André Rieu iniciou esta quarta-feira a segunda série de concertos em Portugal, naquilo que se pode considerar um verdadeiro fenómeno de venda de bilhetes.
‘O Natal do André’ foi o nome dado a esta segunda série de concertos e que prometia trazer, à Altice Arena em Lisboa, alguns clássicos de natal, valsas, músicas de filmes e árias.
Em palco, fez-se acompanhar pela sua Johann Strauss Orchestra (aproximadamente 60 elementos), mais um coro com 10 elementos e ainda 6 solistas.
O violinista e maestro, além de empresário, holandês nascido em 1949 na localidade de Maastricht, voltou a demonstrar o que faz dele um verdadeiro sucesso.
A música clássica é considerada por alguns como feita para elites, e essa é talvez a grande valia de Rieu. Trazer para o universo clássico, um público que à partida não iria. E na Altice Arena pudemos ver público de vários estratos sociais.
Perante casa cheia, os lugares por preencher eram residuais, André Rieu levou a cabo um espectáculo com três horas de duração (intervalo incluído), revelando-se um comunicador nato.
‘Vestiu’ temas, de todos nós, conhecidos e criou uma dinâmica de alegria, não desvirtuando a base da música. Contudo, a cenografia, o guarda-roupa, a encenação e a vertente visual, permitem ao público uma imersão num mundo encantado recriado por André Rieu.
E se esta concepção artística de Rieu permitir alegria ao público e levá-los a querer descobrir mais sobre música, com a música clássica em particular destaque, então tudo terá valido a pena.
Por entre elogios ao público alfacinha, “o público mais musical do mundo é de Lisboa” ou “também me disseram que o público que melhor trata em Lisboa é de Lisboa”, André Rieu foi, em conjunto com a sua orquestra, apresentando temas que a todos nos eram familiares.
O público filmou/fotografou, cantou, aplaudiu, soltou gargalhadas, dançou a valsa, divertiu-se ao ser brindado com ‘banho’ de neve artificial ou uma chuva de balões.
Houve ainda tempo para ‘A Loja do Mestre André’, temas natalícios e um encore, tão previsível quanto obrigatório, pelo público que ali queria continuar.
Mas deste espectáculo prefiro destacar uma mensagem que Rieu deixou: “Estamos em plena época natalícia. Quando chega esta época, toda a gente no mundo pensa em paz. É por isso que até mesmo nas guerras mais cruéis, há um cessar de fogo no natal. Contudo isso deixa-me uma questão, se é possível parar uma guerra no natal porque não é possível parar para sempre?”
Deixou ainda a promessa de que “quando eu for primeiro-ministro vou dar, a todos os soldados, um violino, em vez de uma arma”.
A concepção artística não permite qualquer análise mais aprofundada a Rieu enquanto violinista, mas podemos destacar os coros e os solistas e toda a orquestra que realizam na perfeição o conceito de espectáculo de Rieu.
Destaque ainda para a interpretação de Concerto de Aranjuez, a homenagem a Strauss, a lembrança de Jerusalém, recordação de Verdi e da sua ‘Rigolleto’ ou ainda os aclamados ‘Danúbio Azul’ (Johann Strauss II) ou o ‘Hino da Alegria’.
Contudo, este espectáculo megalómano não é algo de único e muito menos de inovador. Já à sua época, Johann Strauss II fazia grandes concertos e grandes produções. Strauss que é nome maior ligado às valsas, que por sua vez são o pilar do repertório de Rieu. Contudo reduzir as valsas a Strauss é errado e até injusto para com outros nomes importantes.
André Rieu actua hoje (21), 22, 26, 27 e 28 na Altice Arena. A última data está já esgotada.
Texto: Rui Lavrador
Fotografias: Alfredo Matos