O Casino Estoril acolheu ontem a estreia de “O Musical da Minha Vida” de Filipe La Féria no Salão Preto e Prata que acolheu um número de pessoas superior ao limite da sua lotação.
Com a “elite”, como definiu La Féria, presente na plateia “O Musical da Minha Vida” é uma viagem pelas memórias de La Féria, desde a sua infância em Vila Nova de São Bento até aos dias de hoje.
Com um orçamento de um milhão de euros, como revelou o encenador na conferência de imprensa de apresentação do musical e voltou ontem a frisar em entrevista ao Infocul, esperava-se um espectáculo grandioso, com uma história bem construída. Mas não, é apenas um espectáculo razoável, com bons actores, um excelente corpo de bailarinos, uma boa orquestra, mas uma história que tendo a assinatura de La Féria é fraca.
Comecemos pelo Alentejo. La Féria recorda o facto de o seu pai ter oferecido uma máquina de projecção de filmes a sua mãe, numa altura em que num improvisado cinema na Aldeia Nova de São Bento, havia um balcão para os ricos e a plateia para os pobres. O povo alentejano, nas palavras do encenador, sonhava então com a chegadas das estrelas ao Alentejo.
Entre os filmes mais apreciados pelo povo estavam os westerns que também gostava do tango na voz de Carlos Gardel. Da autoria de Fred Astaire e Ginger Rogers, as obras emocionavam, e os filmes em espanhol não precisavam de legendas, pois todos os entendiam. Pena que La Féria se tenha esquecido do Cante Alentejano. Questionámos o encenador da ausência do cante, tendo La Féria dito que “acho que está muito deja vu, eu sou muito apaixonado pelo cante, mas veja que a musica que acompanha a minha narração, é o cante alentejano noutra forma, embora tocado é o cante alentejano”. No espectáculo qualquer semelhança entre o cante e a música que acompanha a narrativa é coincidência.
Faz ainda uma referência às romarias à feira de Sevilha em que conta com uma interpretação muito boa, mas com uma coreografia pouco “flamenquista”.
Neste musical ficamos ainda a saber que o primeiro espectáculo que La Féria assistiu foi com Maria Callas no Teatro São Carlos, levado pela sua avó, e que a primeira peça de teatro a que assistiu foi com Laura Alves e intitulava-se “Fera Amansada”.
As suas viagens são também abordadas neste musical. Começa por Paris, para onde viajou depois de ter dito à sua mãe que ia para um casamento, onde coloca imagens dos atentados ali ocorridos recentemente. Sendo um musical de sequencia cronológica não faz sentido as imagens de homenagem à vitimas dos atentados. Seguindo para Londres, consegue um dos números mais divertidos do musical, com parte do elenco masculino numa boa interpretação junto das típicas cabines telefónicas de Londres.
Chegados a Nova Iorque, onde La Féria foi à Broadway assim que chegou a solo norte-americano, e de lá apresenta alguns números representativos de musicais como Chicago, Carrusel, Wicked ou Aladino.
Termina afirmando que necessitaria de 200 anos para cumprir todos os seus sonhos.
O musical tem uma cenografia agradável e adequada, vídeos que dão força à representação dos actores e algumas interpretações que se destacam como Alexandra, Rúben Madureira, Sissi Martins ou Catarina Mouro, uma soprano com uma voz extraordinária.
No final da estreia e no discurso que proferiu no palco criticou a “elite” ali presente por maltratar os actores e pouco apoiarem o teatro, recordou que lavou casas de banho e serviu cafés em Londres (nem uma referência a isso no musical), e elogiou a sua equipa, os seus actores e todos os que o apoiaram nesta aventura.
“O Musical da Minha Vida” estará em exibição de Quinta-Feira a Domingo no Salão Preto e Prata do Casino Estoril. Quintas e Sextas-Feiras às 21:30, Sábados às 17:00 e às 21:30 e Domingos às 17:00.