No passado dia 6 de Outubro, a RTP transmitiu o espectáculo ‘100 Amália’, de Filipe la Féria.
Não o vi nesse dia, vi este domingo (dia em que repetiu na estação pública) e após ler a quantidade de críticas que lhe foram feitas…chego à conclusão que a inveja é realmente uma das características mais destacadas do povo português.
Foram as críticas “aos gritos”, foram as críticas ao guarda-roupa, foram as críticas até ao que não aconteceu, mas ouviram dizer…
Não há pachorra para esta corrente ideológica dos coitadinhos e em que temos de ser pequeninos, apresentar coisas sem graça, fazer em pequeno e tudo muito em poucachinho.
Já critiquei algumas coisas feitas por Filipe La Feria. Elogiei muitas mais. O Filipe La Féria tem a capacidade de nos provocar, de nos fazer sair da zona de conforto. Muito do que de bom temos tido em Portugal, principalmente no que ao teatro diz respeito, devemos a ele.
Se há outros que fazem coisas excelentes? Sim, há. Mas elogiar o Filipe não é denegrir os outros ou vice-versa. Temos de parar de ser extremistas e ver apenas o preto e o branco.
Quanto ao elenco, parece-me a mim que não deixa grandes dúvidas quanto à sua qualidade e as interpretações não me pareceram “vergonhosas” como aí se viu escrito pelos ‘críticos de redes sociais’.
E há coisas que já cansam. Não gostar de um artista é um direito que nos assiste. Humilhar, agredir (mesmo que apenas por escrito) e denegrir esse mesmo artista já me parece pouco, ou nada mesmo, razoável.
Tenho o maior respeito e consideração pela classe artística em Portugal. E ver nomes como Alexandra, Gonçalo Salgueiro, Anabela, FF, Vanessa, entre tantos outros a serem alvos de críticas, muitas delas infundadas, parece-me de uma tremenda ingratidão, falta de memória e, pior, desconhecimento total do que é representar ao invés de apenas cantar.
Este era um espectáculo a ser transmitido na televisão. Não é preciso ser um expert para perceber que foi trabalhado nesse sentido e, portanto, é nessa perspectiva que deve ser avaliado.
Filipe La Féria tem conseguido elevar a qualidade do teatro que é feito em Portugal. Aposta na qualidade, a sua obra está aí para ser avaliada e como humano que é logicamente que também comete erros.
Mas o mais importante relativamente a este espectáculo é, perceber que através dele, que muitos jovens e crianças possam ter uma primeira abordagem à obra de Amália e a partir daí partir em descoberta profunda sobre a Maior Artista de Sempre que Portugal teve, tem e terá!
As pessoas gostam de colocar rótulos aos outros para se conformarem melhor com a monotonia das suas vidas. Podiam investir o tempo em evoluir. Mas isso dá muito trabalho.
Ataques estes que chocantemente vieram, em sua esmagadora maioria, de colegas de profissão e de outros profissionais da área cultural. Pior, muitos deles com uma imagem de perfil nas redes sociais na qual se lê “Unidos pelo Presente e Futuro da Cultura em Portugal”, mas que ao verem os colegas a trabalhar numa situação de gritante emergência, os achincalham pelas redes sociais com todo o tipo de ofensas, algumas delas roçando o crime.
Afinal, não foi em vão que Luís Vaz de Camões terminou os Lusíadas com a palavra ‘Inveja’.