Rui Salvador despede-se das arenas em 2024: “é o momento de me ir embora, porque sinto-me ainda com capacidade”, destacou.
O cavaleiro Rui Salvador despede-se este ano das arenas, aquando da celebração dos seus 40 anos de alternativa como cavaleiro tauromáquico profissional.
Na passada terça-feira, esteve na apresentação dos cartéis do Campo Pequeno, onde actuará a 22 de Agosto.
Após a apresentação, o cavaleiro concedeu declarações ao Infocul.pt.
Sobre o momento em que se despede das arenas, revelou que foi uma decisão pensada.
“Acho que tudo tem o seu tempo e há uma dificuldade, pela paixão que as pessoas incutem nas actividades que praticam e que amam, que faz com que se prolongue exaustivamente e sem necessidade, de má maneira. Não queria sequer que existisse a possibilidade de alguém olhar para mim e achasse que estaria a arrastar uma carreira, que a meu ver foi bonita e da qual me orgulho“, começou por referir.
“No ano passado não toureei e já tinha pensado que seria aquando dos 40 anos de alternativa que me iria despedir, verdade seja dita. Já tinha decidido há dois ou três anos que seria nessa altura, se tudo corresse bem e não houvesse alguma coisa que fugisse à trajectória normal“, acrescentou.
No ano passado actuou apenas num festival taurino em Vila Franca de Xira, logo no início da temporada.
Assim, destacou que “no ano passado optei por não tourear mais porque tinha vários projectos em mãos e tinha de cimentar o que estava a fazer, há que fazer opções“.
“Tenho quase 60 anos, faço 60 anos no próximo ano, não teria tempo de conjugar as coisas. Ao longo da minha vida fui sempre conjugando várias actividades na minha vida, mas desta vez não era possível“, reforçou.
“Quanto à despedida, é o momento. Tenho no activo uma quadra, com algumas peças novas, que me vai deixar fazer algumas coisas que gosto ou idealizo. Portanto, é o momento de me ir embora, porque sinto-me ainda com capacidade. Portanto, quer corra bem, corra mal ou seja extraordinário, seja definitivamente a minha última temporada“, afirmou.
“Estou a tentar este ano fazer uma trajectória com menos corridas que o normal, mas com corridas que considero importantes, em praças que foram importantes na minha carreira“, continuou.
Questionado se a praça de touros de Tomar estava acima de todas, disse: “Tomar, naturalmente, Campo Pequeno acima de tudo porque foi aqui que tirei a alternativa, é a catedral do toureio a cavalo, independentemente de tudo o que possa estar a acontecer, mas a verdade é que Tomar é outra das praças carismáticas da minha carreira, Nazaré, mas vai faltar algumas a que não vou, verdade seja dita“.
“É impressionante o carinho que se recebe das pessoas ao longo de uma carreira de quase 50 anos, lembramo-nos de muitos pormenores, de muitas atitudes, de momentos maravilhosos, alguns não tão bons como é óbvio, mas todos sempre relacionados com locais e pessoas”, destacou.
“É o último ano como profissional e quero estar dentro de uma praça de touros como me senti até hoje“, reforçou.
“Dar tudo aquilo que tenho, sentir-me feliz a fazer uma paixão que acho extraordinária, absolutamente enraizada na cultura portuguesa, pela qual nós portugueses e aficionados da festa brava devemos lutar, tenho muito orgulho no que fui, no que sou e será assim que estarei para o resto da minha vida“, disse Rui Salvador.
Questionado sobre o carinho de um público muito díspar em idades, dos mais novos aos mais velhos, alguns que antecedem em muito a existência de redes sociais, afirmou: “Esse carinho é aquilo que chamo de reciprocidade, porque eu dou tudo aquilo que tenho. Repare-se que 50 anos passa-se por muita gente, alguns infelizmente já não estão cá, mas tenho toureado todos os anos, com um número regular de corridas, com corridas importantes, estando no topo do escalafon, a lutar pelos primeiros lugar, uma luta saudável, que as pessoas começam a fixar o nosso nome“.
“Actualmente há maior dificuldade das pessoas em memorizar os nomes das novas gerações, que estão aí a lutar pelo seu lugar e vão ter um futuro brilhante, que vão fazer história, porque ainda cá estamos“, lembrou.
“Mas isso é algo pelo qual também passei, porque quando cá cheguei também havia toureiros aqui cimentados e nós tivemos de lutar e depois a seguir fizemos a nossa história. Isto é natural, são ciclos e fazem parte da vida, em qualquer actividade“, recordou.
“Nesta, vive-se com uma grande paixão, porque há muito em jogo, o perigo dos animais, além de outras situações que fazem com que não seja possível comparar com outra actividade“, rematou.
Nota de direcção: A direcção do Infocul.pt assinala e agradece, no ano de despedida do cavaleiro, a forma como Rui Salvador, o seu apoderado e restante equipa foram sempre disponíveis e cordiais com todos os nossos elementos.
Texto e Entrevista: Rui Lavrador
Fotografia: Nuno Almeida