Rui Tanoeiro apresenta o primeiro disco: “A ideia foi principalmente apresentar algo de diferente e que tivesse a minha identidade”

Fado’ é o primeiro e recente disco de Rui Tanoiro. O fadista chamusquense acaba de lançar o seu primeiro trabalho discográfico, com produção de José Cid e Pedro Pinhal.

Conta com 11 faixas e 1 bónus track (dueto com José Cid, em ‘Fado do Senhor do Bonfim’). Em entrevista ao Infocul.pt, Rui Tanoeiro dá-se a conhecer e desvenda um pouco mais do disco.

Um trabalho no qual assina também três letras e no qual homenageia Chamusca, Ribatejo, Touros e todo uma panóplia histórica, através da música. O concerto de apresentação do disco é a 15 de Março, no Cineteatro da Chamusca.

 

Rui, há quanto tempo desejavas este disco?

Este disco é um sonho que desejava realizar há muito, mesmo antes de começar a cantar. O gosto pela música vem desde muito novo e o meu desejo sempre foi conseguir um dia alcançar este objectivo. 

Quanto tempo demorou toda a pré-produção e gravação do mesmo?

O início desde projecto foi em Outubro de 2018 aquando do lançamento do livro da grande poetisa Chamusquense Maria Manuel Cid. Em conversa com José Cid, expressei-lhe esta ambição e ele automaticamente prontificou-se a ajudar-me. Entrámos em estúdio em Março de 2019 e entre escolher repertório e realizar as gravações passaram sensivelmente 9 meses. Foi um processo moroso, tendo em conta a disponibilidade de agenda de todos os intervenientes no disco, principalmente a disponibilidade do Zé, que como deves calcular tem uma agenda sobre-lotada. 

 

Em termos de repertório, quais foram os maiores desafios?

“Amor, Coração do Ribatejo” um tema que conta com letra e música da minha autoria. Em termos de letra não, mas musicalmente foi uma estreia pois nunca tinha musicado nenhum tema para gravar e foi algo que me deu bastante orgulho.

Algum tema que lamentes não estar neste disco?

Não creio. Houve alguma indecisão na escolha dos temas, mas creio que foi bem efectuada. Claro que existirão sempre temas que me vão acompanhar nos espectáculos ao vivo que não estão presentes neste disco, mas a ideia foi principalmente apresentar algo de diferente e que tivesse a minha identidade. 

https://www.facebook.com/Tanoeirofado/videos/2413532522293082/?t=5

A produção esteve a cargo do Pedro Pinhal e do José Cid. Porquê estas escolhas e qual a importância deles no teu percurso?

Não lhe chamaria escolhas, foram duas pessoas que não escolhi mas que o destino, e ainda bem, se encarregou de colocar no meu caminho. Ambos meus conterrâneos, com o Pedro já tinha tido a oportunidade de realizar alguns projectos, nomeadamente o Fado Chic. Foi um grande projecto que veio trazer muito fado à Chamusca numa altura em que a mesma se encontrava praticamente deserta a nível cultural. Tem uma forma de tocar e de sentir o fado que eu admiro bastante e sinto-me muito bem a cantar com ele. Entendemos-nos muito bem musicalmente e conseguimos seguir sempre na mesma direcção, mesmo sem retirar a liberdade um ao outro. Relativamente ao Zé, como já referi anteriormente, surgiu no meu caminho em Outubro de 2018 e desde o primeiro instante que me incentivou e apoiou neste projecto, é uma pessoa bastante criativa e com quem dá gosto trabalhar. Não existem palavras que possam quantificar o orgulho que tive em trabalhar com ele… Afinal de contas é o José Cid e basta!  

Qual a grande marca deles neste disco?

O Pedro foi o viola presente em todos os temas do disco e assina a música do meu primeiro single, “Noites Frias”. O Zé cedeu-me um poema que gravei no fado dois tons de seu nome “Amar conforme a saudade” e um outro tema com letra e música dele: “Mulher”. Para além disso, todos os arranjos de teclados e acordeão foram realizados por ele. 

 

 

Quem foram os restantes músicos que te acompanharam no disco?

Para alem do Pedro e do Zé, tive Bruno Mira na guitarra portuguesa, Rui Santos na viola baixo, Samuel Henriques na percussão e Rui Ferreira no cavaquinho. 

Contas com um dueto com o José Cid. Uma responsabilidade ou um orgulho?

Diria que além de responsabilidade e orgulho foi uma surpresa! O dueto escolhido foi o “Fado do Senhor do Bonfim”. Um poema que me foi  apresentado pelo Zé, com letra de João José Samouco da Fonseca, e que decidi gravar no Fado Proença. Não contava com este dueto, mas quando estávamos a meio das gravações, da faixa, o Zé apenas me disse “vamos gravar este tema em dueto!”. A minha palavra foi apenas “Obrigado”. Foi uma proposta que não poderia recusar, como é lógico. 

 


Neste disco, assinas a letra de três temas. Sempre tiveste o gosto pela escrita? Quando surgiu?

O gosto pela escrita vem desde que comecei a cantar fado. Gosto de cantar poemas de outros autores mas também gosto de cantar da minha autoria. Consigo sentir melhor o que digo e sinto-me mais “eu”. Em 2013 consegui editar o meu primeiro livro de poesia a que dei o nome de “É este o meu fado”. Para além do título do livro dar nome também a um poema que já gravei, numa maqueta de 5 temas que acompanhavam o livro, o título significa isso mesmo, “o meu fado”.

Para quem não te conheça bem, peço-te que fales um pouco do teu percurso…

A primeira vez que cantei acompanhado à viola e à guitarra foi em 2006 numa das sessões de Fado Vadio que se realizaram nesse ano na Semana da Ascensão na Chamusca. Ainda nesse ano, participei num concurso de fado promovido pelo Café Central da Golegã. Entre 2006 e 2011 fui participando em algumas noites de fado aqui pela Chamusca e arredores. A partir de 2011, foi quando comecei a perceber que queria mesmo avançar no mundo do fado e decidi lutar mais pelo meu objectivo. Comecei a ter mais participações em noites de fado e iniciei a escrita dos meus poemas que deram lugar ao lançamento do livro em 2013. Ainda nesse ano, eu e um grupo de músicos aqui da região formámos um grupo musical de seu nome Bezourinhos del Ferdinand. Foi uma banda criada com o intuito de tocar apenas uma vez na Semana da Ascensão desse ano, numa altura em que a festa se encontrava sem verba e que apenas se realizava “meia semana”, nós decidimos criar esse grupo por forma a contribuir para a realização da mesma. Desde ai até aos dias de hoje os contratos foram surgindo e acabámos por nunca mais parar. Sou uma pessoa que gosta de desafios e em Dezembro de 2013 convido o Pedro Pinhal para juntos iniciarmos o Festival (na altura ainda sem nome) “Fado Chic”. Realizámos 3 edições com 4 espectáculos por ano entre 2014 e 2017. Até à data não tenho parado e felizmente vou tendo algum trabalho, mas como é lógico queremos sempre mais e espero que esse “mais” apareça com o lançamento desde álbum. 

Quando é que surgiu o gosto pelo Fado?

O gosto pelo Fado vem desde muito jovem. Nasci e cresci numa terra fadista, com inúmeros fadistas e com excelentes músicos. Era impossível crescer sem ter conhecido o fado. Desde cedo que gosto de fado e desde jovem que comecei a cantar em tertúlias de amigos aquando da realização de algumas patuscadas. 

 

És da Chamusca e neste disco tens um tema intitulado ‘Lisboa, Toiros e Fado’. Pergunto como analisas toda a polémica em redor da tauromaquia?

Creio que existe muita gente que ainda não entendeu a diferença entre o gostar e o estar contra. Eu posso não gostar de muita coisa mas daí até estar contra vai uma grande distância. Entre essas duas palavras surge a palavra respeito. Quando todos conseguirmos encontrar esse respeito, acabará toda a polémica em redor do que quer que seja. 

Além do Fado e dos touros, quais as tuas restantes paixões?

Gosto muito de viajar…não tanto quanto desejava [risos]

Profissionalmente fazes algo mais do que cantar?

Sim claro. nem poderia ser de outra forma. Sou funcionário público no Município da Chamusca.  

Qual a principal mensagem que pretendes passar com este disco?

Pretendo transmitir a minha forma de estar no fado, deixar a minha marca e que as pessoas se identifiquem com o meu projecto. 


Tens planos, em termos de carreira, para daqui a 10 anos? O que gostarias de estar a fazer nessa altura?

Daqui a 10 anos gostaria de estar ainda a cantar e quem sabe com outro disto… Confesso que sou mais saudosista que futurista. Gosto de viver um dia de cada vez. Prendo-me mais ao presente que ao futuro. 

Quem são as tuas referências no Fado?

Tenho várias, mas a que mais se destaca, entre tantas, é sem dúvida o Carlos do Carmo. Desde muito novo que sempre foi uma referência para mim. 

E na vida?

Na vida a minha referência são todos os que amo, a minha família e todos os que me retribuem da mesma forma. Fora isso aprecio todos todos aqueles para quem a humildade e a humanidade não tem preço. Ouvi o Ricardo Ribeiro há pouco tempo dizer uma citação que me ficou e ficará para sempre no pensamento que encaixa perfeitamente na minha ideologia de vida: “Não acontece ao homem aquilo que ele merece, mas sim tudo aquilo a que se assemelha”.

Qual a mensagem que deixas aos nossos leitores?

Primeiro que tudo deixo um obrigado por terem lido a entrevista até ao final e em segundo deixo um convite a estarem presente no próximo dia 15 de Março no cineteatro da Chamusca pelas 17:00 para o lançamento do meu trabalho discográfico. Não se atrasem nas reservas que os lugares disponíveis já estão na recta final! [sorri]

Rui Lavrador

Iniciou em 2011 o seu percurso em comunicação social, tendo integrado vários projectos editoriais. Durante o seu percurso integrou projectos como Jornal Hardmúsica, LusoNotícias, Toureio.pt, ODigital.pt, entre outros Órgãos de Comunicação Social nacionais, na redacção de vários artigos. Entrevistou a grande maioria das personalidades mais importantes da vida social e cultural do país, destacando-se, também, na apreciação de vários espectáculos. Durante o seu percurso, deu a conhecer vários artistas, até então desconhecidos, ao grande público. Em 2015 criou e fundou o Infocul.pt, projecto no qual assume a direcção editorial.

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