João Salgueiro da Costa na Palha Blanco: Improviso, emoção e (in)compreensão

João Salgueiro da Costa na Palha Blanco: Improviso, emoção e (in)compreensão, na noite desta sexta-feira, 30 de Setembro.

João Salgueiro da Costa na Palha Blanco: Improviso, emoção e (in)compreensão

Texto: Rui Lavrador
Fotografias: Rute Nunes e Carlos Pedroso

A noite de 30 de Setembro de 2022 em Vila Franca de Xira prometia emoções fortes. Primeiro porque celebrava-se o 121º aniversário da Praça de Touros Palha Blanco, depois porque o cavaleiro João Salgueiro da Costa enfrentava 6 touros de distintas ganadarias, tendo como sobressaliente o seu pai, João Salgueiro.

Foram lidados touros das ganadarias (por ordem de lide): Vinhas, Veiga Teixeira, Canas Vigouroux, António Silva, Palha e Passanha.

Antes da corrida, decorreu a procissão das velas, ao som de ‘Ave Maria’ e ‘Verde, Verde Campo’, interpretados por Teresa Tapadas.

A praça registou aproximadamente 1/3 da sua lotação preenchida, numa noite fria, como aliás é habitual nesta altura em Vila Franca de Xira.

Começar por referir, sempre que um toureiro aceita ou se propõe a enfrentar seis touros em solitário, merece mérito, louvor e aplauso. Mas, e isto é importante, também exigência por parte do público e crítica, para que se supere.

João Salgueiro da Costa lidou em primeiro lugar um touro da ganadaria Vinhas. Belíssimo touro, a investir, a crescer durante a lide e que pedia suavidade, temple e ligação. O cavaleiro desenhou uma lide positiva, com dois ferros compridos pouco cingidos, mas melhorando na série de curtos. Os dois primeiros curtos são de excelente nota e no terceiro viu-se Salgueiro bordar o remate da sorte de forma extraordinária. Grande momento de Salgueiro da Costa! A espaços, Salgueiro esteve a muito bem a bregar o touro. Um pouco menos de velocidade e mais ligação e teria elevado a actuação a outro patamar. Trajou casaca castanha.

Pega concretizada ao primeiro intento por Caetano Galhego, dos Amadores de Santarém.

Para o segundo touro, Salgueiro da Costa trajou casaca encarnada, bordada a prata. Enfrentou um Veiga Teixeira. Um touro de bonitas ‘’hechuras’ e que em termos comportamentais foi de mais a menos. A actuação do cavaleiro foi em igual sentido. Bem no primeiro curto, de frente e pisando terrenos de compromisso. O piso da Palha Blanco começou a ficar solto, o touro a prender-se e a vir a menos. Salgueiro terminou a lide em patamar descendente após um ferro em que sofreu forte toque na montada. Ainda assim, lide positiva, mas sem triunfar.

Pega concretizada ao primeiro intento por Rodrigo Andrade, pelos Amadores de Vila Franca de Xira.

O terceiro touro desta noite foi da ganadaria de Canas Vigouroux, com 530Kg. João Salgueiro da Costa trajou casaca verde e ouro. Touro complicado, reservado e apenas a arrancar na certa, pouco franco na investida e perante o qual o cavaleiro sentiu fortes dificuldades. Nas reuniões, o touro cortou caminho e isso valeu alguns toques na montada e uma lide sem grande história, valendo pelo esforço. Actuação sem direito a música.

Pega concretizada ao quarto intento, numa sequência verdadeiramente heroica do forcado da cara, Francisco Cabaço, pelos Amadores de Santarém. Na primeira tentativa, o touro ensarilhou. Na segunda cuspiu fortemente o forcado. Na terceira, faltou grupo a fechar rapidamente. Na quarta e com ajudas carregadas, a pega foi concretizada com sucesso. Porém, muito mérito do forcado da cara a aguentar bem em todas as situações, até ao limite do possível.

Após intervalo para alisamento da arena, Salgueiro da Costa enfrentou um touro da ganadaria António Silva. Vestindo casaca encarnada, bordada a ouro, Salgueiro da Costa teve uma actuação de mérito, mas sem romper. Frente a um belíssimo touro, com investida franca, a responder aos castigos e a pedir que lhe pisassem os terrenos e fossem por direito, o cavaleiro apenas o entendeu na plenitude a partir do terceiro curto. E foi aí que a lide passou para um patamar muito positivo e a chegar às bancadas, com Salgueiro da Costa a arriscar, a pisar terrenos de compromisso e em terrenos apertados a conseguir reuniões com impacto, rematando em curto. Uma actuação em que foi pena Salgueiro da Costa ter demorado a entender o touro.

Pega concretizada ao primeiro intento, por Lucas Gonçalves, dos Amadores de Vila Franca de Xira.

O touro foi aplaudido na recolha e lamenta-se que não tenha havido direito a que o ganadeiro desse volta à arena.

Frente ao touro Palha, Salgueiro da Costa trajou casaca champanhe, bordada a verde, desenhando uma actuação de muito labor e que teve como ponto de maior destaque o quarto ferro curto, com o qual encerrou a lide, obrigando à investida do touro, após aguentar bem a arrancada do oponente, cravando de forma cingida e alcançando um dos melhores momentos da noite. Touro com poder, não complicado, mas exigente.

Pega concretizada ao segundo intento por Francisco Paulos, dos Amadores de Santarém.

A lide frente ao touro Passanha foi positiva e teve como ponto alto o último ferro curto, de excelente nota, numa actuação sem grande chama e com um touro que cedo também perdeu encanto. Trajou casaca azul e ouro. Touro com pouca transmissão.

Pega concretizada ao segundo intento por Rafael Plácido, dos Amadores de Vila Franca de Xira.

Assim, a noite teve momentos muito bons, intercalados com outros não tão positivos. No geral, João Salgueiro da Costa deu um passo em frente no seu percurso e ganhando consistência na sua concepção artística, poderá alcançar outros voos que há muito lhe são augurados, mas que faltam concretizar.

João Salgueiro da Costa não é um toureiro fácil de entender, funciona muito à base do coração e do improviso, com isso criando sempre uma aura de imprevisibilidade e emoção. Posto isto, mesmo quando as coisas não funcionam tão bem, deve ser valorizado. Porque é dos que arrisca, mesmo sabendo que pode correr mal.

Corrida dirigida por Tiago Tavares, assessorado por Carlos Santos e com José Henriques no cornetim.

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