O Largo de São Carlos (do Carmo), em Lisboa, foi esta sexta-feira, 9 de Setembro, para acolher uma multidão que quis ver e ouvir um dos nomes maiores do Fado, Carlos do Carmo.
Inserido no ciclo, “Sou do Fado”, do programa Lisboa na Rua promovido pela EGEAC, Carlos do Carmo mostrou do alto dos seus 76 anos que a antiguidade, mas acima de tudo a qualidade continua e será sempre um posto.
Aclamado pela multidão mal subiu a palco, Carlos do Carmo consegui aumentar ainda mais o êxtase do público com uma actuação irrepreensível. Esteve brilhantemente acompanhado por três ases: José Manuel Neto na guitarra portuguesa, Carlos Manuel Proença na viola de fado e Daniel Pinto (Didi) no baixo.
“Um homem na cidade” tema que deu nome a um dos seus mais emblemáticos discos, foi o tema que abriu a sua actuação na cidade que o acarinha e pela qual o fadista continua a mostrar uma imensa admiração, servindo até como inspiração para si. Num alinhamento em que viajou pelos seus maiores êxitos, seguiu-se “Cacilheiro”, um tema da autoria de Ary dos Santos. Também de Ary dos Santos mas com música de Luís Tinoco, seguiu-se o “Amarelo da Carris”. Continuando pela genialidade da caneta de Ary dos Santos, ouvimos ainda na voz de Carlos do Carmo, “Fado do Campo Grande” com música de António Vitorino D’Almeida.
“Boa noite Lisboa. Um grande abraço para todos. Muito Obrigado por terem vindo” foram das primeiras palavras dirigidas ao público logo no final do primeiro tema, tendo ainda dito que “é muito confortável cantar em Lisboa”. Afinal é a cidade onde nasceu, no bairro da Mouraria, e onde viveu até se casar, no bairro da Bica.
Sobre Lisboa cantou umas bonitas quadras na melodia do fado versículo (menor), seguindo-se o emblemático e poderosíssimo “Gaivota”, da autoria de Alain Oulman e Alexndre O’Neill.
Para além de Lisboa, há uma cidade que preenche Carlos do Carmo: Paris. Recordou alguns momento lá vividos e de seguida interpretou de Jacques Brel, “No me quite pas”, para logo de seguida voltar à portugalidade com “Duas Lágrimas de Orvalho” no fado Pedro Rodrigues.
“Sol”, “Castanheira” e “Nascer Assim” antecederam a fase final do concerto em que constaram temas cantados pelo coro do (Largo) de São Carlos. “Júlia Florista”, “Bairro Alto, “Putos”, “Canoa”, “Lisboa Menina e Moça” e “Por morrer uma andorinha” foram o clímax de um espectáculo em que recordando temas da sua carreira, se verifica que continuam actuais na memória colectiva de um povo.
Carlos do Carmo é dos maiores patrimónios humanos da cultura portuguesa e continua a granjear no público uma enorme simpatia e admiração. A mesma simpatia com a qual acedeu falar ao Infocul no final do seu ensaio de som.
Ensaio de som em que contou com bastante público a assistir, algo que “é surpreendente pois por norma o ensaio de som é uma coisa discreta, mas tanto quanto me informaram são pessoas que já não saem daqui, vieram conquistar o seu lugar, depois as restantes ficam de pé e acho isso fascinante. Foi um estímulo”, disse-nos.
“Aquilo que me parece, segundo o que a vida me tem ensinado, se é que eu tenho aprendido alguma coisa com a vida, o essencial é não querermos agradar a todos. Quando isso acontece está tudo estragado”, acrescentou quando questionado sobre o segredo para a admiração que o público tem por si ao logo de tantos anos de carreira.
Sobre um novo disco disse-nos que de momento “não estou” a preparar, mas que “não lhe minto se disser que tenho reunido uma série de poemas lindíssimos e que estou devagarinho a deixar maturar isso na cabeça e no coração mas tenho prontinha uma fabulosa canção que o Jorge Palma fez para mim. Há 20 anos que me tinha prometido esta canção e entregou-me há pouco tempo”.
Carlos do Carmo encerrou assim de modo brilhante, o ciclo de “Sou do Fado”, que teve ainda actuações de Gisela João e Camané nas semanas anteriores.