O Festival Terras sem Sombra apresenta Cantes de África em Castro Verde. A 4 de Junho, o Festival traz à Basílica Real de Nossa Senhora da Conceição, em Castro Verde, o concerto “Polirritmias: Ligeti Africano”. O concerto acontece às 21:30 na Basílica Real de Nossa Senhora da Conceição, em Castro Verde. O transilvano György Ligeti é um dos compositores fundamentais da música europeia do século XX.
A sua vasta obra definiu algumas das mais importantes tendências da vanguarda do nosso tempo, mas não deixou de conquistar um público alargado, com o Requiem que Stanley Kubrick utilizou no filme “2001: Odisseia no Espaço”. Reconhecendo o génio da música tradicional de África, Ligeti inspirou-se, para a concepção de algumas das suas peças, em aspectos marcantes desta ancestral herança.
No concerto de Castro Verde é possível apreciar o resultado dessas influências, através de um cruzamento artístico entre o pianista Alberto Rosado e três notáveis músicos da Guiné-Conacri e Camarões vão executar as peças originais da tradição africana, em que são peritos, e, por sua vez, Rosado mostrará o resultado das transformações levadas a cabo pelo compositor húngaro, falecido em Viena, em 2006.
Percussionistas e pianista tocarão juntos em alguns momentos, improvisando a partir dos temas originários. Polo Vallejo, o etnomusicólogo e referência no campo da pedagogia e da musicologia experimental, actualmente a viver na Tanzânia, fará a apresentação, acompanhada por imagens, de modo a contextualizar o repertório em palco. O espectáculo suscita interesse pelas músicas e mostra a singularidade de cada tema e dos elementos mais significativos das obras que o conformam, revelando, assim, os parentescos que existem entre ambas as linguagens, a africana e a ocidental.
Ao destacar os aspectos que tanto chamaram a atenção de György Ligeti e o genial uso que ele fez dos mesmos, perscruta-se como concebeu e construiu as suas obras. Em certos momentos, poder-se-á comprovar de que forma a improvisação, longe de parecer um exercício arbitrário, corresponde a critérios de selecção e variação de uma matéria musical que parte de princípios assaz regulados; isto permitirá que os intérpretes, por seu turno, encontrem espaços comuns onde, em atmosfera de diálogo, se torna possível experimentar e partilhar músicas diferentes, mas dispostas sobre “estruturas” similares.
Todas as músicas, afinal, não são mais do que uma mesma e única música. No domingo, 5 de Junho, com partida às 10 horas da Basílica Real, poder-se-á acompanhar uma jornada de trabalho de um pastor do Campo Branco. Esta actividade do programa do Festival para a salvaguarda da biodiversidade tem por mote a transumância e visa descobrir os segredos dos antigos moirais de ovelhas das planícies imensas de Castro Verde.
O Festival Terras sem Sombra caminha para o término da sua 12.ª edição. Dos oito concertos e actividades de biodiversidade programadas, estão por concretizar duas etapas. Desde Fevereiro, este projecto, que associa a música sacra ao património religioso e à defesa da biodiversidade, já passou por Almodôvar, Sines, Santiago do Cacém, Odemira, Ferreira do Alentejo e Serpa, levando até estas localidades do Baixo Alentejo momentos únicos e memoráveis.