Mesa de Frades: Maratona Fadista com diferentes gerações celebrou o 6ª aniversário da consagração da UNESCO!

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O Fado celebrou esta segunda-feira, 27 de Novembro, o 6º aniversário da Elevação a Património Imaterial da Humanidade, pela UNESCO. A mesma distinção foi atribuída ao Cante Alentejano em 2014.

 

 

Este ano, o Museu do Fado e a Mesa de Frades, em parceria, criaram uma maratona de 24 horas de fado, que teve início pelas 08:00 de segunda e prolongar-se-á até às 08:00 de terça-feira, dia 28 de Novembro.

 

 

Às 08:00 da manhã, o frio imperava mas já havia aventureiros ‘das fadistices’ à porta da renovada Mesa de Frades, que esteve em obras durante aproximadamente 11 meses.

 

 

Segundo registos fotográficos o fado é cantado nesta capela oitocentista há mais de 100 anos. Pedro de Castro lidera o projecto há doze. Por lá passaram, e continuam a passar, alguns dos nomes maiores do Fado. Agora, remodelada, destaca-se no interior, paredes repletas de azulejos do séc. XVIII, fotografias de vários momentos ali ocorridos e guitarras. São seis as que neste momento estão penduradas nas paredes. Não falta o disco de ouro de Ricardo Ribeiro, “Largo da Memória”.

 

 

Ao longo do dia foram passando vários nomes do Fado. Passaram e cantaram. Teresinha Landeiro, Carminho, Rodrigo Rebelo de Andrade, Teresa Siqueira, Sandra Correia, Ana Sofia Varela, Pedro Moutinho, Joana Almeida, Katia Guerreiro, Celeste Rodrigues, João Braga, entre outros.

 

 

Teresinha Landeiro cantou logo a abrir, e não defraudou. Enérgica e a mostrar que o Fado pode ser cantado a qualquer hora, desde que seja sentido. “É inédito para mim. Eu acho que nunca tinha cantado de manhã e é giro reabrir a casa onde eu pertenço há seis anos, oficialmente, faço parte há 10 e vê-la de novo aberta e poder abrir a casa é incrível e calhou-me a mim que sou a mais novinha cumprir esta missão. Foi muito bom” disse-nos. Mas antes de chegar à Mesa de Frades, “acordei pela manhã, umas horinhas antes para ir aquecendo no banho, a cantar a fazer uns exercícios e tal. Uma hora ao telefone para a voz não adormecer e daqui a um bocado acho que desmaio de tanto cansaço mas está tudo bem” acrescentou bem-disposta. Além da celebração da elevação do Fado, comemora-se também a elevação do Cante Alentejano a Património Imaterial da UNESCO, e Teresinha revelou que “é incrível. Eu adoro cante alentejano. Eu sou muito amiga do Buba Espinho, e  estou sempre a cravar para cantar uma musiquinha aqui e uma musiquinha ali e ele tem uma paciência santa para cantar porque eu adoro cante. Fado e cante são duas músicas que me dizem muito e fico muito contente que sejam património”. Desafiamos ainda Teresinha a revelar para quando um dueto com Buba, tendo a fadista dito que “fazia já amanhã! Se pudesse ser, fazia já amanhã. Gosto muito dele, admiro-o muito”.

 

 

 

Carminho é dos nomes mais sonantes da actualidade fadista e também passou pela Mesa de Frades, neste dia de celebração. “Esta é a minha casa. Posso chamar de minha casa. A verdade é que o Embuçado é que foi a casa que me viu crescer, que a minha mãe geria, tinha 11 anos. Alfama foi sempre o bairro que me acolheu e por onde eu andei e a uma dada altura, depois de ter passado por algumas casas de fado, poucas, o Helder Moutinho convidou-me a fazer parte do elenco da Mesa de Frades. Eu ainda andava na faculdade. E depois, mais tarde, o Pedro Castro, já tocava cá e mais tarde o Pedro Castro ficou com a Mesa de Frades e eu continuei cá. Eram vários dias por semana. Foi aqui que eu também aprendi muito, cresci muito, conheci muita gente. Não que tenha conhecido mas passei muitos anos, muitas horas com muita gente importante que me ensinou muito e é uma casa que representa aprendizagem, onde convivi muito com a Beatriz da Conceição, com a minha mãe, com a Celeste Rodrigues. Com muitos que estão por aí pelas paredes fotografados: o Carlos do Carmo, Camané, o Pedro de Castro, o André Ramos…as pessoas que me acompanhavam, os músicos. Eram noites… todas as semanas, duas vezes por semana. E é nas casas de fado como esta que realmente…era nessa altura, pelo menos, enquanto essas pessoas também eram vivas, que havia muita aprendizagem porque é preciso quem saiba de fado para inspirar e ensinar os mais novos e é preciso que os mais novos queiram aprender” começou por revelar. Acrescentou ainda que “já não existem muitas casas assim mas esta ainda é uma daquelas em que se aprende a linguagem e a tradição e também a liberdade do que é ser fadista”.

 

 

 

As casas de fado são a nossa escola. É quase como um lado materno. É como voltar a casa da mãe. Nós por mais pessoas que conheçamos ou por mais mundo que possamos ter, precisamos sempre de voltar à nossa família, à nossa casa. A Mesa de Frades é a minha casa”, vincou.

 

 

 

O anfitrião, Pedro de Castro, não teve mãos a medir por entre receber todos os qua ali se dirigiram, tocar, e dar entrevistas. Ao Infocul, a primeira entrevista do dia, revelou que “a ideia do dia foi porque nós já estamos há 11 meses para abrir e estávamos a escolher o dia certo e achamos que um dia importante como o da elevação do Fado a património coincide bem com o dia de reabertura da Mesa que é um sítio icónico de fados e que toda a comunidade fadista gosta. Portanto era juntar uma celebração de fado a património com um sítio que também é considerado património desta cultura. Essa foi a primeira ideia. A outra ideia, mais fora, das 24 horas, é que eu pensei ‘Bem, já que tive 11 meses fechado vou tentar juntar tudo num concentrado de um dia de fado para tentar compensar os 11 meses fechado’. 24 horas são muito intensas”.

 

 

 

Ao longo de 24 horas juntou um “elenco que abarca várias gerações e que sempre foi muito característico desta casa, que é sempre muito transversal em relação aqueles que nos ensinaram esta cultura mas também motivar a geração que no fundo vai manter este património vivo. E isso não é nada estratégia. É simplesmente por uma questão de gosto pessoal. Eu gosto muito de ouvir os antigos mas também gosto muito desta geração nova que apareceu”.

 

 

 

Na renovada Mesa de Frades, Pedro de Castro revela que “fiz três ementas de três Chefs, que é a Rita Centeio, o Diogo Varela Silva e o Chef Vítor Claro. Obviamente que todos eles com currículos e percursos de cozinha distintos em que fazem três ementas fixas com inspiração completamente na base de produtos e em regiões de Portugal, que vai dos 50 aos 70€. Com tudo incluído: taxa de espectáculo, vinho, comida, entradas, prato principal, sobremesa. Está tudo incluído, café, tudo incluído. Não é um valor baixo, por outro lado, a casa continua a ser uma casa muito pequena, eu continuo a ter um elenco de luxo e isso tem que se pagar de alguma maneira. Custa dinheiro. E hoje em dia estamos muito apertados com impostos, com taxas de tudo o que é coisas (SPA’S e IGAC’S). É uma panóplia de coisas em que infelizmente isso vai sufocar quem paga. Infelizmente. O que é que nós temos aqui e… continuamos a poder após os jantares, poder vir  ouvir o fado, obviamente não vai poder ter lugar para se sentar ou vão ter lugar para se sentar mais tarde. Mas temos sem taxa de espectáculo poder ouvir fado mais tarde. Obviamente que perdem uma fatia grande do espectáculo no início da noite mas é a possibilidade de se poder continuar a fazer fado acessível, que é uma coisa que eu acho que é muito importante nomeadamente para as camadas mais jovens que não tem a mesma capacidade de compra”. Isto a partir das 23:00.

 

 

Katia Guerreiro não faltou à festa e também veio à Mesa de Frades cantar, e encantar. Com “Asas”. Em conversa com o Infocul, revelou que “estive muitos anos sem frequentar casas de fado até porque a minha vida não permitia. Não podia dar ao luxo de andar na noite e no dia a seguir de manhã ir trabalhar no hospital. Quando comecei a andar mais nas lides de fado, foi para aqui que eu vim, e afeiçoei-me a esta casa, além de me ter afeiçoado ao Pedro, naturalmente”. Antes de falar sobre a dinâmica que Pedro de Castro imprimiu a este espaço e até a forma como fado aqui é sentido.

 

 

 

Este galardão serviu mais para que o povo português encarasse o Fado como um ícone natural e referência cultural. Até mais do que para os estrangeiros. Os estrangeiros sempre gostaram de fado, aliás os estrangeiros são responsáveis pela projecção do fado hoje em dia. A minha carreira começa porque no estrangeiro criam novos fadistas, e não aqui. Passados dez anos de nós andarmos a calcorrear o mundo inteiro, já eu tinha cantado no Japão, China e por aí fora, começa a haver um sururu cá em Portugal com o fado e que culmina com este galardão”, acrescentou ainda quando questionada sobre o que tinha melhorado e piorado neste seis anos.

 

 

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