A Sublime Noite de António Zambujo no Campo Pequeno deixou todos os que ali o foram ver, com vontade de regressar.
Texto: Rui Lavrador.
Fotografias: Diogo Nora.
Primeiramente, é importante destacar que, no Campo Pequeno, a noite de 21 de fevereiro de 2025 ficou indiscutivelmente marcada pela sublime arte e pela emoção que António Zambujo soube transmitir.
O talentoso e amplamente aclamado alentejano, conhecido pela sua voz ímpar e pelas suas interpretações verdadeiramente inebriantes, brindou a plateia com um concerto magistral.
Nesse sentido, referir que a lotação foi, como seria de esperar, completamente esgotada.
Acompanhado por um grupo de músicos virtuosos — José Miguel Conde, João Moreira, Francisco Brito, André Santos e Bernardo Couto — Zambujo encantou os ouvidos de todos os presentes.
Da mesma forma, o repertório cuidadosamente selecionado, que mesclava tradição e contemporaneidade de uma forma única, levou a plateia numa verdadeira viagem emocional, da qual todos saíram enriquecidos.
Os convidados especiais de Zambujo no Campo Pequeno
Então, foi, sem dúvida, uma experiência enriquecedora, não só pela qualidade musical, mas também pelo impacto de cada canção interpretada.
Em “Recuerdos”, um verdadeiro hino à amizade e à partilha artística, em colaboração com três dos seus convidados especiais, apostou numa delicadeza rara, que elevou ainda mais o espetáculo, enchendo o palco de uma harmonia ímpar.
Simultaneamente, os convidados especiais, Malena Rampi, Afonso Albuquerque, João Kopke e Teresinha Landeiro, trouxeram um brilho adicional à performance.
Ou seja, os 4 enriqueceram o espetáculo com uma versatilidade rara. A cumplicidade musical entre eles foi evidente, criando uma atmosfera de pura elegância que envolveu toda a audiência.
O desdobrar de um alinhamento à medida
Similarmente, o alinhamento do concerto foi, em si, uma verdadeira jornada sonora pelas emoções e pela alma.
Tal qual a inclusão de clássicos como “Guia” e “Sagitário” e também na interpretação de canções como “Leva-me de mim” e “Brazaville”, Zambujo foi conduzindo o público por um percurso onde cada música parecia falar diretamente ao coração.
Por isso, qual spoiler, o concerto culminou num final arrebatador com “Menina Estás à Janela”, canção que fez o público vibrar em uníssono.
Por outro lado, a interpretação de “Tempo”, na voz de Teresinha Landeiro, tocou profundamente os corações mais sensíveis, deixando uma marca de saudade e melancolia que pairou no ambiente durante alguns minutos.
Pelo meio, foi também de realçar a estreia ao vivo de “Aurora”, tema que foi lançado na véspera e que uniu as vozes de Teresinha Landeiro e António Zambujo, gerando uma empatia mágica entre ambos, que se traduziu numa performance de rara beleza.
Sobre António Zambujo, o que mais impressionou foi a constante capacidade de entregar momentos de requinte visceral, que cativaram profundamente os presentes. Faixas como “Sagitário”, “Catavento da Sé”, “Lua”, “Visita de Estudo” (com o hilariante esquecimento de uma parte da letra), “Madera de Deriva”, “Sinal da Cruz” e “Se algum dia quiseres” (com todos os convidados) foram, sem exceção, performances incrivelmente belas que sublinharam a genialidade do artista.
A delicadeza como bela rara qualidade
A delicadeza, qualidade rara nos dias de hoje, esteve patente em cada acorde e em cada interpretação. A mestria de Zambujo, aliada à excecional qualidade dos músicos que o acompanharam, resultou num espetáculo de uma beleza e intensidade poucas vezes vistas, onde a música se revelou, mais uma vez, a linguagem universal que une e emociona.
Portanto, foi mais um testemunho da genialidade e do talento incomparável de António Zambujo, que soube desdobrar o seu repertório com inteligência e sensibilidade, conduzindo os presentes por um labirinto de emoções, nostalgia e melancolia. A sua voz serena entrelaçou-se harmoniosamente com os ritmos sedutores dos instrumentos, criando uma performance musical de rara sofisticação e elegância.
Simultaneamente, o concerto foi uma noite de pura magia e encantamento. António Zambujo, com maestria e sensibilidade ímpar, celebrou a poesia da vida e da música, numa fusão perfeita de arte e emoção. Como brincou durante o espetáculo, num tom descontraído, está na”pré-reforma”, uma vez que está prestes a celebrar 50 anos, mas reforçou, de forma inquestionável, o seu estatuto como um dos maiores ícones da música portuguesa contemporânea.
Assim, sob os aplausos efusivos e os suspiros emocionados da plateia, a sua delicada voz ecoou no Campo Pequeno, perpetuando-se na memória daqueles que tiveram o privilégio de testemunhar uma brisa musical de tão fina fragrância.
Por fim, assinalar que se a semente do seu talento brotou do Alentejo, é inegável que o fruto amadureceu e foi acolhido pelo mundo, tal a legião de fãs que António Zambujo conquistou ao longo dos anos.
Se o mundo anda temerário com tantas balas, a música de qualidade continua a ser porto seguro para as boas almas, tal como a Sublime Noite de António Zambujo no Campo Pequeno demonstrou.
Alinhamento de António Zambujo no Campo Pequeno:
– Guia
– Sagitário
– Catavento da Sé
– Leva-me de mim
– Brazaville
– Casa Fechada
– Apelo
– Reader’s Digest
– Flagrante
– Algo Estranho Acontece
– Lua
– Zorro
– Gota de Água
– Visita de Estudo
– Recuerdos (com Malena Rampi, Afonso Albuquerque e João Kopke)
– Calma (Malena Rampi e Afonso Albuquerque)
– Vento Norte (Afonso Albuquerque e João Kopke)
– Madera de Deriva
– Pica do 7
– Aurora (com Teresinha Landeiro)
– Tempo (Teresinha Landeiro)
– Sinal da Cruz
– Nem às paredes confesso
– Sem palavras
– Dancemos um slow
– Lote B
– Se algum dia quiseres
– Menina Estás à Janela