Quando ajudar alguém a brilhar é multiplicar o nosso próprio brilho. Uma maturidade sem receio da escuridão.
Vivemos tempos em que o ego parece ter-se tornado o centro da vida social. O culto da imagem, a pressa em mostrar cada gesto, a necessidade de provar constantemente valor perante os outros transformaram-se em rituais diários. Contudo, importa sublinhar uma verdade antiga, esquecida por muitos: quando ajudamos alguém a brilhar, não perdemos brilho; multiplicamos o nosso.
O brilho autêntico não é um recurso limitado. Não se gasta, não se dilui, não desaparece quando partilhado. É precisamente o contrário: ao ver o outro crescer pela nossa mão, ao sermos parte do sucesso alheio, expandimos a nossa própria luz. É um reflexo natural, uma consequência inevitável da generosidade verdadeira.
O ego e o seu lugar
O ego, tantas vezes apontado como vilão, não é, por si só, negativo. Precisa, porém, de lugar e de medida. Um ego saudável é centelha que nos ergue; um ego descontrolado é labareda que nos consome. Saber aplicá-lo em momentos pontuais, de forma ajustada, é sinal de maturidade. Mas usá-lo como bandeira permanente, como filtro de cada gesto, revela apenas fragilidade.
Aqueles que vivem para mostrar, para registar em vídeo ou fotografia cada ato, para expor no palco efémero das redes sociais a sua suposta grandeza, não o fazem por altruísmo. Fazem-no pela necessidade de serem vistos. Quem age para ser aplaudido denuncia, afinal, a ausência de uma estrutura interior sólida.
A diferença entre grandeza e vaidade
A grandeza não precisa de ser anunciada. Manifesta-se em silêncio, em gestos discretos que transformam mais do que mil discursos. Um verdadeiro mestre não teme a ascensão do discípulo; celebra-a. O verdadeiro amigo não receia o brilho do outro; enche-se dele. Um verdadeiro criador não teme dividir os louros; compreende que a arte e a vida são sempre experiências coletivas.
Em contrapartida, quem se sente diminuído pelo sucesso alheio revela uma vaidade mal resolvida. Vive na ilusão de que a luz é escassa, de que a felicidade é uma soma zero em que o brilho do outro apaga o seu. Essa ilusão é a maior prisão dos tempos modernos.
O brilho que se expande
A generosidade verdadeira é um ato de inteligência e de coragem. Exige desapego, exige maturidade, exige confiança naquilo que somos. E, sobretudo, exige que saibamos reconhecer que o brilho maior não é o que se guarda, mas o que se multiplica.
Quando elevamos alguém, quando estendemos a mão para que o outro suba, quando celebramos a conquista que não é nossa mas em que participámos, tornamo-nos maiores. Tornamo-nos parte de algo mais vasto, mais profundo, mais duradouro. Tornamo-nos constelação.
A essência do brilho
No final, é simples: quem ajuda outro a florescer, floresce também. Quem empresta luz, transforma-se em eternidade. As redes sociais podem dar palco a quem grita, mas é no silêncio do gesto sincero que se constrói verdadeira grandeza.
E, por isso, a escolha está em cada um de nós. Ser apenas reflexo passageiro de vaidades digitais ou assumir-se como chama que ilumina sem medo, que dá sem contabilizar, que brilha com os outros e nunca contra os outros.
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