O projecto “Cante nas Escolas” tem por objectivo “despertar o gosto pelo Cante, valorizar e divulgar a cultura e as tradições do Alentejo e sobretudo motivar as novas gerações para a preservação da música tradicional são o seu principal objectivo. Pretendem formar-se não só vozes para o Cante mas também novos públicos para aquele que é o ex-líbris da região”.
O Infocul falou com Pedro Mestre, aquando da apresentação do Festival Terras sem Sombra, sobre este projecto e o modo como tem decorrido. O músico, compositor, produtor, ensaiador e também professor, falou com orgulho do projecto e da aceitação que teve por parte das crianças.
“Eu começo em 2006 quando no primeiro ciclo se iniciam as actividades extracurriculares, chamados AEC’S, que foi uma oportunidade dada para a possibilidade de se leccionar uma música que na verdade é nossa e que às tantas faz todo o sentido que seja no primeiro ciclo e então, através desse programa das actividades de enriquecimento curricular eu propus leccionar no horário de música mas uma música dedicada ao Alentejo e comecei dessa forma em que pretendíamos não só formar cantadores mas formar público, sensibilizar as crianças para esta música e para as nossas tradições. Porque à volta do cante está ligado tudo aquilo que acontece: actividades cíclicas, trabalhos do campo, a religião e tudo e mais alguma coisa que envolve o Alentejo. O cante está ligado e então dessa forma acabamos por leccionar não só cante. Os miúdos ficam de certo modo mais enriquecidos em termos de tradições, usos e costumes da sua terra natal de onde são originários. Assim, por vezes deparamo-nos com crianças que acabam por integrar corais dos adultos… Há 2 anos atrás, crianças já adolescentes que acabam por tomar gosto, vício e integram grupos corais e eu já tenho alguns desses alunos a cantar comigo, o que é muito gratificante para um projecto que estava… iniciou numa fase de “será que vamos ter aceitação por parte das crianças?”. Pronto. Foi um projecto piloto durante uns meses e percebemos logo, poucos meses depois, que na verdade tinha tudo para acontecer com sucesso” começou por nos referir.
Só em Serpa, Pedro Mestre lecciona 14 turmas, acrescentando que “ estou a leccionar também em Castro Verde; está activo em Beja, se não estou em erro, em Vidigueira e Cuba e não sei se mais algum, eu penso que não… Há a intenção do concelho de Almada iniciar aulas de cante” revelando contudo que “já houve outros concelhos que tiveram projectos e depois acabaram por…”
“Provavelmente umas 8 ou 9 mil crianças de todos estes concelhos pois estamos a falar de…cada agrupamento possa ter 600/700 crianças, Serpa tem 2 agrupamentos; Castro Verde também 400 crianças, por ai. Castro Verde tem uma particularidade existente também, o pré-escolar, o jardim de infância. Bem, não sei precisar em concreto mas sei que são muitos, muitos. Pelo menos umas 8 ou 9 milhares de crianças têm ou já tiveram o projecto “Cante nas Escolas” revela ao Infocul sobre o número de crianças abrangidas pelo projecto.
O disco do Rancho de Cantadores da Aldeia Nova de São Bento, do qual é ensaiador, atingiu o galardão de disco de ouro. Também este facto, dá a Pedro Mestre, motivos para celebrar. “É verdade. Parte também desse meu trabalho que é com os adultos e que é sem dúvida aquilo que fazia todo o sentido que acontecesse porque na verdade as participações no disco no qual os convidados do rancho o valorizaram, também por o rancho de cantadores ser o rancho que é, que desde muito cedo, mas mesmo muito cedo, quando digo muito cedo, falo de há 15 anos desta parte que se tem vindo a tornar um coral muito, eu quase que me arriscava a dizer profissional, que é um grupo que trabalha à séria a questão do cante e que na verdade, nos dias de hoje não era difícil atingir este patamar com um trabalho daquela natureza. É claro que o cante é muito mais para além daquilo, não é?! A realidade do cante genuíno está lá mas também está uma outra visão mais alargada”, refere visivelmente orgulhoso, antes de acrescentar “devemos tentar perceber e entender que é necessário estas várias laterais que o cante pode atingir”.
Março marca ainda o lançamento do DVD do seu concerto ao vivo no Centro Cultural de Belém, sendo que questionámos o músico para quando o regresso a uma sala da capital, algo que acontecerá “este ano ainda. Estamos a trabalhar nesse sentido. Lisboa ou arredores. Vamos estar em Oeiras, vamos estar em Almada, no Seixal e eu quero e penso que estamos a trabalhar nesse sentido, até Outubro de 2017 vai sair outro disco que já estamos a trabalhar nele e que possa voltar a uma grande sala de Lisboa com a viola campaniça, com o cante puro alentejano e com esta fusão de várias realidades culturais que temos no nosso país e todas elas são património imaterial da humanidade. É património nosso que somos portugueses e alentejanos, que o adoramos de certeza a absoluta e que havemos…há-de ser um outro sucesso como tem sido até aqui. Não só dos discos mas também dos palcos porque sem eles não faz sentido existir” remata.