Buba Espinho: “Esta é a minha vida, o meu propósito é divulgar o Alentejo e colocá-lo onde eu acho que deve estar”, afirmou.
Entrevista e Texto: Rui Lavrador
Fotografias: Diogo Nora
Buba Espinho deu, ontem, os dois primeiros concertos – dos 4 já anunciados – no Coliseu dos Recreios em Lisboa.
Porém, algumas horas antes de subir ao palco pela primeira vez, falou com o Infocul.pt sobre a estreia nesta sala e ainda sobre o seu percurso.
Assim, veja a reportagem do concerto: Foi tão grande Buba Espinho no Coliseu de Lisboa
Primeiramente, questionámos Buba sobre o que ainda existe do menino que começou a cantar.
“Olha é difícil e complicado explicar todas essas emoções e essa altura em que tudo era um sonho. Era uma vontade só. Depois as coisas começaram a ficar mais sérias. Mas eu continuo a ser esse mesmo miúdo, com a mesma vontade e ainda com mais amor por aquilo que faço“, respondeu.
“Nessa altura não tinha tanta responsabilidade, de se as coisas coisas não corressem bem. Hoje tenho essa pressão como artista. Mas eu continuo o mesmo miúdo, com esse amor pela sua raiz, pelo seu cante alentejano, pelos seus amigos, pela sua família e é basicamente isso que vai acontecer aqui no coliseu“, continuou.
“Sentarmo-nos em redor de histórias que fomos vivendo, com os meus amigos e com a minha família e que serão na maioria as pessoas que estarão aqui em cima do palco“, referiu.
“Portanto, eu acho que é o mesmo miúdo, com mais barba, uns quilinhos a mais, mas com o mesmo amor e emoção“, reforçou.
Seguidamente, questionámos se em estúdio sente a pressão de o público poder gostar ou não das canções.
“Sinceramente, não. Os últimos temas que tenho gravado, fazemos simplesmente porque eu gosto das canções. E depois penso se este tema faz sentido neste álbum ou não faz sentido neste álbum. Agora estamos focados neste álbum só de cante alentejano, para celebrar os 10 anos de Património Imaterial da Humanidade, estou focado num conceito mais rural, mais Alentejo, para uma vez mais celebrar e homenagear o cante alentejano”, disse.

“Obviamente que continuo a procurar canções que me sirvam mais nas minhas histórias pessoais, como foi este álbum ‘Voltar’, em que são canções que falam mais sobre mim, sobre o que sinto, o que me move. Portanto, é essa a minha forma de trabalhar. Não há a pressão de pensar se as pessoas vão gostar ou vão entender. Eu acho que já entenderam a minha linguagem, eu já entendi a linguagem do público, acho que vai ser uma conversa eterna nos meus próximos álbuns“, assinalou.
“A ideia será lançar o novo disco em 2025 ou no início de 2026. Mas, nós vamos lançando vários temas ao longo do ano, sendo que o primeiro foi o ‘É tão Grande o Alentejo’. Foi o pontapé de saída para este álbum que queremos fazer sobre o cante alentejano“, contou-nos sobre o novo disco.
Nesse sentido, o disco terá convidados.
“Sempre. Quando pensarem em Buba, pensem sempre em mais pessoas. Eu gosto sempre de me rodear, de acrescentar novas energias e novos mundos à minha música“, informou.
“Sim, há essa ideia de trazer a tertúlia. Porque a minha natureza é estar à mesa, de estar em palco, com uma boa conversa, de uma guitarra, de uns copos de vinho, é a nossa génese. E eu tento ser verdadeiro e transparente naquilo que faço artisticamente, porque para mim não é difícil vir para cima do palco, porque basta-me ser eu mesmo e contar as minhas histórias. Respondendo à tua pergunta do nervosismo, aqui basta-me ser eu, Buba Espinho, o cantor e a pessoa“, explicou-nos.

Por outro lado, elogiou a forma como público tem acolhido a música portuguesa.
“Eu sinto que a arte tem um lugar muito especial na música portuguesa. Não há aquela coisa de que se sente muito lá fora, ou nos Estados Unidos da América, em que cada vez que sai um videoclipe de alguém, metade do público idolatra cegamente e outra metade odeia. Cá em Portugal, eu acho que as pessoas usam a música portuguesa para passar um bom momento e é isso que eu quero passar às pessoas“, disse.
“Ou seja, podem até chegar aqui e não se identificarem com a minha música, com concertos acústicos, com a guitarra portuguesa ou com o cante alentejano, mas de certeza que irão passar um bom momento. É isso que quero passar ao público, sempre. Mas, claro que tem a ver também com a maturidade“, assinalou.
Neste momento, falou-se assim um pouco do percurso de Buba e das dúvidas que foi tendo.
“Estavas a dizer que houve ali umas partes do trajecto que te irritaram, então imagina a mim em que questionava-me se era aquilo que eu deveria fazer, se estava certo ou não. Eram as perguntas que eu fazia“, afirmou.
“Claro que muitas vezes também olho para as carreiras dos meus colegas e penso que não faria as coisas daquela forma, mas a verdade é que aqui dentro muitas vezes estão as mesmas perguntas e respostas que vão aí desse lado, eu próprio me questionava. Vou dar-te um exemplo, a música com os D.A.M.A., eu fiz essa questão”, prosseguiu.
“Com a Bárbara Tinoco exactamente igual. Quando fui ao Festival da Canção, com os D.A.M.A. foi a primeira vez que trabalhei com ele e já falámos disto diversas vezes. Não foi amor à primeira vista. Eu pensava ‘estou a fazer uma coisa tradicional, estou fechado em casas de fado 6 dias por semana e agora vou expor-me de uma forma totalmente diferente e que as pessoas nunca viram?’. Eu questionei-me. Porém, olhando agora para trás parece que tudo fez sentido e foram essas perguntas e respostas que fui fazendo“, exemplificou.

Por outro lado, falou-se no talento que tem nascido no Alentejo.
“Disseste que o Alentejo tem promovido vários artistas e eu acho que é um bocado ao contrário. Nós artistas é que temos vindo a promover o Alentejo, acredita que muitas vezes contra municípios, sem ajuda de ninguém. Fazemos isto por amor. E acho que falo por todos, pelo Zambujo, pelo Trigacheiro, pelos Bandidos do Cante, sentimos sempre que não temos o apoio suficiente, principalmente a nível local, porque muitas vezes olham para nós como o miúdo que cresceu aqui e não olham para nós pelo trabalho e sacrifício que temos tido“, referiu.
“Esta é a minha vida, o meu propósito é divulgar o Alentejo e colocá-lo onde eu acho que deve estar“, afirmou, convictamente.
“Sinto que nos últimos anos, o Cante Alentejano foi contextualizado. O grande problema era estar descontextualizado e desconectado com a realidade, passámos por chacota, era a canção dos bêbados e do fim de noite. Hoje em dia temos artistas a fazer coliseus, como eu, o Trigacheiro, o Zambujo, com carreiras incríveis contra todos os preonceitos que existem no Alentejo, temos de continuar a quebrar barreiras e fronteiras, porque acho que do outro lado estão pessoas muito mais aptas para ouvir cante alentejano. A verdade é que a aceitação no resto do país é muito especial, principalmente no Minho“, elogiou.
Por fim, falou dos concertos de ontem e os de dia 8 de Março.
Ontem foram dois, dia 8 de Março são mais dois.
“Hoje é tudo igual, com os mesmos convidados. No dia 8 de Março vamos ter convidados diferentes, vamos anunciar em breve. Não queríamos que ficasse tudo sobreposto em termos de informação. O Dia 8 de Março vai ter uma componente especial, que é o Dia Internacional da Mulher, onde a mulher será celebrada e os convidados terão a ver com isso. Será diferente, porque não quero e não gosto e repetir as coisas. Será um concerto totalmente diferente deste“, rematou.