Buba Espinho e a paternidade: “Creio que agora a minha Maria Amália será uma grande fonte de inspiração para aquilo que serão as minhas canções”

Buba Espinho e a paternidade: “Creio que agora a minha Maria Amália será uma grande fonte de inspiração para aquilo que serão as minhas canções”, destacou.

Buba Espinho e a paternidade: "Creio que agora a minha Maria Amália será uma grande fonte de inspiração para aquilo que serão as minhas canções"
Foto: Promoção Buba Espinho

Depois de ontem termos aqui dado destaque à primeira parte da conversa com Buba Espinho, hoje apresentamos a segunda parte dessa mesma conversa.

Bernardo Espinho, nome de nascimento, está numa fase feliz da sua vida. Reconhecidamente um dos grandes talentos da música portuguesa actual, foi pai de Maria Amália no passado dia 7 de Setembro, seis dias depois desta conversa.

Está numa fase de grande maturidade e leveza espiritual, ao mesmo tempo que demonstra responsabilidade com esta nova fase da sua vida.

O menino outrora tímido, com 17 anos, é agora um homem confiante e seguro do que diz. Com um discurso e um raciocínio claros e uma objectividade, pessoal e profissional, desarmantes.

Acabou de lançar um dos melhores discos deste ano da música portuguesa e merece que o público português o acarinhe, porém que seja também exigente e que o obrigue a manter alta a fasquia que agora alcança com este trabalho discográfico.

Nesta segunda parte da conversa, destaque para o pai, Luís Espinho, e o irmão, Eduardo Espinho, duas das pedras basilares da sua vida. E claro, Maria Amália, a menina dos seus olhos, a sua primeira filha.

Tu nunca te deslumbraste muito com o mediatismo, foste sempre um rapaz com os pés bem assentes na terra. Como foi, para ti, ao longo destes anos, ir gerindo as expectativas que a imprensa, a indústria e até o público colocavam sobre ti? Pergunto ainda como foste gerindo as tuas próprias expectativas sem nunca perderes a noção de humildade e do caminho a percorrer?

Primeiramente há uma grande base familiar, há uma educação que os meus pais me deram que é crucial nestes momentos. Como sabes o meu pai fez parte do grupo Adiafa, foi um projecto que teve um hit (As meninas da Ribeira do Sado), provavelmente à mesma dimensão actual do ‘Casa’ (canção dos D.A.M.A. e Buba Espinho)…

Na altura creio que tenha sido superior, até pelo facto de não existirem plataformas digitais…

Sim, talvez. Mas foi algo com uma dimensão mesmo muito grande, e eu nasci nisso. Cresci a ver as pessoas a pedirem para tirar fotos com o meu pai, cresci a chamarem-me ‘Estrala a bomba’…

(risos)…

É verdade, na escola, as pessoas diziam “este é o filho do Estrala a bomba”. Portanto, sempre senti os holofotes. Obviamente que, depois quando tens um projecto a solo, apesar de teres os holofotes devido ao teu pai, não significa que os tenhas na carreira a solo. É algo que se vai construindo, mas foi sempre algo natural. Eu percebo as pessoas ao darem essa importância, seja da indústria, da imprensa e do público relativamente ao artista. Mas, para mim, eu continuo a ser a mesma pessoa, o miúdo tímido dos 17 anos que tu conheceste, sempre focado naquilo que quer…

Parece que foi há imensos anos… (risos)

Foi há 11 anos. Já são alguns… Tenho 28 anos, portanto foi há 11 anos. Mas o meu foco não é esse mediatismo, é somente chegar a casa com a sensação de dever cumprido, de ter feito o que me vai na alma, de dar às pessoas o máximo que consigo. Ser o máximo transparente. Quero ser o mais honesto possível com o público, a imprensa e a indústria e eu sinto que as pessoas depois vão identificando-se com isso. De resto sou um miúdo como todos os outros, com os mesmos interesses. Portanto, eu identifico-me com as histórias dessas pessoas, os amores e desilusões dessas pessoas. Mas o mediatismo é normal. Percebi na altura, infelizmente, na altura do meu pai, o que é lidar mal com esse mesmo mediatismo. Muitas vezes olho para os exemplos dos outros pela parte negativa, de modo a evitar fazer os mesmos. Mais do que ver pela parte positiva, prefiro ver a parte negativa e pensar “não vou ver por aqui”. Pode parecer estranho dizer isto, mas é mesmo real e aprendi muito com o meu pai. Não foi um erro propositado, mas são vários erros e tipos de gestão que levaram a um grande declínio, em que num ano estavam com 230 concertos e no seguinte apenas faziam 30. Portanto eu cresci nisso, o que fez com que na altura de tomar decisões, eu seja muito ponderado, acredito que estou no caminho certo até por estar rodeado de pessoas que são honestas comigo.

O teu pai e o teu irmão (Luís e Eduardo Espinho) estiveram sempre muito presentes no teu percurso. Pergunto se em algum momento as expectativas que o teu pai tinha para ele, enquanto músico, as colocou em ti?

Nunca, nunca. Enquanto eu joguei andebol, o meu pai queria que eu fosse o melhor, mas tenho a certeza de que se eu fosse contabilista, ele faria toda a força para eu ser o melhor contabilista do mundo, o meu pai é uma pessoa que dá asas aos nossos sonhos, quer a mim, quer ao meu irmão, seja esse sonho o que for. Obviamente que ele fica muito contente por os dois filhos estarem a fazer música, algo que ele nunca conseguiu a 100%, acho que ele se revê nisso e fica muito contente e orgulhoso por nós conseguirmos dar o passo que ele, por nossa causa, não conseguiu dar. Porque naquela altura, que é diferente de hoje, se ele tivesse dedicado à música, talvez eu não tivesse tido as condições e a educação que tive, num sítio bom, em que nunca faltou nada em casa, também não havendo excessos. Foi sempre tudo numa dose certa. Mas isso foi muito devido ao sacrifício que o meu pai fez, nunca deixando o seu principal trabalho, foi bancário a vida inteira, e a música foi algo que ele fez sempre pelo lado positivo da música. E eu vou buscar isso a ele, o lado bom da música. Não tem a ver com milhões de visualizações, com os seguidores, tem simplesmente a ver com o ser feliz, honesto e verdadeiro.

Como bancário, ele é muito preocupado e dá-te algumas regras para não gastares tudo o que ganhas?

(risos). Coitado do meu pai, ele já não tem acesso à minha conta (risos). Se ele agora tivesse, acho que lhe dava tantos desgostos (risos). Mas ele foi sempre muito directo em tudo, na parte financeira diria ‘vê lá se não é melhor comprares um carro, em vez de gastares em jantares’ (risos).

Falando do teu irmão, Eduardo Espinho, que é co-produtor deste disco. Qual a importância dele, além da parte óbvia de ser teu irmão?

Tem muito a ver com a bolha que te falava à pouco. Rodeei-me apenas de pessoas que conhecem o Buba na íntegra, para este disco, e são estas as pessoas que me conhecem na íntegra. O Eduardo sendo produtor do disco obviamente que teve uma palavra muito forte, sabe aquilo que me deixa confortável e desconfortável, para o bem e para o mal, sabe sempre onde tocar quando me quer lixar (risos), mas foi algo importante neste disco, por saber o caminho que eu queria para este álbum, ajudou-me a canalizar essa informação toda que estava dentro de mim e a colocar nos sítios correctos. Depois, obviamente que ele tem a sua própria forma de ver a música, de cantar, de tocar e isso foi claramente importante.

O teu irmão é um belíssimo músico e agrega duas características que me agradam, é discreto e muito inteligente. Como é a tua relação com ele?

Sempre tivemos uma relação de cão e gato, ele é mais velho e eu muitas vezes fui um puto chato, irritante, são dele as primeiras referências que tenho. Na altura o meu pai metia jazz a tocar em casa e eu achava aquilo uma seca, enquanto o meu irmão metia hard metal e eu ouvia hard metal com ele. Quando ele esteve na Tuna, eu ouvia muito repertório de tunas, hoje sei muito repertório de música portuguesa e devo a ele, independentemente de se gostar de tunas, a verdade é que se vai buscar grandes poetas. Portanto, ele foi sempre a minha referência, haverá de ser a vida inteira. Quando eu quis tocar guitarra, foi a ele que pedi os primeiros acordes, quando comecei a fazer vozes, a harmonizar, foi com ele que aprendi as primeiras harmonias, portanto sendo ele o mais velho é sempre o primeiro a dar o corpo às balas, foi assim neste disco e tem sido assim na vida.

Já consegues ouvir jazz?

Já, tanto que convidei o Manuel Oliveira para ser o pianista neste projecto.

Era esse o gancho para falarmos dele…

(risos). Eu gosto de ouvir todos os géneros musicais, eu gosto de ouvir tudo o que seja verdadeiro, independentemente de identificar mais ou menos. Nos últimos tempos, tenho ouvido muito hip hop português, consegues sempre retirar muitas mensagens, com outras visões e eu adoro crescer e ter essas outras visões. Não ouço muito jazz, mas quando ouço, consigo desfrutar.

Podemos dizer que este teu disco tem uma pop emocional?

Não gosto de colocar as coisas em sacos, mas obviamente que tem pop, por ser popular, por as pessoas identificarem-se, tenho a Bárbara Tinoco como uma das convidada e ela é assumidamente uma artista pop. Acho que há uma ligação com a pop, como há com o jazz através do Manuel, como há com os Cordel, como há com o Cante.

O que a paternidade muda em ti?

Acho que a responsabilidade é algo inegável numa situação destas. Não só comigo, mas comecei a ver que tipo de coisas à minha volta fazem sentido nesta fase, tenho feito uma triagem natural, não que eu afaste as pessoas ou isso, mas foi fazendo uma triagem natural daquilo que eu depois quero que seja o meio da minha filha. Sinto que há uma parte muito importante, porque sendo eu um artista que dá a cara e o nome, tenho de pensar muitas vezes em mim, naquilo que eu quero, para onde eu quero ir, e acho que a partir de agora deixarei de pensar no Eu e passarei a pensar no Nós. Porque a Maria Amália também me dá uma motivação muito forte, para a música que estou a fazer. Maria Amália é uma homenagem à minha avó, mãe do meu pai, que foi quem trouxe a música para a família. Tocava muito bem piano, daí também haver a ligação com o piano neste álbum, o piano é o instrumento base deste disco, faz-me lembrar a minha avó, todos os amigos delas e família diziam que ela era uma pessoa muito sensível. E creio que agora a minha Maria Amália será uma grande fonte de inspiração para aquilo que serão as minhas canções, por isso só quero que seja uma criança feliz, rodeada de amor e verdade.

O que gostavas que o público sentisse ao ouvir este disco?

Gostava obviamente que o público se identificasse, mas gostava primeiramente que o público sentisse que estas canções são aquilo que eu sinto e que todas as canções são a minha respiração. Quero que todo o público me conheça através das minhas canções, quero que as pessoas conheçam o Bernardo e o Buba, não há uma personagem, mas o Buba dá a cara e força aquilo que são os meus ideais enquanto homem.

Porquê Buba?

Porque foi a primeira palavra que disse em bebé. E já que o meu pai não me deu o nome, foi o meu irmão que escolheu Bernardo, o meu pai deu-me a alcunha e ficou mais eterno que Bernardo.

Quem é actualmente o Bernardo?

É uma pessoa muito feliz, agradecida, motivada, focada, honesta e verdadeira. Aquilo que sentem e veem no Bernardo, é aquilo que é real. Eu não consigo ser de outra forma, eu sou muito directo e há quem me ache arrogante. Mas sou muito directo e prefiro ser assim. Há quem não consiga aceitar as coisas de forma pura, mas eu prefiro assim e ser directo e dizer o que penso e sinto.

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