Teresa Tapadas: “disco gravado ao vivo tem sempre mais verdade. Transportamos tudo para o disco … o melhor e o menos bom também”

 

 

 

A mais recente edição discográfica da fadista Teresa Tapadas é o disco gravado ao vivo, aquando do seu concerto no Centro Cultural de Belém. Com base nesse disco, entrevistámos a fadista ribatejana, sobre a obra mas também sobre o percurso no fado, o Ribatejo e ainda os próximos espectáculos.

 

 

Recuando até ao dia o concerto na sala lisboeta, a fadista recorda “a alegria que senti quando recebi o telefonema a fazer o convite e também o nervosismo que senti durante toda a viagem Riachos/Lisboa no dia do espectáculo. Foram momentos inexplicáveis”.

 

Do espectáculo destaca “o formato simples, mas não simplório como foi projectado e foi levado à cena. Uma produção nossa, caseira numa sala daquela envergadura”, considerando que “Foi Obra”.

 

Sobre as diferenças entre gravar ao vivo e gravar em estúdio, Teresa Tapadas refere que “na minha opinião um disco gravado ao vivo tem sempre mais verdade. Transportamos tudo para o disco … o melhor e o menos bom também. Não há emendas possíveis. Tudo está lá. O público, a sala e até o estado do tempo que se faz sentir na rua. E eu, já há algum tempo que o ambicionava fazer porque tenho a noção que não sou um “animal” de estúdio. Quando tem de ser tem de ser. Mas podendo ser de outra forma, evito”, deixando, contudo, uma confissão: “adorava fazer a dobragem de uma filme de desenhos animados!”.

 

 

Já sobre os temas que levou ao CCB, esclarece que “o alinhamento foi feito com base em três pontos. Os temas gravados nos meus dois cd’s, em especial os temas originais, os temas que canto sempre nos espectáculos ao vivo e não estavam ainda gravados por mim e o folclore de Riachos”. Refere ainda que em termos de alteração do alinhamento, caso fosse hoje: “Não. Nada”.

 

 

Um dos momentos desse espectáculo teve a presença do Rancho Folclórico “Os Camponeses” de Riachos, o qual também conta assiduamente com a presença de Teresa Tapadas. Sobre este momento e a importância do mesmo, diz “era impensável ir cantar a uma sala como o CCB e não convidar o “meu” rancho. Eu sou efectivamente uma felizarda. Tenho duas famílias. A de sangue e tenho outra que é O Rancho Folclórico “Os Camponeses” de Riachos. Ao levar o rancho, levei também para palco as minhas raízes. A minha terra! Por assim dizer o meu passado. A intenção foi colocar em palco o meu futuro. Que não são nada mais nada menos que a soma do meu passado e do presente. Das minhas raízes com as minhas paixões. Do Folclore + Fado”.

 

 

Desde o dia 19 de Dezembro de 2014, data do concerto, “Mudou muita coisa e talvez não tenha mudado nada pois a minha essência está igual. Talvez o amor e a gratidão no que respeita ao cantar e a tudo o que envolve cantar tenha aumentado. Se é que isso ainda é possível. A Teresa que subiu a palco naquele dia, provavelmente tinha em mente uma série de planos e sonhos e agora muito provavelmente tem outros. Passaram-se três anos e uns pós de perlimpimpim quase quatro. Já é algum tempo”.

 

 

Sobre o percurso efectuado, e que continuar a efectuar, no fado, diz que “confesso que nunca pensei nisso mas já que coloca a questão…. digo que tem sido um percurso Discreto mas Intenso. Percurso feito a pulso. E sempre a par e passo com muitas dificuldades. Mas sempre com muita Alegria e sobretudo com Amor. Que é sempre o elemento diferenciador em tudo na vida”. Diz ainda que os maiores desafios têm sido “ não ter uma agência que me represente, que me divulgue, que me venda! Management, Booking qualquer coisa do género. Para umas agências não sou conhecida o suficiente, para outra já tenho carreira logo já não interessa … céus. É muito mas mesmo muito complicado nos tempos que correm estar Sozinha nesta jornada. É acima de tudo castrador, limitativo e muitas das vezes frustrante. Porque há portas que nem sabemos que existem. As programações dos festivais, de algumas das festas mais importantes e até de conteúdos de televisão tudo nos passa ao lado. Por vezes é de tal modo frustrante que quase me dá vontade de desistir, mas…

 

 

O Ribatejo, berço de tanto e bom fadista, não podia faltar nesta entrevista. “O meu Ribatejo! É verdade. E eu confesso que só tive essa percepção quando comecei a vir cantar com mais regularidade para Lisboa. Para mim era natural haver todos aqueles guitarristas e fadistas no Ribatejo. E com aquela qualidade! E eu tive e tenho a graça e a felicidade de os conhecer a todos e conviver e cantar com todos desde o meu início. E estamos a falar do ano de 1996/97. Há sortes na vida de uma pessoa e esta é sem dúvida uma delas!

 

Além do Ribatejo, também o Alentejo e o Porto têm dado muitos e bons fadistas. O que torna o Fado nacional e não apenas de Lisboa, como muitos tentam vender. Teresa Tapadas começa por dizer “Óbvio que sim! E desde sempre. Não é de agora. Mas como é natural em Lisboa e sempre por causa do factor Turismo, intensificou-se mais. E eu desde miúda que me lembro de nos encontros de amigos, nas patuscadas, nas chamadas tertúlias, se cantar fado”.

 

 

As colectividades vão fazendo noites de fado sempre com elencos muito interessantes. Um local de fado habitual é o TASCÁ em Santarém, mesmo no centro da cidade,  que dá fados todas as 5.ªf”, diz-nos quando convida a desvendar onde se pode ouvir Fado no Ribatejo.

 

Já sobre Riachos, começa por destacar “as gentes de Riachos. Depois temos um Museu Agrícola que é uma maravilha e uns Murais pintados à mão em que o tema são os trabalhos do campo e as gentes da terra que são merecedores de uma visita. E a gastronomia! Uma sopa de fressura, umas couves com feijão ou até mesmo uns crescidos e nunca esquecer o lombo de porco assado na brasa de lenha de azinho em vara de louro/loureiro. O peixe do rio como o sável, enguias e fataça também dão cartas até Março”.

 

Falando de Riachos, aproveitei para voltar a falar sobre o folclore. Teresa Tapadas diz que “ o folclore tem sido a base de tudo. A base da minha vida. Comecei a dançar com 12 anos e continuo! E sempre que a minha vida profissional me permite saio com o rancho e são sempre momentos únicos e preciosos. Ainda este mês de Agosto fui com o rancho à Ilha da Madeira. Fizemos uma digressão de 9 dias. Foi Espectacular. Uma curiosidade… a minha filha que tem 14 anos, também já faz parte do rancho de há uns anos a esta parte. E tal como eu é apaixonadíssima. O rancho é uma família, é uma escola, é um modo de vida. Onde se aprendem e praticam valores que cada vez mais estão a ficar esquecidos na sociedade dita moderna. Permita-me deixar aqui um beijo enorme para o nosso chefe – assim tratamos carinhosamente o nosso director, o Sr. Joaquim Santana. Director há tantos anos quantos anos o rancho tem! Há 60 anos”.

 

 

Questionada sobre novidades diz que “talvez uma reedição deste disco uma vez que já restam poucos exemplares do mesmo. “Teresa Tapadas ao vivo no CCB”. E um novo disco que trará consigo algumas surpresas e Coisas e Cenas & Cenas e Coisas”.

 

 

 

Este ano tem sido tão intenso! Todos os espectáculos que tenho marcados são merecedores de tal destaque mas não podemos como tal destaco o meu espectáculo no Festival Santa Casa Alfama no dia 28 de Setembro, 6.ªf na esplanada do Museu do Fado pelas 20:30 mais coisa menos coisa e com entrada gratuita e destaco também o meu espectáculo no dia 30 de Setembro na Feira Nacional dos Frutos Secos em Torres Novas pelas 22:00”, diz-nos sobre os próximos espectáculos.

 

Nas redes sociais … Facebook, Instagram. Basta procurar Teresa Tapadas e existem dois perfis e 1 página no Facebook e sou sempre eu. Para me verem ao vivo e a cores podem sempre ir ao bairro de Alfama às casas de fado “PÁTEO DE ALFAMA” e/ou ao “FADO EM SI” onde canto aos domingos e às 2.ªf e que ficam na Rua de São João da Praça, 18”, diz-nos sobre onde pode o público interagir consigo.

 

 

Antes de mais deixo um Beijo a todos os leitores da Infocul e faço votos que tenham gostado da nossa conversa” deixou como mensagem aos leitores do Infocul, antes de rematar a entrevista dizendo que “a  si, Rui, um Obrigada do tamanho do mundo por tudo o que faz na divulgação do fado e dos seus intérpretes. Continuem a ouvir fado e acima de tudo Sejam Felizes”.

Rui Lavrador

Iniciou em 2011 o seu percurso em comunicação social, tendo integrado vários projectos editoriais. Durante o seu percurso integrou projectos como Jornal Hardmúsica, LusoNotícias, Toureio.pt, ODigital.pt, entre outros Órgãos de Comunicação Social nacionais, na redacção de vários artigos. Entrevistou a grande maioria das personalidades mais importantes da vida social e cultural do país, destacando-se, também, na apreciação de vários espectáculos. Durante o seu percurso, deu a conhecer vários artistas, até então desconhecidos, ao grande público. Em 2015 criou e fundou o Infocul.pt, projecto no qual assume a direcção editorial.

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