Custódio Castelo acaba de lançar “Maturus” um disco que encerra uma trilogia que teve anteriormente a edição de “Tempus” e “In Ventus”. Em entrevista exclusiva ao Infocul.pt o músico fala sobre o disco, a Guitarra Siamesa e sobre a música portuguesa na actualidade.
O que é que “Maturus” traz de novo ao seu reportório?
Para já é o fechar de uma trilogia, que começa com “Tempus”, depois “In Ventus” e agora “Maturus”. E como o próprio nome indica tem a ver com a maturidade, com o meu crescimento e também com o facto de ter um instrumento que me permite uma sonoridade diferente, neste caso a Guitarra Siamesa que é a junção de dois instrumentos: a Guitarra de Lisboa e a Guitarra de Coimbra. Uma obra feita por Óscar Cardoso. E isso permite-me um amadurecimento fantástico que é o facto de querer cruzar com este instrumento várias sonoridades. Quando falo de sonoridades falo de temas e dos instrumentos convidados. O piano é convidado deste disco, o clarinete já é habitual, a guitarra clássica, a viola de acompanhamento de fado, a bateria e precursões vêm acrescentar algo a este trabalho.
Quais são os músicos que participam neste disco para além do Custódio?
Eu tenho o prestigiado convidado Rao Kyao, que vem dar um cor diferente com as flautas de bambu, a um tema que se chama “Eu mais”, tema que dedico a ele e do qual é convidado. Depois Jorge Fernando que faz parte dos meus trabalhos desde sempre, o Pedro Ladeira no clarinete, a viola de acompanhamento com Carlos Leitão, o director musical, baixista e contrabaixista Carlos Menezes, depois a bateria com Rui Gonçalves, e Miguel Carvalhinho com uma viola clássica de dez cordas que tem uma sonoridade diferente num tema dedicado a África, que se chama “Sumbé”.
Este disco é apenas instrumental ou há espaço para a voz?
Há voz. Num único tema que me atrevi a compor música e também a letra, escrevi uma cantiga, uma forma de homenagear a Guitarra Siamesa e em que Custódio Castelo convida o Cante Alentejano a estar presente neste trabalho. Chama-se “Sol do Monte”, não é um grupo escolhido de determinada cidade ou zona, mas sim vários membros de vários grupos de Cante que foram convidados a cantar este tema. Sinto-me muito honrado por ter escrito e feito algo para honrar o cante alentejano. Já vi muitas vezes o cante servir o fado, mas neste caso especifico foi a guitarra portuguesa a homenagear este também património imaterial da humanidade.
Sendo um dos mais virtuosos músicos portugueses, como vê a música portuguesa na actualidade?
Eu acho que em tudo houve uma evolução, e a evolução deve-se ao facto de cada vez mais termos músicos credenciados, e eu não posso deixar passar esta oportunidade para dizer que abdiquei um pouco do meu percurso e da minha carreira para dedicar ao ensino e tenho à minha responsabilidade o primeiro curso superior do mundo em Guitarra Siamesa, em Castelo Branco na Escola Superior de Artes Aplicadas, no Instituto Politécnico de Castelo Branco. Em toda a música hoje em dia há uma vontade maior, também devido à informação que temos, de cruzar a nossa cultura, a nossa música, e que cada vez mais. O termo World Music não é por acaso, este é um cruzamento de culturas, em que nós temos oportunidade de mostrar o que é nosso. Eu costumo dizer que a guitarra que eu toco tem o sentir de um povo e a identidade de um país por isso ela chama-se Guitarra Portuguesa.