Júlia Pinheiro: “senti-me tão enganada, mas tão enganada, que nunca mais militei coisa nenhuma”, revelou.


Em entrevista à SIC Mulher, Júlia revelou uma situação em que se sentiu enganada.
“Quando foi a despenalização do aborto, envolvi-me muito na campanha. Militei. Andei a recolher depoimentos, andei ombro a ombro com o grupo da sensibilização dos media para o tema, e isso trouxe-me um momento de grande constrangimento. Foi em frente à Assembleia da República (4 de fevereiro de 1998), numa manifestação, no dia da votação”, disse.
“Fizeram-se duas barricadas, de um lado estava eu com a Rita Blanco, a Inês de Medeiros, a Margarita Pinto Correia e do outro lado, uma série de senhoras também, a maior parte do colégio dos meus filhos, muito ligadas à campanha pelo lado católico. Aquilo passa (o projeto de lei do PS) e vi a Odete Santos caída no chão, tão emocionada que desmaiou. Os miúdos usam esta palavra à toa, mas foi de facto, épico. Eu entrei no táxi [entusiasmada], peguei no telefone, liguei para o meu marido e disse-lhe ‘isto vale a pena, a cidadania! Vamos mudar o mundo. A lei passou”, acrescentou.
“O meu marido disse ‘não te convenças. O Marcelo [Rebelo de Sousa], na altura líder da oposição, já tem tudo combinado com o [António] Guterres e já está tudo feito para que a lei tenha que ir a referendo’. E foi. No primeiro referendo, tombou. E nesse dia, senti-me tão enganada, mas tão enganada, que nunca mais militei coisa nenhuma. Foi a única e derradeira vez”, rematou.