Hugo Bentes sobre ‘Raiva’: “Identifiquei-me logo com aquele homem e com a sua história, que tem muito a ver com o Alentejo e com os nossos antepassados”. (C/Vídeo)

 

 

 

 

Hugo Bentes é o actor principal do mais recente filme de Sérgio Tréfaut, “Raiva”. Interpreta Palma, um homem que carrega em si um enorme sofrimento, tão grande quanta a vontade de dar o melhor que pode à família. O filme estreia a 31 de Outubro.

 

 

Raiva, a adaptação pelo realizador Sérgio Tréfaut do clássico da literatura portuguesa do século XX, ‘Seara de Vento’ de Manuel da Fonseca.

 

 

Hugo Bentes não é actor mas conhece o Alentejo, e as suas tradições, como poucos. Isso nota-se no filme que serviu como fio condutor a uma entrevista que Hugo Bentes concedeu ao Infocul.

 

 

 

Quando surgiu o convite para integrar o filme e ser o actor principal?

 

Não me recordo bem quando, mas sei que foi passado algum tempo depois do documentário “Alentejo, Alentejo” ter estreado nas salas de cinema. O Sérgio disse-me, que estava a escrever um guião baseado no livro, (Seara de Vento) do escritor Manuel da Fonseca e gostaria muito que eu o lesse. Ao qual lhe respondi que teria todo o gosto. Pensei que era para dar uma opinião. Passada uma semana encontrámo-nos e ele perguntou-me: “Então, o que é que achaste do guião?”. Disse-lhe que tinha ali um guião soberbo, uma história que arrepia qualquer um e que podia acontecer em qualquer parte do mundo. E ele diz-me: “Então e se eu te disser que quero que sejas tu o protagonista do filme?”. Comecei a rir-me. Está a brincar comigo, só pode ser. “Não, estou a falar a sério”. Mas tu sabes, que eu não sou ator, não tenho qualquer experiência nessas andanças. Ele sorriu e disse “Hugo tu és capaz!”

Quero agradecer desde já a oportunidade que o Sérgio Trefout me deu, e por acreditar em mim!

 

 

 

Como foi a preparação para este personagem?

 

O mais complicado na preparação do personagem, foi a nível físico, tive de perder algum peso e teve de fazer uma dieta controlada e treino de ginásio acompanhado, perdi 15kg. Identifico-me bastante com a personagem. Desde o início, desde que o Sérgio Tréfaut me entregou o guião, identifiquei-me logo com aquele homem e com a sua história, que tem muito a ver com o Alentejo e com os nossos antepassados. Está ali um bocado de Hugo também. Aquele pensar do Palma, o estar, aquela maneira de fazer as coisas, a família, a questão da terra em si…

 

 

 

Sendo alentejano, como foi recuar até aos anos 50 e dar a conhecer a pobreza extrema daquela altura?

Foi um orgulho, uma passagem de testemunho dos antepassados Deste Grande Povo! É uma honra, poder dar a conhecer este acontecimento, que aconteceu realmente, o sofrimento que existia nessa altura, onde ser dono de grandes propriedades, na década de 50, significava, também, ter na mão o poder político, a guarda, a igreja e ser dono dos homens, do abismo entre pobres e ricos, é um grito de indignação à injustiça social.

 

 

 

 

Quais os maiores desafios na rodagem deste filme?

O filme por si, para mim já foi um enorme desafio. A aprendizagem foi em tempo real, nunca tive qualquer tipo de ensaios, nem de guião, nem de narrativa… aquilo foi saindo, foi fluindo… A passagem do rio foi desafiante, os efeitos especiais, como que o tiroteio no casebre, quando o Palma leva os tiros e a cronhada no posto da GNR. Foi desafiante por causa do sincronismo, tinha que estar perfeito!

 

 

 

Como foi partilhar cena com alguns dos maiores actores da actualidade e quais as ajudas que lhe foram proporcionadas por eles?

 

É um privilegio e uma hora poder trabalhar com actores que têm uma vasta experiência e uma enorme carreira. É gratificante o carinho as palavras com que me receberam, fui muito bem recebido entre eles e por toda a equipa, que me incentivaram desde o primeiro dia, sem qualquer tipo de distinção. Diverti-me imenso, aprendi muito com eles.

 

 

Qual a principal mensagem que acha que o público vai captar deste filme?

O filme contem várias mensagens! Penso que o público retirará a sua.

 

 

 

Ao ver o filme, o que mais destaco é a verdade que o Palma transmite. Como se consegue colocar tanta verdade num homem que carrega um sofrimento enorme às costas?

 

Penso que a pergunta contem a resposta! Com verdade e sentimento, como se fosses tu que ali estivesses. Quando comecei a ler o guião, identifiquei-me logo com a personagem, como disse, tem muito a ver com a minha maneira de sentir o Alentejo, a terra e a pobreza que houve em tempos… infelizmente, ou felizmente, não passei por ela, mas os meus avós, a minha mãe, passaram por essa situação e revi-me naquele homem, no seu sentir. Era quase como se tivesse reencarnado. Imaginei-o como se fosse eu.

 

 

 

Já esteve presente em algumas acções de divulgação e ante-estreia do filme, em território nacional. Quais as reacções?

 

A reação tem sido muito boa, o público identificasse com a história que lhes desperta muita emoção e lembranças ao ponto se comoverem.

 

 

O Hugo está ligado ao Cante e é conhecedor das tradições e história do Alentejo. Sente que este filme retrata toda a luta de um povo pela sua sobrevivência?

 

Marca a identidade de um povo, o seu sofrimento e angústia num momento, em que não se pode falar ainda de luta de classes, mas penso, que foi o começo de uma luta contra as diferenças sociais.

 

 

Como descreve o povo alentejano, sendo um deles?

Em breves palavras poderei dizer que os alentejanos divertidos, são um povo trabalhador, que defende as suas raízes culturais e tradicionais, é um povo bastante culto e afável…

 

A área da representação é uma porta que quer abrir ainda mais depois de participar em “Alentejo, Alentejo” e “Raiva”?

Vamos ver o que acontece, não penso muito nisso!

 

 

Quais os próximos desafios e novidades de Hugo Bentes?

Fiz uma pequena participação com o papel de GNR no novo filme do realizador Vicente do Ó, “Quero te tanto”. Vamos ver o que acontece!!

 

 

Qual a mensagem que deixa aos leitores do Infocul?

Que vejam o filme claro e, que se revejam naquela historia!? Mas acima de tudo, que sejam felizes.

Rui Lavrador

Iniciou em 2011 o seu percurso em comunicação social, tendo integrado vários projectos editoriais. Durante o seu percurso integrou projectos como Jornal Hardmúsica, LusoNotícias, Toureio.pt, ODigital.pt, entre outros Órgãos de Comunicação Social nacionais, na redacção de vários artigos. Entrevistou a grande maioria das personalidades mais importantes da vida social e cultural do país, destacando-se, também, na apreciação de vários espectáculos. Durante o seu percurso, deu a conhecer vários artistas, até então desconhecidos, ao grande público. Em 2015 criou e fundou o Infocul.pt, projecto no qual assume a direcção editorial.

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