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No 85º aniversário do Casino Estoril, Mariza foi a cereja no topo do bolo, embora o público não tivesse a capacidade de saborear tão peculiar iguaria.

 

 

Numa noite de glamour como é apanágio no Casino Estoril várias foram as personalidades conhecidas que ontem se deslocaram a um dos mais emblemáticos espaços culturais da grande Lisboa, e de Portugal.

 

 

De várias áreas, o desfile de personalidades foi extenso e havia como pontos de maior interesse a inauguração da exposição que celebra os 85 anos do Casino Estoril e o espectáculo de Mariza.

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No espectáculo de Mariza, há dois destaques: a extraordinária performance da artista e o alheamento do público do espectáculo. O público português teima em não valorizar os artistas nacionais e ontem estávamos perante a artista que actualmente é a maior representante viva de Portugal no panorama internacional, goste-se ou não do estilo.

 

 

Muito boa noite. Não acredito que essas são as palmas que têm para me receber. Eu quero uma boa salva de palmas” foram as palavras de Mariza após interpretar “Fado menor do Porto”, com o qual abriu o espectáculo. Esta sua reacção vem no seguimento dos tímidos aplausos com que o público a brindou.

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A fadista continuou o alinhamento pelo fado tradicional antes de ironicamente se dirigir ao público, elogiar os trajes de gala e que os mesmo eram incompatíveis com aplausos, acarinharem os artistas, cantarem e tudo o que engrandece os espectáculos. Referiu, e bem, que o maestro de um espectáculo é o público. Com um público caloroso e carinhoso, um espectáculo sai fortalecido até pela energia que o artista recebe. O inverso foi o que aconteceu ontem. Concerto frio, público pouco reactivo, pouco respeitador de quem em palco oferecia o que de melhor tinha, e era ( é) tanto…”Sem ti” foi dedicado por Mariza ao seu marido.

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Para este espectáculo preparado especificamente para o aniversário do Casino Estoril, Mariza reservou surpresas e convidados. O primeiro a subir a palco foi Miguel Gameiro para cantar em dueto com Mariza o tema “o Tempo não pára” (dedicado pela fadista ao seu filho). Miguel Gameiro que a seguir a acompanhado pelos músicos da fadista provocou a primeira reacção mais enérgica do público com “Lisboa Lisboa”, um dos temas mais emblemáticos dos Pólo Norte.

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Agora estou a fazer de apresentadora” foi o mote da fadista para chamar ao palco a segunda convidada, Fábia Rebordão, “uma amiga mas que tem um talento brutal”. Fábia que em palco não deixou créditos por mãos alheias, puxou pelo público (que continuou adormecido), mostrando o seu extraordinário aparelho vocal com duas irrepreensíveis interpretações, a solo, de “Vou dar de beber à dor” e Morri por hoje”.

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De regresso a palco, Mariza trouxe o “Melhor de mim”, um dos temas que maior sucesso está a fazer neste seu último disco, “Mundo”, um tema de Boss AC e Tiago Machado, que serviu de balanço para chamar a palco o terceiro convidado da noite. Boss AC interpretou em dueto com a fadista “Mantém-te firme”, numa fusão perfeita do fado com o hip-hop.

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Há um tema “que é obrigatório” nos concertos de Mariza. Um tema da autoria de Jorge Fernando e que aos primeiros acordes soltou aplausos na plateia, “Chuva”. Na antevisão a este tema recordou a importância de Jorge Fernando na sua carreira pois “se não fosse o Jorge a insistir comigo para fazer o meu primeiro disco provavelmente eu não estaria aqui”.

 

 

O quarto convidado é considerado o pai do rock em Portugal, Rui Veloso. Em dueto com a fadista presenteou-nos com “Não queiras saber de mim” e “Jura”.

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Mariza foi ao longo do espectáculo puxando pelo público e a verdade é que com muito esforço foi atingindo o seu objectivo embora sem nunca termos assistido a um verdadeiro clima de cumplicidade.

 

 

“Barco Negro” mostrou pela primeira vez o “coro” do Casino Estoril que brilhou em “Rosa Branca”, embora ao inicio não soubessem correctamente a letra confundindo-a. Mariza ensinou o público, fez ensaios, afinou as gargantas e atingiu o objectivo de colocar todos a cantar.

 

 

“Paixão” foi o tema que encerrou o espectáculo, pois o que se antevia como encore, serviu apenas para Mariza vir cantar os parabéns ao Casino Estoril.

 

 

A fadista que foi acompanhada em palco por um excelente quarteto de músicos que a cada concerto surpreendem sempre com o imensurável talento que transportam em si: Pedro Jóia na guitarra acústica, José Manuel Neto na guitarra portuguesa e Vicky Marques na bateria e percussão.

 

 

O público presente ontem no Casino Estoril era de classe média-alta e embora seja “chique” não aplaudir, um dia arriscamo-nos a não ter artistas nacionais de elevado valor a quererem actuar no nosso país. Seria interessante que o público entendesse que só valorizando o que é nosso, só acarinhando o muito talento nacional, podemos ter uma cultura mais forte. Isto não significa que não deva ser exigente, mas exigência não é indiferença…

Rui Lavrador

Iniciou em 2011 o seu percurso em comunicação social, tendo integrado vários projectos editoriais. Durante o seu percurso integrou projectos como Jornal Hardmúsica, LusoNotícias, Toureio.pt, ODigital.pt, entre outros Órgãos de Comunicação Social nacionais, na redacção de vários artigos. Entrevistou a grande maioria das personalidades mais importantes da vida social e cultural do país, destacando-se, também, na apreciação de vários espectáculos. Durante o seu percurso, deu a conhecer vários artistas, até então desconhecidos, ao grande público. Em 2015 criou e fundou o Infocul.pt, projecto no qual assume a direcção editorial.

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