O espectáculo ‘Pretérito Imperfeito’ estreou a 18 de Janeiro no espaço Anjos70, em Lisboa, onde esteve em cena durante dois dias. Segue-se o Grémio Dramático Povoense, Póvoa de Santa Iria, a 25 de Janeiro e depois uma temporada no Teatro Municipal Amélia Rey Colaço, com estreia vip a 7 de Fevereiro.
O espectáculo, com texto de Paulo Miguel Ferreira, conta com a interpretação de Isabel Guerreiro e Anna Eremin e a encenação a cargo de Sérgio Moura Afonso. A temática e o preconceito da homossexualidade são abordados. Recordar que este espectáculo já esteve em cena em Lisboa, na altura com outra encenação e com um elenco composto por Isabel Guerreiro e Raquel Tavares.
Encenação: Sérgio Moura Afonso
Sérgio Moura Afonso, encenador do espectáculo que agora sobe a palco, destaca que “o avanço tecnológico na minha opinião pouco ou nada veio contribuir para o desenvolvimento do ser humano. O excesso de veículos de informação permite o aparecimento de notícias falsas e sobretudo a falta de discernimento e filtro das pessoas, que optam por ver vídeos de gatinhos e reality shows desprezando alertas ambientais, sociais ou culturais” quando questionado se numa era digital, ainda existia o preconceito, acrescentando que a homossexualidade é “natural e ancestral. O debate é cíclico e depende dos grupos de interesse económico e político. Tal como com a maçonaria, o lobby gay formou-se para proteger os reais interesses da comunidade lgbt. Hoje em dia é muito poderoso e temido e por isso sempre que existe conflito de interesses os grupos usam o povo para de uma forma analfabeta e grosseira atacarem aquilo que não conhecem, usando chavões como “contra natura”, “anormalidade” entre outros rótulos. Não vemos as pessoas a insurgirem-se da mesma forma contra violadores, pedófilos ou por violência doméstica. Esses ficam na categoria do “prefiro não saber” enquanto os outros são os “anormais”.
Durante os ensaios destacou que o seu foco esteve “no trabalho das actrizes, tudo o resto é acessório. Percebemos se o espectáculo está bem construído quando conseguimos descarnar de tudo o que o envolve e conseguimos ainda assim apreciar o trabalho das actrizes. Quando existe esse reconhecimento, o meu e o trabalho delas está concluído. Claro que existe uma linha dramaturgica estabelecida por mim e da qual não pude nunca desligar. Assim como a estética do espectáculo. É o conjunto de todos estes elementos que constituem a beleza do “Pretérito Imperfeito”.
Anna Eremin: “Amor. Muito Amor”
Anna Eremin começa por nos dizer que o maior desafio, para si, foi “encontrar a verdade numa proposta não-realista. O que parece ser um diálogo, é na verdade um monólogo”. A estreia no Anjos70 correu “bem” mesmo tendo em conta que “é um espaço não convencional. Aconteceram muitos imprevistos, que eu adoro que aconteçam. Estamos aqui e agora e temos que aceitar o que acontece e jogar com isso”. Espera que o público que veja o espectáculo retenha “amor. Muito amor”
Isabel Guerreiro: “a homossexualidade é tão natural como a heterossexualidade”
Isabel Guerreiro, actriz que volta a levar este espectáculo a cena embora com elenco e encenação distintos, começa por nos dizer que “na realidade muda tudo. Quando convidei o Sérgio para encenar sabia que íamos montar um espectáculo diferente. Com outra visão. Eu inclusive mudei de personagem. Parece outro espectáculo. E agradeço ao Sérgio por lhe ter dado esta roupagem. Mostra bem o encenador magnífico que é”.
Para Isabel Guerreiro, “a homossexualidade é tão natural como a heterossexualidade. Tal como ser preto ou branco. Se lutamos contra a xenofobia também devemos lutar contra a homofobia”, destacando que o seu maior desafio, enquanto actriz, foi “mudar de personagem. Foi um processo diferente. E entrar noutra realidade com outra encenação, mas com as mesmas palavras”.
Para este espectáculo subir a palco, contou com uma campanha, bem sucedida, de crowdfunding, com Isabel a revelar que “este já foi o quarto espectáculo em que a produção recorreu a crowdfunding. Tivemos cerca de 80 apoiantes. Alguns anónimos, bastante generosos. Mas se todos os que recorremos e pedimos 1€ nos tivessem ajudado… teria sido mais fácil. Afinal estamos a falar de 1300€. E com isso fazer o milagre de pôr um espectáculo de pé!”
As próximas datas do espectáculo serão já “esta sexta dia 25 no Grémio Dramático Povoense. Depois dias 8, 9, 15 e 16 de Fevereiro no Teatro Municipal Amélia Rey Colaço. Dia 7 faremos uma estreia que reverterá para o colega António Cordeiro”.
A actriz deixa ainda uma reflexão, “o Teatro sem duvida é um dos parentes pobres da cultura. Aliás, olhando para o orçamento de estado… nem parente é!”.