17ª Grande Gala do Fado Carlos Zel: Homenagem a Nome Maior do Fado

 

 

 

O Salão Preto e Prata, no Casino Estoril, recebeu esta quarta-feira, 23 de Janeiro, a 17ª Grande Gala do Fado Carlos Zel.

Uma noite em que a memória, a tradição e o glamour se uniram em redor de um nome marcante do Fado. Pelo palco do Casino Estoril passaram, com a sua arte, Miguel Tira-Picos, Gisela João, Ricardo Ribeiro, Fábia Rebordão, Rão Kyao, Ana Sofia Varela, Helder Moutinho, Katia Guerreiro e Jorge Fernando.

 

Os fadistas foram acompanhados, instrumentalmente, por José Manuel Neto na guitarra portuguesa, Carlos Manuel Proença na viola de fado e Daniel Pinto no baixo. A apresentação da gala esteve a cargo de Ricardo Carriço.

Ao elenco inicialmente previsto, há a destacar a ausência de Cuca Roseta, por motivos de saúde, sendo substituída por Fábia Rebordão. Uma noite na qual o nível das actuações foi de qualidade superior, há a destacar o reconhecimento que todo o elenco fez ao homenageado.

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O Infocul falou com alguns dos fadistas do elenco que nos revelaram algumas curiosidades sobre Carlos Zel, vividas na primeira pessoa.

Ana Sofia Varela revelou, ao Infocul, que Carlos Zel “tem toda a importância, foi uma pessoa que deu muito ao fado, impulsionou o fado, criou muitas noites, inclusive aqui no Casino, as quartas de fado, que enchiam sempre que as fazia, trouxe cá toda a gente, malta nova, os mais velhos, passaram todos por cá e infelizmente não fez mais porque chegou a sua hora. Infelizmente, mesmo, porque ele era novo e era daqueles fadistas que ainda devia estar cá. Eu costumo dizer que é meu padrinho, porque foi ele que me apresentou. Eu comecei no Clube de Fado Amália, onde ele ia com alguma frequência, que era em Cascais, na Quinta da Bicuda, eu vivia em Serpa, depois vim morar para Lisboa, depois voltei para Serpa e ele ia lá muito e houve lá um concurso da casa de fados do Clube Amália e entretanto ele apresentou-me ao Mário Pacheco, ou seja ele foi a primeira pessoa a fazer-me dar os primeiros passos”, acrescentando que “ele sempre achou que eu era bastante fadista” e queria que “lutasse sempre pelo fado, sempre humilde e que cantasse com garra, porque ele era uma pessoa com bastante garra a cantar e inovador ao mesmo tempo, mas sem perder as raízes, ou seja ele dava-me esses conselhos e era uma pessoa muito divertida e fadista”.

Por sua vez, Katia Guerreiro relembrou, ao Infocul, que “um dos meus primeiros concertos, ainda partilhado, foi com o Carlos Zel, em Vila Real na Casa de Mateus, no Festival Internacional de música”, sendo que “o Carlos Zel convidou-me sem me conhecer, só que confiou nalgumas pessoas que me tinham ouvido, nomeadamente o João Veiga e o Paulo Parreira, com quem eu já estava a começar a fazer algumas coisas privadas”, ou seja, “o início da minha história no fado começa exactamente com o Carlos Zel e as amizades que eu criei nessa ida a Vila real com o Carlos Zel, mantêm-se até hoje”. A fadista disse ainda que “é muito difícil falar de fado sem se falar no Carlos, era um fadista de mão cheia, tinha uma raça a cantar extraordinária, tinha o gosto pela escolha da poesia e há muita gente que canta coisas do repertório do Carlos, que para quem estava atento naquela fase em que o fado estava mais adormecido, as pessoas reconhecem como sendo do repertório do Carlos, mas hoje há muita gente a cantar temas do Carlos, fazendo grandes êxitos com esse repertório”.

Helder Moutinho afirmou que “ele marcou uma época e uma geração muito importante, especialmente a geração dele, não houve ninguém da geração dele que fosse tão importante como ele, na minha opinião, tanto a nível nacional como a nível internacional, porque ele fez questão de exportar muito, fazer concertos lá fora e sei que ele foi uma grande influência para esta geração que veio a seguir, não propriamente a seguir, mas na minha geração ele foi muito importante por exemplo para mim, porque ele foi uma das primeiras e principais influências”.

Jorge Fernando recordou “sobretudo as múltiplas vezes que toquei viola com ele, tendo como guitarrista o seu irmão Alcino Frazão, éramos duas crianças, eu e o Alcino, e corremos mundo a tocar com o Carlos, recordo-me que algum tempo depois do 25 de Abril, fomos cantar ao norte de Portugal, e o Carlos cantou o “Oh tempo volta para trás”, num acto de coragem, defendendo aquilo em que ele acreditava e recordo-me que tivemos mesmo que fugir nessa noite, mas o Carlos era assim, corajoso”.

Fábia Rebordão relembrou que “ainda tive o privilégio de o conhecer muito no meu início e de cantar inclusivamente aqui, nesta mesma gala com ele, portanto eu deveria ter uns 15 anos, infelizmente não pude conviver muito com ele mas lembro-me perfeitamente”, destacando que Zel foi “sempre um amor, uma simpatia e um arrepio de cada vez que ele abria a boca e soltava a sua alma”.

 

Ricardo Ribeiro recordou, no palco, que Zel foi “dos primeiros a ajudar-me na música“. Rão Kyao disse mesmo que “Carlos Zel deixou um lugar que está vazio” e Gisela João também lhe tributou palavras elogiosas.

 

Destacar o facto de a Gala ter sido gravada pela Antena 1 e RTP 1 para posterior transmissão. O Infocul agradece ainda à produção do espectáculo (José Gonçalez) e ao Casino Estoril (Luís Paralta) todas as facilidades concedidas para a realização do nosso trabalho.

 

 

Texto e Entrevistas: Rui Lavrador
Fotografia: João de Sousa