

 

 

Como convida o público a vir ao festival?

O Festival Al Mossassa é um dos maiores festivais de influência islâmica, judaica e cristã que se realiza na Península Ibérica. Aqui podem apreciar três culturas distintas que se unem e que abriram caminho para as tradições portuguesas que tanto preservamos. Venham a Marvão, venham recuar no tempo connosco e viver uma experiência única, recuando até ao século IX e deixando-se levar pelas maravilhas dessa época. Além disso, é sempre um bom pretexto para (re)visitar Marvão, que é certamente uma das vilas mais bonitas de Portugal. Uma vila que fica no topo do mundo!

 

 

Qual a forma mais cómoda de chegar a Marvão?

Marvão fica no topo do mundo, é fácil vir cá ter. Diria que a melhor forma de chegar a Marvão é utilizar transporte próprio. Aproveitando a viagem pelo Alentejo para (re)descobrir os encantos desta bela região. Em alternativa, há expresso todos os dias que liga Lisboa a Marvão (Santo António das Areias).


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