Cartaxo: Noite entretida com três guerreiros, ontem, 24 de Junho.

Texto: Rui Lavrador
Fotografias: Rute Nunes e Carlos Pedroso
A Praça de Touros do Cartaxo recebeu, este sábado, uma corrida de touros, integrada nas Festas da Cidade 2023.
O cartel foi composto pelos cavaleiros João Moura Caetano, Parreirita Cigano e Luís Rouxinol Jr., pelos forcados amadores de Aposento da Moita e Cartaxo e touros da ganadaria Herdeiros Paulino da Cunha e Silva.
A anteceder a corrida realizou-se um cortejo, na arena, à luz das velas, em honra de São João Baptista. Um momento de introspeção, fé e espiritual, destacando-se a emoção com que o mesmo foi vivido, quer na arena quer nas bancadas.
Por vezes, na tauromaquia, aposta-se sempre em inovações que roçam o parolismo tão do agrado dos incultos, mas também se deve elogiar quando as coisas são muito bem feitas.
A Associação Praça para Todos, gestora da Praça do Cartaxo, está de parabéns pela organização da corrida de ontem. A imprensa foi tratada com elevação e respeito, a praça está muito bem cuidada, sem as bancadas estarem negras (como em tantos outros tauródromos que por aí existem) e a corrida em si teve qualidade.
O cavaleiro João Moura Caetano teve ontem dose dupla, depois de actuar em Póvoa de São Miguel à tarde, actuou no Cartaxo à noite. Com ligeiro atraso, teve a humilde postura de agradecer ao público pela compreensão que demonstrou.
E na arena deu tudo o que de si tinha. Aos ingredientes que habitualmente apresenta – Classe, temple, genialidade e por vezes até uma poesia em movimento – ontem juntou-lhes uma raça e vibração de quem está aqui para triunfar.
A sua primeira actuação foi segura, coerente e muito em estilo ‘Power Men’. Destacaram-se dois ferros curtos de excelente nota, com reuniões harmoniosas. Foi com o cavalo Gallo que promoveu os melhores momentos, com uma brega muito bonita e a tentar que cada cravagem fosse algo esteticamente bonito e eloquente, porém com a tal faceta vibrante e de raça que abordei anteriormente.
A primeira pega foi concretizada por José Maria Duque, do Aposento da Moita, ao primeiro intento.
Parreirita Cigano desenhou uma actuação de muito bom nível, perante um touro complicado e que não permitia grandes erros. Recebeu bem o oponente e o primeiro ferro comprido é muito bem cravado, depois de uma sorte desenhada igualmente bem. Os dois ferros compridos seguintes ficaram muito aquém. Parreirita Cigano corrigiu a mão e na cravagem curta, desenhou um compêndio de poder. Ferros muito bem cravados, muito coração e reuniões ao estribo, como mandam as regras, contrariando o ditado popular de “santos da casa não fazem milagres”. Milagre não sei se foi, mas uma excelente actuação foi certamente.
Duarte Campino, pelos amadores do Cartaxo, concretizou a pega ao primeiro intento.
Luís Rouxinol Jr. desempenhou uma lide agradável, em plano positivo e com a habitual raça que emprega em cada actuação. Cravou dois excelentes ferros curtos e mostrou que este ano poderá voltar ao seu melhor nível.
Tiago Valério, do Aposento da Moita, concretizou a pega ao primeiro intento, numa excelente execução do forcado da cara e com o restante grupo a fechar bem. Nota adicional sobre este forcado: o público deverá estar mais atento ao que tem sido o seu percurso e evolução. Valor muito seguro e com potencial de crescimento ainda por explorar.
A quarta lide, a cargo de João Moura Caetano, teve por diante o pior touro da corrida e que em nada potencias as características do toureio do cavaleiro alentejano. Ainda assim, o cavaleiro voltou a demonstrar que está num momento doce da sua carreira e não há touro a quem ele não dê a lide adequada. E se não é possível a estética e o cumprimento do seu “pleasure of the artistic soul”, João aplica a correcção e uma atitude de poder. Noite muito positiva.
Manuel Silva, pelos amadores do Cartaxo, concretizou a pega ao terceiro intento.
Parreirita Cigano teve uma segunda actuação sem o impacto da primeira, mas que soube construir de menos a mais e terminando em plano muito positivo. Porém, o seu início de lide ficou muito aquém, perante um touro que também não era uma “pêra doce’ e muito menos um praliné para degustar. Este cavaleiro tem um enorme coração e no dia em que tiver uma quadra de cavalos mais capacitada, poderá subir muitos degraus no espectro tauromáquico nacional.
Tiago Nobre, pelo Aposento da Moita, concretizou ao primeiro intento numa grande execução do forcado da cara e do grupo.
As lides equestres tiveram o seu final com Luís Rouxinol Jr. O cavaleiro esteve impactante, com excelentes ferros, intercalados com outros menos bons, mas em que conseguiu fazer a sua raça e intensidade chegarem ao público.
Vasco Campino, pelos amadores do Cartaxo, concretizou ao primeiro intento.
Os touros saíram desiguais em comportamento, mas bem apresentados. Destacaram-se em ambos os factores, os três primeiros da corrida.
A corrida foi dirigida por Ana Pimenta, assessorada por José Luís Cruz.
Última nota de destaque para a Sociedade Filarmónica União Lafense, pela extraordinária escolha de repertório de pasodobles e pela qualidade musical empregue em cada interpretação.