Música em Portugal: A Mediocridade no Topo

Música em Portugal: A Mediocridade no Topo. Artigo de opinião sobre alguma da actualidade musical nacional.

Nos últimos anos, a música em Portugal tem sido invadida por uma onda de artistas cuja ascensão mediática parece assentar mais na construção de uma imagem do que no verdadeiro talento. A proliferação de músicos que se tornam fenómenos momentâneos, sustentados por redes sociais e playlists automatizadas, levanta questões sérias sobre a qualidade da música que chega ao grande público e a forma como este consome cultura.

Canções cansativas e saturantes

Num país onde sempre houve espaço para a diversidade musical e onde grandes nomes deixaram marcas incontestáveis na história, assiste-se agora a uma banalização do conceito de artista. O mercado tornou-se saturado por intérpretes de composições genéricas, sem identidade musical clara e com uma enorme dependência de fórmulas previsíveis. Canções sem substância, letras repletas de clichés e produções que seguem tendências internacionais sem qualquer traço de personalidade inundam rádios e plataformas digitais.

Este fenómeno deve-se, em grande parte, a uma indústria que privilegia números e engagement em redes sociais em detrimento da qualidade artística. Se um cantor tem uma presença forte no Instagram ou no TikTok, é quase certo que terá espaço nos principais festivais e que verá as suas músicas a rodar incessantemente. A música tornou-se um produto de consumo rápido, muitas vezes descartável, e o talento passou a ser um conceito secundário.

O público tem de assumir a sua parte de culpa

A culpa, no entanto, não é apenas da indústria – é também do público. A falta de exigência de uma grande parte dos ouvintes tem permitido a ascensão de artistas que não apresentam qualquer inovação ou qualidade. A aceitação passiva de música de fraca qualidade, aplaudida apenas porque é “fácil de ouvir” ou porque vem acompanhada de uma estética apelativa, contribui para o declínio geral dos padrões musicais.

Nesse sentido, enquanto artistas talentosos lutam para obter reconhecimento num meio cada vez mais saturado, figuras com pouco ou nenhum mérito artístico acumulam visualizações, concertos e contratos discográficos.

Assim se constrói uma cena musical onde a superficialidade vence sobre a autenticidade, e onde a música – essa arte que deveria emocionar, desafiar e inspirar – se transforma apenas em mais um produto de marketing.

A esperança

Ainda assim, nem tudo está perdido. Portugal continua a produzir músicos com uma identidade forte, capazes de criar arte autêntica e relevante. Há artistas que resistem à corrente. Que recusam seguir fórmulas vazias e que apostam na inovação e na qualidade. O público tem o poder de exigir mais, de apoiar quem realmente acrescenta valor e de quebrar o ciclo da mediocridade imposta. Enquanto houver quem lute pela música verdadeira, há esperança – mas essa mudança só acontecerá se houver vontade de ouvir para além do óbvio.

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