“No quarto” de André Santos ouve-se boa música e com bons convidados…

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André Santos levou ontem ao Auditório Fernando Lopes Graça, no Fórum Romeu Correia em Almada, o espectáculo “Música no Quarto” tendo como convidados Ana Laíns, Joana Melo e Pedro Jóia.

 

André Santos proporcionou ontem em Almada um dos concertos mais puros a que assisti ultimamente e contou com convidados de luxo: Ana Laíns, Joana Melo e Pedro Jóia.

 

 

“Música no Quarto” era o nome do espectáculo e foi isso mesmo que aconteceu. Fomos ao quarto de André Santos e ele tocou, e que bem que tocou, para nós os temas que por norma só no seu quarto dedilha na viola.

 

 

Hoje quando acordei e vi a chuva torrencial pensei, a mim não me apetece ir tocar quanto mais as pessoas irem ver” disse a abrir o espectáculo soltando gargalhadas no público. E foi com naturalidade que dedilhou dois temas de Carlos Paredes, ou melhor, um composto por Afonso Correia Leite (mas celebrizado por Paredes) e outro sim de um dos maiores génios da guitarra em Portugal.

 

 

Por entre férias e digressões, sim porque vida de artista a isso obriga, André Santos foi compondo alguns temas como “Tavuhera” (composto no Algarve) e “Ponta de São Lourenço” (composto na ilha da Madeira).

 

 

Quando estudava guitarra havia o reportório obrigatório e eu questionava ao meu professor porquê, respondendo ele, porque é o que todos tocam” começou por dizer o músico antes de explicar que aproveitando o espectáculo em nome próprio iria tocar o que lhe apetecesse. “Fantasia” de António Vitorino de Almeida foi o tema que se seguiu e no qual André Santos mostrou toda a sua qualidade (é importante salientar a qualidade deste artista que sozinho em palco se agigantou e mostrou as suas vastas aptidões musicais, devendo ser seguido com especial interesse pelos amantes de boa música).

 

 

Após uma “Valsa Matina” o músico disse que “é uma grande seca ouvir um concerto inteiro de guitarra a solo” e chamou ao palco a primeira convidada da noite, Ana Laíns.

 

 

Sobre Ana Laíns pouco se escreve mas e porque dos fracos não reza a história, voltou a mostrar que é uma artista impar em Portugal. Toda a sua postura, todas as suas palavras transmitem amor. Amor a Portugal, amor às suas gentes, amor às tradições, amor à música.

 

 

E foi acompanhada por André Santos no instrumental que interpretou “Os meus olhos são dois cirios” em melodia de fado menor, “Não sei quantas almas tenho” e “O mundo é um moinho”. Em todos estes temas a voz de Ana Laíns foi a melhor transmissora dos sentimentos dos poetas. Recebeu das maiores ovações do público, mais do que merecidas, pela afinação, pela alma, pela garra, pelo sentimento colocado em cada palavra dos poetas. Porque Ana Laíns canta com o coração e o público reconheceu.

 

 

“Sonata ao Chiado Antigo” e “Ponte dos Lamentos” inspirada numa ida a Veneza efectuada pelo músico antecederam a subida a palco da segunda convidada da noite, Joana Melo.

 

 

Começou por interpretar “Somewhere over the rainbow”, com uma voz melodiosa e doce mas a que faltou um pouco mais de alma. Subiu o nível para interpretar “No meio da brasa” da autoria de António Rodrigues e composta por André Santos. Mas foi em “Gaivota” que mostrou toda a sua qualidade. Aqui Joana Melo mostrou todo o seu sentir fadista, toda a sua garra, toda a sua alma. Neste tema Marta Chasqueira, bailarina de flamenco e namorada de André Santos, sentada na plateia foi surpreendida com uma chamada a palco para bailar flamenco acompanhado a interpretação de Joana Melo na voz e de André Santos no instrumental. Foi dos momentos mais bonitos do espectáculo.

 

 

De novo sozinho em palco, ou melhor sem convidados porque o público esteve sempre com o artista, André Santos interpretou “La Partida”, “Vejam bem” (cantarolada pelo público que conhecia a letra) e “Tico Tico do Fubá” numa homenagem a Paco de Lucia.

 

 

Mas a grande surpresa da noite estava reservada para o fim, com o convidado surpresa de seu nome Pedro Jóia. O mestre e o aprendiz juntos em palco. Em Fado Lopes o que mais se destaca para além da interpretação correcta dos artistas é o momento em que André Santos com um olhar de admiração observa o seu mestre a tocar. Porque a vida é feita de pequenos gestos e grandes atitudes, este gesto tão simples foi tão grande por parte de André Santos.

 

 

O público não queria que o concerto terminasse ali e obrigou André Santos a encore onde interpretou “Balada da Oliveira”, para de seguida chamar todos os convidados a palco e interpretando “Fado Pechincha” terminar em apoteose o concerto.

 

 

À saída do auditório um espectador sexagenário em conversa com outro dizia “foi bonita a festa pá, o miúdo tem muito talento”. Porque nos identificamos totalmente com a frase partilhamo-la aqui. Foi realmente bonita a festa. Uma festa que para além de música teve sentimento e amizade.