O Salão Preto e Prata do Casino Estoril esgotou, esta quarta-feira, para a apresentação do novo disco, “Improvável”, de José Gonçalez.
Num espectáculo com aproximadamente duas horas de duração, assistiu-se a um desfile de convidados, tal como acontece no disco, e ainda a algumas surpresas, com duetos entre Gonçalez e artistas que foram importantes na sua vida/carreira.
Num espectáculo cuja base são duetos pode ser difícil manter um ritmo de espectáculo aceitável ou um fio condutor que prenda o espectador. Mas José Gonçalez conseguiu-o. Esteve quase perfeito na interacção com o público (falou de/e nos momentos certos) e permitiu que os convidados brilhassem.
Júlio Resende e Ângelo Freire abriram brilhantemente o espectáculo com “Estranha Forma de Vida” ao qual se juntou o anfitrião da noite, que fez depois questão de dizer que este disco é dedicado ao seu pai (que faleceu quando José Gonçalez era criança) e que o concerto sendo dedicado a todos os que ali estavam, tinha uma dedicatória especial para a sua mãe.
“Tenho tanta pena…Pai!” foi cantado com particular emoção ao mesmo tempo que começou a mostrar o melhor de José Gonçalez que foi subindo a qualidade da sua interpretação ao longo do espectáculo.
E se na critica que escrevi ao disco tinha destacado dois temas menos bons na interpretação dos convidados, ontem José Cid esteve muito bem no dueto com José Gonçalez em “A luz do teu sorriso”. José Geadas foi o primeiro convidado surpresa da noite e uma das mais arrebatadoras actuações em “Trago o Alentejo na voz” de José Luís Gordo.
Mas havia mais convidados surpresa, todos eles sentados na plateia e também apanhados de surpresa: Silvino Sardo, António Pinto Basto, Rodrigo, Toy ou Nuno da Câmara Pereira.
Continuando a viagem pelo “Improvável”, destaca-se Gonçalo Salgueiro, brilhante na interpretação de “Caminho” demonstrando que é das melhores vozes nacionais, FF brilhou em “Cantar é celebrar a poesia!”, Jorge Fernando provou 40 anos de sucessos no dueto de “Meu Amigo” e Fábia Rebordão esteve sublime em “Uma ponta d’ilusão”, que no disco conta com Cuca Roseta, que ontem não marcou presença no Casino Estoril.
“A vizinha da Frente” trouxe um dueto entre Gonçalez e Miguel Ramos antes da continuação da viagem pelo “Improvável” com uma soberba interpretação de Maria da Fé em “Por magia, ou por Encanto”, os aromas e vibrações do Alentejo com Vitorino em “Alentejo-Um Ar de Festa”, o poder vocal de Filipa Cardoso em “Culpas Par’as Desculpas!” com direito a dança entre Filipa e José Gonçalez, antes dos Sangre Ibérico mostrarem porque “É sempre assim…entre vinho tinto e gin”, uma história de paixões.
Numa noite de emoções e particulares agradecimentos de José Gonçalez, havia ainda uma surpresa maior… José Gonçalez criou um projecto solidário a favor do combate ao Cancro Infantil e escolheu Ana Moura para embaixadora desta missão. Ana Moura e José Gonçalez que, em dueto, fecharam o concerto com “Maldição”.
José Gonçalez é um letrista de excepção, principalmente quando aborda a temática do amor, mas é também um intérprete de verdade, não há nada cantado que não seja sentido. Poder-se-á gostar ou não do timbre, mas isso é a liberdade de gosto e de opinião de cada um. Seria interessante uma digressão de José Gonçalez a solo e percorrendo o país de lés-a-lés, para que todos pudessem valorizar e apreciar o seu lado criativo.
Neste espectáculo menção obrigatório para os músicos que estiveram em plano superior, quase perfeitos: Ângelo Freire na guitarra portuguesa, Edu Miranda no bandolim, Miguel Ramos na viola de fado, Francisco Gaspar no baixo, Máximo Ciuro no baixo, David Jerónimo na bateria, Rafa Zamorano na bateria e Dinho Zamorano no cavaquinho.