‘A Viagem‘ de Luís Fialho: “O caminho perfeito é feito na estrada da imperfeição”, assinalou o artista em entrevista.
Entrevista: Rui Lavrador e Diogo Nora
Fotografias: Diogo Nora
Do estúdio ao palco: o disco que “junta a comunidade toda”
O músico Luís Fialho apresentou ao Infocul o primeiro álbum, “A Viagem”, e explica porque o título diz tudo. Desde logo, sublinha que o registo cruza memórias pessoais, estrada profissional e histórias ficcionadas que sempre quis cantar. “Este primeiro disco… é mesmo uma autêntica viagem, porque fala tanto da minha vida pessoal como profissional, como também de algumas histórias que eu imaginei e sempre quis ver escritas em canções.”
Depois, destaca o espírito de bloco que o guiou no processo. “Acho que é um trabalho que conseguiu juntar a minha comunidade toda; consegui buscar os meus músicos, juntar amigos, conhecer artistas novos… fui ver um bocadinho a cada pessoa para criar este trabalho.”
Fado à vista: a entrada de Inês e um dueto “de destino”
Entretanto, um dos momentos marcantes do álbum nasce de um encontro improvável. “A Inês [de Vasceoncellos] surge neste projeto sobre as mãos do destino: recebi um convite, sem a conhecer, para ir a uma listening party. Cheguei lá, adorei o tema [Mãos do Destino], adorei a voz da Inês e percebi que ela ia encaixar perfeitamente na ‘Viagem’.”
Segundo o músico, fazia todo o sentido ter um tema com travo a fado. “Sempre quis ter um tema com fado… já cantei muitas vezes fado e acho que são dois estilos que andam sempre à distância de um rio.”
Cante alentejano no centro: identidade primeiro, rótulos depois
Contudo, a bússola criativa continua assente no cante alentejano. “Quando é mais cante, sou mais eu. O cante é uma forma de fechar os olhos e sentir que estou no campo amarelo, a falar com as minhas pessoas. Para mim, é um estilo de vida.”
Fialho recusa moldar canções ao algoritmo. “No processo criativo não penso no que é mais comercial. Faço exatamente aquilo em que acredito; se não for assim, fujo às minhas origens.”
Pop, cante e… hip hop: a mistura que “ninguém fez”
Além disso, arrisca fusões pouco vistas. “Estou a misturar o cante com coisas que nunca ninguém misturou. Tenho uma canção, ‘As Quatro da Madrugada’, em que juntei cante alentejano com hip hop. Se tirares o instrumental, o refrão é um modelo alentejano autêntico.”
O artista quer o cante “em todas as salas e rádios do país” e prova-o com detalhes: “Em ‘Vem Ter Comigo’, com roupagem pop, cai um grupo coral no final para encerrar a canção. Ninguém tem feito isto.”
Canções, autores e produção: a equipa por trás do som
Por outro lado, Fialho não esconde a admiração pelas penas que o acompanham. “Tenho uma canção que é talvez, em composição, a minha preferida… ‘A Viagem’ não foi escrita por mim. É a minha canção preferida do álbum.”
Sobre a ficha técnica, remata: “Contei com a produção do João Direitinho, do Tomás Cartaxo, do David Mendonça, do Khiaro — não há canção onde ele não tenha posto a mão — e do David Lopes.”
Entre os temas já revelados, “Maria do Café” assume perfil mais radiofónico, mas o músico vinca que o disco combina faixas pop e momentos acústicos.
Influências assumidas e pontes geracionais
Além do estúdio, há referências claras no radar. “Admiro muito os Monda; foram dos primeiros a tirar o cante fora da caixa. Ouço os discos deles em repeat. Gosto do Buba Espinho e do Luís Trigacheiro, e inspiro-me em muitos grupos corais.”
Frase-mantra e margem para errar
Fialho escolhe uma ideia-chave que define o percurso. “O caminho perfeito é feito na estrada da imperfeição.”
E acrescenta, sobre evolução artística: “Tenho feito muitos erros, mas estou a aprender com eles. Nunca me deixei ir abaixo.”
A “Viagem” em palco: tour temática e sonho em Évora
Por fim, a estrada chama. “Estamos a preparar uma tour toda à volta do conceito de viagem para o próximo ano: vamos andar com as malas, uma estética ligada ao caminho, mas sempre com um cheiro fortíssimo a Alentejo.”
Quanto ao mapa, primeiro Portugal, depois o mundo. “Quero dar primeiro aos portugueses e, se me convidarem, vou lá para fora.”
E há objetivo declarado: “Adorava fazer a Arena de Évora. Antes de um Coliseu, quero dar ao Alentejo para depois ir dar aos outros sítios.”
Em síntese
Com “A Viagem”, Luís Fialho estreia-se em disco sem trair o ADN: cante alentejano, escrita emocional, produção moderna e pontes corajosas com a pop e o hip hop. Pelo caminho, afirma um lema que cabe no bolso e no coração: “O caminho perfeito é feito na estrada da imperfeição.”
A entrevista foi realizada minutos antes da apresentação do seu disco ao público e cuja reportagem pode ver em: Luís Fialho apresentou o primeiro disco e convida a uma “Viagem” intensa e profunda




