Duarte Nuno Vasconcellos termina a longa entrevista ao Infocul.pt abordando o espectáculo “Once in Fado” que levará nos dias 13 e 14 de Junho a Londres. Numa co-produção da Buzico com a Fatum – The Colours of Fado, na pessoa de Manuel Marçal e Sofia Noronha. Este espectáculo contará com o alto patrocínio da Embaixada Portuguesa no Reino Unido. A autoria do texto será de Tiago Torres da Silva. E o elenco? Duarte desvenda-nos dois nomes, confira quais.
A Buzico prepara novidades além-fronteiras…
Há novidades cá dentro mas também há novidades além-fronteiras.
O que está a ser preparado pela Buzico?
O que está a ser preparado é um espectáculo que a Buzico foi desafiada a fazer. O desafio partiu do Manuel Marçal, que é dono de uma empresa chamada Fatum-The colours of Fado, de carácter turístico e que tem como objectivo levar os turistas que chegam a Portugal a fazer uma noite fado, mas não a tradicional feita para turistas. Em que vão aquelas casas de fado, que nós portugueses frequentamos, e onde o Manuel faz a explicação do que é a letra e que determinado tipo de letra é acompanhada por um tipo de melodia. Daí surgiu a ideia de um espectáculo para levar além-fronteiras. Quando essa ideia lhe foi proposta ele veio ter comigo, somos ambos residentes no Village Underground Lisboa, e questionou “queres produzir isto comigo pois preciso de ajuda para a produção?”. E eu disse que sim e que embarcava na aventura. Inicialmente não era para ser feito em Londres o primeiro espectáculo, era para atravessar o Atlântico, mas foi sugestão minha que deveríamos começar por Londres. A nós juntou-se a Sofia Noronha, que é produtora e vive em Londres, e que é os nossos olhos, braços e pernas em Londres. E todos os contactos que têm sido feitos, são com marcas portuguesas que vão estar presentes, mas têm sido feito em Londres e pela Sofia. No início deste ano eu e o Manuel fomos a Londres, onde estivemos reunidos com alguns dos patrocinadores, uns já fechados, outros ainda não, para o projecto “Once in Fado”. O espectáculo é uma ideia original do Manuel Marçal, o texto está a ser escrito pelo Tiago Torres da Silva e a encenação estará a cargo da Matilde Torcato. A ideia inicial começou por ser um conjunto de Fados e a explicação dos mesmos, entretanto o espectáculo tornou-se num “espectáculo experiência”, onde tendo em conta os vários patrocinadores que nós temos, a ideia será as pessoas viverem uma experiência lisboeta que é no sentido de quando entram no espaço, têm produtos portugueses (queijos, vinhos, cerveja) que existam à venda no país [Inglaterra], e que no seguimento levará as pessoas a desaguarem num cenário de uma casa de fados. E nesse cenário iremos ter fadistas que irão interpretar vários tipos de fado e que terão a tal explicação em inglês, neste caso, do que está a acontecer em português.
Quem serão os fadistas que irão integrar o cartaz?
Há dois nomes que posso falar, um terceiro ainda não está fechado. Posso falar de Matilde Cid e Francisco Salvação Barreto que estão certos. Temos um terceiro nome com quem estamos em negociações mas que não posso falar, posso apenas dizer que é uma figura mais mediática.
Apoios e Patrocinadores…
Desde o primeiro minuto em Londres temos tido o apoio incondicional quer do Senhor Embaixador de Portugal no Reino Unido, quer da Secção de Cultura da Embaixada, quer da Secção Comercial da Embaixada, que nos têm dado todo o apoio em abrir as portas. Temos portanto o apoio institucional e completo da Embaixada e desde a primeira hora sem qualquer tipo de restrições. Quando chegámos a Londres levávamos de Portugal dois pesos pesados como patrocinadores, um pela razão óbvia e importância que tem que é o Museu do Fado, portanto o Museu do Fado associou-se ao projecto e para nós é importante porque o Museu do Fado não deixa de ser o repositório da defesa do Fado como Património Imaterial da Humanidade e saímos de Portugal também com uma parceria de media que acho muito interessante que é a SIC, principalmente na sua versão da SIC Internacional. Para além disso temos tido o apoio do Village Undreground de Lisboa e de Londres e depois temos um conjunto de outras entidades que se estão a associar, desde logo a TAP Air Potugal que é nosso parceiro, e há outros que ainda estamos a fechar e que não vou falar.
Dada a grandiosidade e dimensão do projecto, questiono de onde vem o financiamento para “Once in Fado”?
Surge destes patrocinadores que referi. Algumas entidades estão associadas ou por troca de géneros ou por troca de apoio financeiro. Nós temos um budget feito, não querendo entrar em detalhes há a possibilidade de termos um main sponsor, e nesse caso teremos um cabeça de cartaz a apresentar o espectáculo, um cabeça de cartaz no sentido de ser essa marca a apresentar o espectáculo. Portanto isso poderá ser uma realidade, e depois claro, temos entidades que nos apoiam em géneros, por exemplo a TAP apoia-nos com as viagens, algumas das marcas que estarão presentes na primeira parte do espectáculo apoiam comprando um espaço para marcarem presença. Há toda uma mecânica, que para nós em Portugal não é habitual, mas que lá faz todo o sentido.
Não falando especificamente em números, questiono. Quanto custa um espectáculo desta dimensão?
Tenho noção que custa muito.
Queres adiantar algum valor?
Eu gostava de não falar de valores, mas posso dizer que está nas dezenas de milhares de libras, não estou a falar de euros. Está na casa das dezenas de libras, não está na primeira casa, não está na segunda, mas não vou adiantar mais. Mas é da terceira para cima.
Deixando os valores monetários e passando aos valores sentimentais e culturais. Como te sentes, enquanto produtor, em levar os cheiros, os aromas, os sabores, a tradição e cultura portuguesa além-fronteiras?
Vou-te dar um exemplo. Nos dias em que estive em Londres a trabalhar com o Manuel e com a Sofia, entre as reuniões no final de Janeiro, eu andei sempre com uma samarra alentejana pela cidade de Londres e fez imenso sucesso. Mas era uma mistura pois andava com uma samarra alentejana e ao mesmo tempo com uma chapéu que comprei em Londres há muitos anos. Mas sou muito apologista de defender o que é nosso. Fazendo aqui uma chaveta, os projectos que estão planeados para a Buzico produzir ou co-produzir este ano são tudo espectáculos que têm autores portugueses, intérpretes portugueses, encenadores portugueses. Eu não tenho nada previsto que não seja português.
2016 é um ano de portugalidade para a Buzico?
Tem sido sempre de portugalidade para a Buzico…
Mas a 100%…
Eu não diria a 100% porque não sei o que vai acontecer até ao final de 2016. Mas posso dizer que até ao final de temporada teatral que é Junho/Julho, é 100% portuguesa.
“Once in Fado” terá a sua primeira apresentação em Londres. Se por um lado mostras a nossa cultura no estrangeiro, não achas que este espectáculo faz sentido em Portugal, onde muitos dos portugueses continuam sem valorizar a sua cultura?
Está previsto por nós que este espectáculo não se fique apenas pelas duas datas que estão fechadas em Londres.
E que são?
Dias 13 e 14 de Junho. E são os dois dias subsequentes ao dia 12 de Junho, o dia que em Londres será comemorado o “Dia de Portugal”, portanto nós não deixamos de estar com estas datas associados às comemorações do Dia de Portugal no Reino Unido, ou pelo menos na capital, Londres. A nossa ideia é o espectáculo voar para além destas duas datas. Poderá haver a possibilidade o “passear” pelo Reino Unido, mas ainda estamos numa fase de estudo, mas há contactos que já estão a ser feitos com a hipótese de o espectáculo poder ser feito em Paris e Berlim. Há também a hipótese de poder ser feito nos Estados Unidos da América e no Brasil. Estes são os sítios que têm estado a ser estabelecidos contactos em paralelo com esta produção em Londres. Claro que faria e faz todo o sentido colocar a hipótese de o trazer a Portugal, neste preciso momento não é uma coisa fechada, porque a ideia foi sempre levar para fora e não apenas numa logica de apresentar aos nativos ou residentes nos sítios mas também aos residentes portugueses. Nós não queremos que o espectáculo tenha só pessoas que vivam em Londres e que não sejam portuguesas. Nós queremos também ter público português. Nós temos todo o gosto em ter público português até porque muitas vezes não conhecemos as nossas próprias coisas. Eu quando estive em Londres por exemplo entrei num bar, daqueles em que se vê futebol, estava cheio e a cerveja que lá bebem é Sagres. Eu sei que por exemplo vão agora três fadistas actuar em vários sítios de Londres, e já têm os bilhetes esgotados, porque as pessoas gostam. E não são apenas portugueses. Portanto esperamos que este espectáculo abranja vários públicos.
Esta é a maior loucura da Buzico, enquanto produção de espectáculo?
É difícil responder. Porque se formos falar de valores monetários…
Estamos a falar de um todo…Uma coisa é produzires um espectáculo em Portugal, outra é produzires num país em que não estás implementado…
Nunca tinha pensado nessa questão. Pode parecer presunçoso o que vou dizer mas não é. Nunca tinha pensado, é a primeira vez e porque me fazes a pergunta. Eu vejo o desafio deste espectáculo da mesma forma que encarei ir para um Coliseu de Lisboa fazer por duas vezes, três dias de “Esta vida é uma cantiga”, e de ter em co-produção com a ArtFeist o “74.14” no Coliseu de Lisboa. É obvio que há a dimensão internacional e que terá outro peso mas neste momento em que ainda não se concretizou…O Coliseu não é uma sala fácil de encher e nós enchemos com “Esta vida é uma cantiga” e com “74.14”. E eram espectáculos de risco, “Esta vida é uma cantiga” era um espectáculo de musica portuguesa de revista que poderia ser datado, e tivemos pessoas de variadíssimas faixas etárias. Não foi apenas a faixa etária que viveu os tempos áureos da revista que foi ver aquele espectáculo, o “74.14” eram quarenta anos de música que tinham sido um sucesso em Portugal na democracia mas era um risco. Quarenta anos abrange muitas faixas etárias. Foi fascinante ver o Coliseu cheio e o público a cantar com os artistas. Houve muitos velhos do Restelo a criticar o facto de irmos fazer o “Esta vida é uma cantiga” no Coliseu de Lisboa e foi muito gratificante ver esses mesmos Velhos do Restelo reduzirem-se à sua insignificância.
Para terminar questiono, achas que este espectáculo pode levar a Buzico para outros voos?
Olha bem pensado…Provavelmente.
Estás preparado para isso?
A razão de poder levar a Buzico para outros voos, ainda faz muito mais sentido este ano, em que estamos a produzir conteúdos exclusivamente portugueses. E isso abre portas para levarmos coisas portuguesas e de qualidade, modéstia a parte, para fora de Portugal.