Barquinha: Corrida sem história, mas “para quem é, bacalhau basta”, porque o importante não é cuidar da tauromaquia.

Texto: Rui Lavrador
Fotografia: Miguel Vidal Pinheiro
Este sábado, 24 de Setembro, a Praça de Touros de Vila Nova da Barquinha recebeu uma corrida de touros que tinha como maior ponto de interesse um concurso de pegas.
O cartel contou com os cavaleiros João Moura Caetano, Manuel Telles Bastos, Marcos Bastinhas, Emiliano Gamero, Andrés Romero e Miguel Moura e com os grupos de forcados amadores de Coruche, Chamusca e Aposento da Chamusca.
Numa noite fria e ventosa, o tauródromo registou uma assistência fraca, com o público a não aderir ao “cartel internacional”.
Coube a João Moura Caetano abrir as actuações e fê-lo diante um touro com pouca força, algo condicionado no andamento e que se adiantava nas reuniões. João Moura Caetano começou por cravar dois compridos, montando o Pidal. Com o Campo Pequeno, cravou o primeiro curto, no qual sofre ligeiro toque na montada. Trocou de montada e com o Cartier encontrou as distâncias correctas e arrancou para uma actuação de boa qualidade, mas em que teve de porfiar muito. Três curtos de boa nota foram o destaque maior da sua actuação, perante um oponente que pouco ou nada transmitiu. Moura Caetano quis triunfar, o touro tirou-lhe a possibilidade e ficámos por uma actuação positiva.
Fernando Ferreira, dos amadores de Coruche, concretizou a pega ao terceiro intento.
O segundo touro da corrida saiu com velocidade e criou bruá nas bancadas. Manuel Telles Bastos soube aproveitar bem as qualidades do oponente e desenhou uma actuação genericamente muito positiva, embora indo de mais a menos, em termos qualitativos no momento das cravagens. Sortes desenhadas de frente e com reuniões ajustadas inicialmente, no fim não foi tanto assim, porém lide de boa nota do ginete ribatejano.
Gustavo Rodrigues, pelos Amadores da Chamusca, concretizou a pega ao segundo momento, numa boa execução do forcado da cara.
Marcos Bastinhas enlouqueceu o público que até então estava frio, como o tempo. O cavaleiro apostou numa lide em que mesclou classicismo e exuberância. Uma actuação em que usou várias das suas montadas, permitindo-lhe uma diversidade de sortes que agradou muito ao público que não lhe poupou aplausos. Escusam de procurar furacões internacionais. Há um português que os mete no bolso!
Afonso Melara, do Aposento da Chamusca, concretizou a pega ao primeiro intento.
Emiliano Gamero foi também um toureiro que agradou ao público da Barquinha. O mexicano tem carisma, sabe montar o seu espectáculo de entretenimento e tem vindo a melhorar a vertante toureira. Ontem, teve um ferro curto de boa nota e uma série de desplantes com os cavalos que lhe permitiram muitas ovações.
Fábio Casinhas, pelo grupo de Coruche, concretizou a pega ao primeiro intento numa excelente execução. O Grupo de Coruche é um dos poucos grupos que alia a coragem dos seus executantes, a uma correcta postura em praça. E isto, por pouco que pareça, deve ser louvado no actual estado da tauromaquia em Portugal…
Depois, ao quinto touro, a corrida tornou-se uma seca ainda maior do que estava até então. O touro que seria lidado por Andrés Romero, saiu claramente condicionado e o director de corrida mandou-o recolher. O problema é que o sexto touro partiu um piton nos curros e o sobrero que existia (a categoria da praça obriga apenas a que exista 1 sobrero nos curros), estava já a ser embolado para Miguel Moura. Assim, chegou-se a um “acordo” para que o único touro que tinha capacidade para ser lidado, fosse feito a duo, por Andrés Romero e Miguel Moura. A lide não teve história alguma, limitando-se a cravagem de ferros, em número exagerado, sem que nada ficasse na retina.
Diogo Marques, dos amadores da Chamusca, concretizou a pega ao primeiro intento . Pega concretizada por elementos também do Aposento da Chamusca. Aqui, aplicou-se a mesma medida, faltavam duas pegas e apenas havia um touro. Assim, os Amadores da Chamusca, convidaram o Aposento da Chamusca, a pegar em conjunto o único touro que faltava pegar.
Pelo motivo de não se terem lidados os 6 touros e não terem existido as 6 pegas, o prémio para a melhor pega ficou sem efeito. O prémio seria um livro da autoria de David Montero.
Nota negativa para a adesão de público. Nota mais negativa para uns quatro elementos do público que em determinadas praças, montam um espectáculo deprimente, com gritos, pulos, gesticulações corporais e constantemente a pedirem música, como se um concerto se tratasse. Haverá promotores que adorarão este tipo de público. É pouco conhecedor, transforma uma arte de classe em algo brega e portanto, “para quem é, bacalhau basta”.
Não se cuide da tauromaquia, continue-se a criar corridas sem ponta de interesse e com cartéis “mais do mesmo” e um dia andaremos todos a queixar-nos… E nem o bacalhau nos saberá bem!
O curro de António Charrua esteve bem apresentado e até acima da praça em questão, excepção ao sobrero. Em termos de comportamento, o 1º foi o pior, com os restantes a permitirem aos cavaleiros aplicar a sua concepção artística, sem os incomodar muito.
Corrida dirigida por José Soares, assessorado por José Luís Cruz. No cornetim esteve José Henriques.