
O projecto Cordis tem em Fevereiro dois concertos, no Porto e em Lisboa. Concederam uma entrevista ao Infocul sobre estes espectáculos e também sobre o percurso do projecto.
O projecto Cordis piano & guitarra portuguesa, depois de o terem feito em Coimbra no passado 31 de Janeiro, aproveitam estes concertos para apresentar o 4º trabalho discográfico.
O projecto, composto por Paulo Figueiredo e Bruno Costa, apresentará neste trabalho apenas obras originais.
Depois de Coimbra, seguem-se concertos em Porto e Lisboa. O que está a ser preparado para estes dois espectáculos?
Na realidade, encarámos estes 3 concertos (Coimbra, Porto e Lisboa) como um todo, ou seja, apresentações do CD Reflexo com o mesmo conceito, o mesmo alinhamento e a mesma intensidade na aposta nas peças originais do 3º e 4º trabalhos do CORDIS. Desde o último disco, “Terceiro”, começámos a trabalhar exclusivamente as nossas próprias composições e este 4º disco é uma espécie de continuidade disso mesmo. Os concertos de apresentação irão, assim, ser o espelho do trabalho que vimos desenvolvendo de há 5 anos até agora: apresentaremos, naturalmente, todas as músicas do novo disco “Reflexo”, recordaremos algumas músicas do “Terceiro” e não deixaremos certamente de viajar um pouco até um ou outro tema marcante do 1º e do 2º trabalhos do CORDIS.
Cordis é um projecto que surgiu em 2008. Qual o balanço até ao momento?
O CORDIS surgiu em 2005, o primeiro CD “CORDIS piano & guitarra portuguesa é que foi editado em 2008. Os primeiros 3 anos de vida do CORDIS foram preenchidos com inúmeras experiências e tentativas de “casamento” dos dois instrumentos (piano e guitarra) que compõem o CORDIS. Estes instrumentos são muito ricos timbrica e harmonicamente e é muito fácil entrarem em rota de colisão. Os primeiros tempos foram de muito trabalho e dedicação até percebermos se valia ou não a pena tanto empenho, se o resultado seria harmonioso e equilibrado. Rapidamente percebemos que havia muito potencial neste projecto e avançámos para a elaboração de arranjos dos temas que constituiriam o primeiro CD. Daí até à edição deste 4º CD, Reflexo, o caminho tem sido difícil mas desafiante, cheio de experiências incríveis que nos trouxeram ao presente, resultando no trabalho que agora apresentamos. O balanço é, por tudo isso, obviamente positivo e entusiasmante.
Nos primeiros dois discos incluíram alguns originais, mais maioritariamente apostaram em obras de outros compositores. Quando surgiu a vontade de apostarem mais nas vossas obras?
Os dois primeiros discos têm realmente algumas músicas originais, o que sempre nos deu muito gozo. No entanto, a humildade perante a genialidade de compositores, músicos e intérpretes da guitarra portuguesa como Carlos e Artur Paredes, António Portugal, Francisco Filipe Martins, Jorge Gomes, etc., contribuiu para que nos concentrássemos principalmente na nossa interpretação das grandes peças da história da música de Guitarra de Coimbra. Completados 10 anos de trabalho, dedicação e exploração das potencialidades desta união do piano com a guitarra portuguesa, achámos que era altura de aproveitar toda a herança que recebemos dos mestres e canalizá-la para um trabalho completamente novo, exclusivamente composto por músicas originais. Combinámos compor algumas peças cada um e lançámos-nos ao trabalho. Rapidamente surgiu muito material e demos por nós a fazer arranjos para as peças compostas por mim e pelo Bruno Costa. Desde logo, os arranjos feitos pelos dois trouxeram às peças originais o som, o ambiente e a musicalidade já habitual do trabalho do CORDIS. A experiência foi de tal modo gratificante que a opção por fazer um novo álbum exclusivamente de originais foi completamente consensual.
Se tivessem de definir o projecto Cordis, como o fariam?
O CORDIS é um projecto de piano e guitarra portuguesa que alia a tradição à inovação, as raízes musicais e culturais à modernidade de arranjos e interpretações. A nossa música tenta aproveitar a riqueza dos dois instrumentos para explorar a tradição da guitarra portuguesa, juntamente com a herança clássica e jazzística do piano, criando assim uma identidade própria que não é fado nem música clássica, não é jazz nem música popular, mas antes uma mistura de tudo isso e muito mais que gostamos de incluir na vastíssima categoria da World Music.
No 3º disco contam com o Quarteto Arabesco. Quando surgiu esta ligação?
Eu e o Bruno sempre gostámos do som e da envolvência do quarteto de cordas e da sua junção com o ambiente criado pelo piano e pela guitarra portuguesa. Já no segundo CD (CORDIS2) tínhamos incluído um quarteto de cordas em algumas músicas e em muitos concertos fizemos experiências com alguns grupos. Quando compusemos o Terceiro, decidimos escolher um novo Quarteto, com som e características um pouco diferentes dos anteriores. Foi aí que iniciámos a nossa busca e, depois de algumas sugestões, chegámos ao Quarteto Arabesco, grupo fantástico de músicos fora de série com quem nos identificámos desde logo. A sua interpretação dos arranjos para cordas cativou-nos desde a primeira hora. Seguiram-se vários concertos em conjunto e a a escolha deste quarteto para gravar o novo CD Reflexo aconteceu naturalmente, já não podia ser sem eles …
Ao longo do vosso percurso têm sido várias as colaborações com outros artistas. Quais as que mais destacam?
Logo no primeiro concerto, no lançamento de CORDIS piano & guitarra portuguesa, em 2008, convidámos uma série de músicos para nos acompanhar. Isto porque nos dá imenso gozo misturar os nossos instrumentos com diferentes timbres, novos ambientes sonoros, danças, etc. Ao longo dos anos, temos realmente feito parcerias fantásticas com muitos artistas. Destacaria, talvez, pela continuidade das parcerias e pela popularidade dos seus nomes artísticos, os concertos com a Cuca Roseta, com o Vitorino, com a Mafalda Arnauth, sem esquecer todos os outros artistas que nos proporcionaram momentos fabulosos em palco ou em estúdio.
Quais os artistas com quem gostariam muito de colaborar, ou que colaborasse convosco, numa junção de artes?
Como já disse atrás, gostamos imenso de juntar a nossa música a outros artistas, sejam eles cantores, instrumentistas, bailarinos, etc. Nesse sentido, temos sempre vontade de unir a nossa arte a diferentes pessoas, dos mais variados quadrantes artísticos. Com esta abertura, preferimos deixar que o futuro nos surpreenda, como tem feito até agora, com excelentes desafios. Poder fazer arranjos para bailados, para as músicas da Cuca, do Vitorino ou da Mafalda tem sido realmente um privilégio que gostaríamos de repetir com eles e com outros artistas.
Os portugueses sabem apreciar e valorizar devidamente a música instrumental? Ou ainda há uma grande preferência pela música com voz?
Claro que continuamos a sentir mais dificuldade de chegar ao grande público pelo facto de compormos e tocarmos música instrumental. A música cantada é mais fácil, mais imediata, as palavras contam uma história e nem é preciso muita atenção para a perceber pois entra directamente na nossa percepção. A música instrumental precisa de mais concentração, temos que nos focar mais e ouvir com outra intensidade, se a queremos perceber. É, por isso, mais fácil de vender, isto é, de contratar concertos, de vender CD’s, de conseguir apoios. Na verdade, não temos grandes problemas em chegar às pessoas quando elas assistem aos nossos espectáculos, o que custa é levá-las até lá. Apesar disso, não nos podemos queixar, temos sempre bastante público nos concertos. Tanto o CD Terceiro, como este novo Reflexo foram Disco ANTENA1, o que ajuda imenso na divulgação e promoção do nosso trabalho. Também as parcerias com excelentes artistas tem ajudado a aumentar a visibilidade da nossa música.
Nos espectáculos de Porto e Lisboa haverão convidados? Se sim, quem?
No espectáculo da Casa da Música, no Porto (16 fev), iremos apresentar-nos na versão mais pura do CORDIS, ou seja, apenas com piano e guitarra portuguesa, num ambiente mais intimista e explorando mais intensamente a cumplicidade e harmonia entre os nossos dois instrumentos que são a génese do CORDIS, na sua essência.
No concerto do Teatro Villaret, em Lisboa (18 fev), teremos connosco o Quarteto Arabesco e poderá haver uma ou outra surpresa, nunca se sabe …