
O Coliseu dos Recreios recebeu, na noite de quinta-feira, a apresentação do mais recente disco de Pedro Abrunhosa, ‘Espiritual’.
A primeira parte esteve a cargo de Paulo Praça. O músico, de inegável valia e percurso distinto no panorama nacional, apresentou o seu mais recente disco ‘Um lugar pra Ficar’.
‘Boa noite Lisboa. Eu sou Paulo Praça. É um prazer e um privilégio tocar nesta sala‘, disse. Do alinhamento que trouxe ao Coliseu, destacam-se ‘Sabes Mãe’, ‘Arquitectura da Ecologia’, ‘Gaivota’, ‘Diz A Verdade’, sem esquecer ainda referências que fez a nomes como Amália ou Valter Hugo Mãe.
Pedro Abrunhosa teve nesta quinta-feira a data extra no Coliseu, após rapidamente os bilhetes terem esgotado para o espectáculo de dia 8 de Novembro, hoje.
Ambiente intimista, sala a pouca luz e Pedro Abrunhosa entrando sozinho em palco. Com indumentária mais formal, dirigiu-se ao piano e apenas com um foco de luz e uma lâmpada dando ideia de vela, começou aquela que foi uma das noites mais intensas dos seus últimos espectáculos.
E foi ao piano, perante o público, que ‘Momento’ e ‘AM.O.R’ foram interpretados com a intensidade, sobriedade e valorização da palavra, que Pedro imprime à sua arte.
Uma cortina branca ocupava todo o palco e nela eram projectadas imagens e as letras das canções de Pedro Abrunhosa, a cortina que apenas subiu em ‘Vamos levantar voo’ e a partir desse momento a família musical de Pedro Abrunhosa estava ali, em redor dele. Os Comité Caviar são dos melhores suportes musicais para qualquer artista. Felizmente, para o público, as almas deles e a de Abrunhosa respiram as mesmas ideias e transformam cada concerto em algo de extraordinário.
Antes da cortina subir, momentos intensos com Pedro Abrunhosa a recordar o caso de Gisberta, a transexual que acabou morta na rua, e João Manuel Serra, conhecido de todos nós como ‘O Senhor do Adeus’ que acenava, a quem ali passava, no Saldanha.
E foi já com banda (ou parte dela), mantendo a cortina, que fomos ouvindo ‘Será’, ‘Balada da Gisberta’, ‘Senhor do Adeus’, com Pedro Abrunhosa a explicar que este era, e foi, um espectáculo diferente. Esta noite percorreu os seus discos, os temas mais destacados, mas sobretudo apostou numa vertente visual de conforto, aconchego, proximidade para com o público.
Foi uma noite em que Pedro Abrunhosa esteve muitas vezes de postura firme, com as mãos atrás das costas. Um sinal para com o público, de reverência e respeito, ao mesmo tempo que transmitia confiança.
As palavras escritas e cantadas por Pedro Abrunhosa não são simples palavras. São a força maior das emoções e das mensagens que ele pretende transmitir. A música de Abrunhosa não percorre caminhos fáceis para sucesso imediato. Tornam-se sucesso porque as palavras despidas de estigmas ou estereótipos não são clichés. São a sua alma, a sua mente e o seu coração a descreverem o universo.
Mais do que divertir, Pedro quis colocar o público a sentir. E Conseguiu-o! Um público distinto de idades, mas com a vontade comum de soltar amarras, ao coração e à mente, e deixar-se guiar pelas melodias galvanizadoras que acompanham a escrita de Abrunhosa.
Abordou a violência doméstica com ‘Dizes que gostas de mim’, abriu as portas do seu coração para falar sobre os seus pais, e a morte da sua mãe em particular, com ‘Pode Acontecer’ (no final do tema, surgiu a imagem dos seus pais em palco), e, antes que a emoção o dominasse, lembrou que “construímos muros quando temos medo do vizinho ou do cão do vizinho. Construímos com a ilusão de nos proteger do vizinho ou do cão do vizinho. Somos mesmo estúpidos”, antecedendo assim ‘Amor em tempo de muros’.
Por entre a intensidade poética e visual do espectáculo, Pedro foi, inteligentemente, demonstrando o seu lado mais divertido com a elegância que o caracteriza.
A sua cidade, Porto, mereceu destaque e Lisboa mereceu uma declaração de amor ‘Eu amo esta cidade’. Mas antes foi tempo para submergir em ‘Se eu fosse um dia o teu olhar’ e ‘Não desistas de Mim’, antes do ‘duelo’ Norte-Sul com ‘Vem ter comigo aos Aliados’ e ‘Rei do Bairro Alto’, não sem antes Abrunhosa mostrar o seu lado funk em ‘É preciso ter calma’.
Esta foi a noite para ‘Fazer o que ainda não foi feito’, transformar o ‘Ilumina-me ‘ em oração e aplaudir Abrunhosa, ‘obrigando-o’ a encore.
Em palco esteve acompanhado por Patrícia Antunes e Patrícia Silveira nas vozes; António Cassaro e Bruno Macedo nas Guitarras; Pedro Martins na bateria; Paulo, Rui Pedro e Daniel Dias nos sopros; Miguel Barros no baixo; Paulo Praça; e Cláudio Souto nas teclas e direcção musical dos Comité Caviar.
Pedro fez do Coliseu dos Recreios a sua casa, abriu-nos a porta e deixou-nos entrar num mundo que ele criou. Um mundo criado para os outros, porque a Arte de Abrunhosa não tem barreiras, não cria muros, mas ergue pontes e o destino é sempre o Amor!
Nota: O Infocul agradece à Sons em Trânsito e à Livecom as facilidades concedidas.