Dilúvio Sem Deus, de Joana Amaral Dias, recorda a “tragédia escondida pelo regime salazarista e esquecida pela democracia”

A Oficina do Livro edita amanhã, 8 de setembro, “Dilúvio Sem Chuva, As Grandes Cheias do Tejo de 1967”, de Joana Amaral Dias, obra na qual a psicóloga clínica procura “resgatar a História e redimir as vítimas do esquecimento” daquela noite de Novembro em que a maior tragédia natural ocorrida da região de Lisboa e Vale do Tejo – a seguir ao Terramoto – fez mil mortos. “Uma tragédia escondida pela ditadura e esquecida pela democracia“, refere o comunicado.

Naquela madrugada de 26 de novembro de 1967, a população da grande Lisboa, desde o Estoril a Oeiras até Alenquer e Vila Franca de Xira, passando por Queluz, Loures ou Odivelas, acordou em sobressalto e deu de caras com a morte e a destruição. Em algumas horas, caiu a chuva equivalente à de um mês inteiro. O nível da água do Tejo subiu quatro metros. Os cursos de água em redor de Lisboa transbordaram. De um momento para o outro, centenas de rios e ribeiros invadiram as ruas da capital e arredores. Pessoas, animais, barracas, automóveis, mobílias e destroços diversos foram levados pela água e engrossaram caudais mortíferos que levavam tudo à sua frente, afogando homens e mulheres, arrancando árvores, demolindo habitações. As maiores vítimas foram os que residiam em construções precárias e em barracas.As Grandes Cheias de 1967 estão entre as 80 maiores inundações do mundo. E foram as mais graves na Europa e maior tragédia da região de Lisboa e Vale do Tejo a seguir ao Terramoto de 1755“, acrescenta o comunicado.

Este livro é uma homenagem à jovem Teresa Fajardo, aos sete elementos da família Ribeiro Garrido, aos quatro da família Graça, à bebé Ana Cristina Ribeiro de Abreu, de um ano, que apareceu a boiar na ribeira do Jamor, e às mais de mil vítimas. Mortes, na sua maioria ocultadas pelo regime salazarista, que obrigou as autoridades a fecharem a contabilidade aos 426 cadáveres.

Apesar dos esforços do governo de Salazar para ocultar a dimensão da tragédia, as Grandes Cheias de 1967 revelaram o atraso e a miséria em que se vivia no «país presépio» apregoado pelo ditador. Este Dilúvio sem Deus despertou a consciência social e política de estudantes, católicos progressistas e muitos outros portugueses e funcionou como a espécie de antecâmara para o derrube da ditadora, escassos sete anos depois”, refere ainda o comunicado.

Joana Amaral Dias nasceu em 1975. É psicóloga, professora universitária, política, activista e comentadora. Colabora com vários meios de comunicação social e publicou diversos livros, como Maníacos de Qualidade, O Cérebro da Política, Sonhos Públicos e o bestseller Psicopatas Portugueses.