Graça Fonseca: “Carlos do Carmo transformou o Fado e abriu novos horizontes”

A Ministra da Cultura, Graça Fonseca, emitiu uma nota de pesar pela morte de Carlos do Carmo.

A Ministra da Cultura, Graça Fonseca, lamenta profundamente a morte do fadista e intérprete Carlos do Carmo (1939-2021), figura maior do Fado e da música portuguesa e que divulgou, em Portugal e no estrangeiro, a Cultura e a Língua portuguesas.

 

Natural de Lisboa e filho da grande fadista Lucília do Carmo e do empresário Alfredo Almeida, Carlos do Carmo nasceu no Fado e para o Fado, iniciando o seu percurso artístico em 1963, um ano depois de ter assumido a gestão d’O Faia, a mítica Casa de Fados de que o seu pai era proprietário.

 

Desde essa data, Carlos do Carmo apresentou o seu repertório em edições discográficas regulares, premiadas pela qualidade e pelo número de vendas, construindo e solidificando uma das mais exemplares carreiras do panorama artístico português.

 

Grande conversador e figura que transmitia uma enorme simpatia, característica que transportava para a sua forma de interpretar canções, Carlos do Carmo transformou o Fado e abriu novos horizontes, conseguindo estabelecer uma ponte entre a expressão mais tradicional desta arte, com a qual iniciou a sua carreira e à qual sempre regressou, com uma forma musical mais heterodoxa e uma síntese particularmente feliz entre tradição e inovação.

 

O percurso artístico de Carlos do Carmo representa a continuidade do Fado, um diálogo permanente entre uma visão pura e uma capacidade única de agitar as águas, que nunca procurou quebrar com a tradição, mas, no novo, encontrar mais e melhores formas de dar a conhecer o antigo.

 

Nunca devemos esquecer que Carlos do Carmo foi uma das maiores referências da interpretação do fado, mas também um dos seus grandes divulgadores, mostrando sempre uma especial preocupação com o conhecimento e estudo desta forma de música. Deste último aspeto, para além dos programas que apresentou e dos documentários em que participou, Carlos do Carmo foi fundamental no reconhecimento nacional e internacional do Fado, seja como consultor do Museu do Fado, seja como parte da Candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade da UNESCO.

 

Com estas características, Carlos do Carmo foi uma figura central na história do Fado, um elo de ligação entre tempos, entre os intérpretes e músicos que conheceu e que foram responsáveis pelas bases do que hoje conhecemos como Fado e os mais novos que no exemplo destes, e de Carlos do Carmo, foram abrindo novos caminhos.

 

Na sua arte, como no seu incansável trabalho de divulgação, exemplifica esta síntese perfeita entre tempos, pela forma arrojada com que sempre procurou inovar sem nunca perder de vista ou comprometer a sua ligação com a forma tradicional, algo evidente, por exemplo, no disco de 1977 “Um Homem na Cidade”. Esta obra, tanto de renovação como de continuidade, marca um antes e depois na história do Fado em Portugal. Trabalhando em conjunto com Ary dos Santos, José Luís Tinoco, Paulo de Carvalho, António Victorino d’Almeida, Martinho d’Assunção e Fernando Tordo, Carlos do Carmo contribuiu decisivamente para a transformação do Fado no final da década de setenta, constituindo a base mais antiga onde assenta toda a geração que nasce no final da década de 90 e hoje são as figuras destacadas deste género.

 

Carlos do Carmo foi um ator fundamental em muitos dos processos de mudança que Portugal e a sua Cultura viveram nos últimos cinquenta anos, dando a conhecer e valorizando o passado, mas criando as condições para o futuro do Fado, com o reconhecimento nacional e internacional que este género hoje tem, muito graças ao seu trabalho e ao seu talento.

 

A sua carreira, com mais de cinco décadas, e o seu exemplo, serão sempre fonte de inspiração, mas também vida feita em história do Fado, legado artístico maior e que constitui uma parte tão importante do património cultural português. A cultura portuguese perdeu hoje uma das suas vozes e um dos seus contadores de histórias que formam, no fundo, a nossa História.

 

À família e amigos enviam-se sentidas condolências.

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