O Auditório Municipal Augusto Cabrita, no Barreiro, acolheu este sábado, 15 de Outubro, um espectáculo de fado com Raquel Tavares. Lotação esgotada e o público rendido a um furacão em palco.
“Raquel” é o nome do seu mais recente disco, mas a história e o amor de Raquel com o Fado tem muitos anos. É uma das mais talentosas e portentosas fadistas do panorama nacional e renova-se a cada espectáculo.
No Barreiro, tinha um auditório completamente esgotado à sua espera. Aos primeiros acordes da viola de fado de Bernardo Viana, ouve-se de seguida a voz de Raquel Tavares que interpreta integralmente o primeiro tema sem ainda dar entrada no palco. Os aplausos no final desta introdução são esclarecedores: o público estava entregue à voz de Raquel. “Eu já não sei” é interpretado com alma e o cunho pessoal de Raquel Tavares que entretanto surgiu em palco para se juntar aos seus músicos: André Dias na guitarra portuguesa, Bernardo Viana na viola de fado e Tiago Maia no baixo. A viagem pelo fado continuou com “Sombras da madrugada”.
Na primeira interacção com o público cumprimentou-o e falou da sua ligação ao Barreiro. Falou do seu padrinho no Fado, Jorge Fernando, brincou com o facto de ele ainda não ter ganho um Nobel da Literatura (em função da atribuição deste prémio a Bob Dylan esta semana) e explicou um pouco do seu percurso e deste novo disco a quem pudesse desconhecer.
A fadista entrou então neste seu novo trabalho discográfico com os temas “Tradição”, “Não me esperes de volta” ou “Gostar de quem gosta de nós”. Antes de cada tema falou das participações que teve neste disco como Miguel Araújo, António Zambujo ou Tiago Bettencourt. O público foi envolvendo-se cada vez mais no espectáculo e trauteava cada refrão. Raquel Tavares soube conquistar o público e galvanizou-se ainda mais com a adesão do mesmo. Houve momentos de partilha absolutamente incríveis e de uma pureza comovente. “Limão” foi um tema suculento na voz de Raquel. O seu poderio vocal, a inteligência no ataque e prolongamento das notas musicais ou as alterações de registo de forma natural efectuados com elegância não estão ao alcance de muitos. Mas de Raquel Tavares, e porque este é o quarto espectáculo inserido na digressão do seu novo disco que acompanhamos, afirmamos que o céu é o limite para a quem muitos consideram “A Princesa do Fado”.
Recordou a sua grande referência e a quem dedica todos os concertos deste novo disco, Beatriz da Conceição. Interpretou “Meu Corpo” uma ads criações de “Bia” como era carinhosamente tratada pelos mais próximos, com letra de Ary dos Santos e música de Fernando Tordo.
A habitual guitarrada contou com André Dias e Bernardo Viana a mostrarem virtuosismo e assinalável maturidade para a idade que têm: 20 e 18 anos respectivamente.
Raquel Tavares regressou a palco com “Regras da Sensatez” de Rui Veloso em que foi apenas acompanhada por Bernardo Viana. Um momento musical absolutamente bem conseguido, a cumplicidade entre ambos é de um magnetismo incrível e o público sente-o.
No espectáculo que apresentou no Barreiro a fadista criou pequenas microdinâmicas entre o fado musicado, fado tradicional e o fado canção. Estas pequenas dinâmicas que proporcionam no geral uma grande dinâmica resultando num espectáculo de qualidade superior e que agrada ao público, seja ele mais ou menos conhecedor de fado. Em palco contou ainda com Fred Ferreira na percussão em alguns temas.
De regresso ao fado puro e duro, como referiu, ouvimos temas como “Nem às paredes confesso”, “Deste-me um beijo e vivi” ou “Senhora do Livramento”, permitindo-nos recordar nomes como Beatriz da Conceição, Fernando Maurício ou Maria da Fé.
“Fui ao Baile”, “Meu amor de longe” ou “Rapaz da Camisola Verde” antecederam um curto encore, após o qual regressou a palco para cantando sem suporte de som, e acompanhada por viola e guitarra, recriou um ambiente de casa de fado. Momento alto do espectáculo com o público de pé a aplaudir efusivamente.
E em festa e com “Meu amor de Longe” terminou a passagem de Raquel Tavares pelo Barreiro. Raquel Tavares está em conquista nacional e tem o mundo à sua espera. E o mundo receberá Raquel de braços abertos.