João Santos Andrade: “Acredito mesmo que, em breve, o Presidente de todos os portugueses volte a partilhar o seu gosto pela Tauromaquia com os restantes mais de 3 milhões portugueses de aficionados!”

 

 

 

 

 

João Santos Andrade é o novo presidente da PróToiro, sucedendo no cargo a Paulo Pessoa de Carvalho. João Santos Andrade concede ao Infocul a primeira grande entrevista desde desde que assumiu a presidência da PróToiro, abordando os desafios que são colocados à PróToiro, os grupos anti-taurinos, a modernização do sector, a aproximação aos meios generalistas, o desenvolvimento do Cartão Aficionado e ainda o Plano Estratégico que está a ser delineado para os próximos três anos. Uma entrevista conduzida por Rui Lavrador.

João Santos Andrade é também o Presidente da Associação Portuguesa de Criadores de Toiros e desde cedo sempre esteve ligado à festa brava e ao campo. Numa entrevista frontal, não deixa de abrir a porta ao diálogo com a Ministra da Cultura, dizer que acredita que Marcelo Rebelo de Sousa regressará em breve a uma praça de touros e que os grupos anti-taurinos não são uma ameaça. Contudo, fala da necessidade e importância de modernização do sector.

 

 

Uma entrevista para ler na íntegra, se seguida:

INFOCULComo encara este desafio, que surge após demissão de Paulo Pessoa de Carvalho?

João Santos Andrade (JSA)Encaro com toda a naturalidade. Antes do Paulo Pessoa de Carvalho ser presidente da PróToiro, era eu quem tinha essas funções. Por isso, este cenário não é novidade. A PróToiro tem uma estratégia muito bem definida, que ultrapassa a personalidade do seu presidente. O nosso trabalho vai ser o de dar continuidade ao que já foi feito e seguir o percurso definido pela PróToiro.

INFOCULQuais os principais objetivos enquanto presidente da PróToiro?

JSA – Os principais objectivos são os objectivos da PróToiro, ou seja, continuar o nosso trabalho de defesa e de promoção da Festa. Neste momento, a direcção da PróToiro decidiu ter um papel mais pro-activo do que reactivo. Poderão surgir uma ou outra acção de maior visibilidade pública, como até aqui não aconteceu, mas tudo tem o seu tempo. No entanto, no que diz respeito à estratégia de fundo, estamos neste momento a iniciar a elaboração do Plano Estratégico para o sector a três anos e que vai envolver todos os intervenientes. Será um documento fundamental para a nossa acção e resultados nos próximos anos.

 

 

INFOCUL – Como foi executado todo o processo após a demissão de Paulo Pessoa de Carvalho?

JSA – Com a maior tranquilidade possível. O Paulo Pessoa de Carvalho, pelas razões conhecidas, pediu a suspensão de mandato e, com toda a naturalidade, foi escolhido um sucessor. A direcção da PróToiro toma as decisões em conjunto. O presidente é, por vezes, o rosto visível da federação, mas na verdade somos pluralistas. Saindo o Paulo Pessoa de Carvalho e entrando quem entrasse, a PróToiro, na sua essência, nada mudaria. Os processos de sucessão são simples e de acordo com o objectivo da Federação – servir a tauromaquia no seu todo.

INFOCUL – Para quem não o conhece, como resume o seu percurso e quando surgiu o gosto pela tauromaquia?

JSA – Desde que me conheço sou apaixonado pelo campo e pela cabana brava. Em 1977 passei a administrar a Casa Prudêncio, uma sociedade de cariz familiar, sendo a ganadaria brava um dos meus pelouros. Em 1990 assumi a presidência da direcção da Associação de Portuguesa de Criadores de Toiros de Lide, cargo que ainda mantenho.

INFOCUL – Como irá a PróToiro conseguir conquistar novos públicos?

JSA – As redes sociais são o nosso canal de comunicação com o maior retorno e com o custo mais baixo. Por isso são um dos pontos fundamentais da nossa estratégia de comunicação. Com a criação da marca Touradas, em 2016, estas tornaram-se ainda mais importantes, correspondendo ao mote da marca que é #viveatuapaixao e está a ser um grande sucesso. Temos uma comunidade global de mais de 100 mil seguidores, com especial foco no Facebook e no Instagram. Depois da organização do Dia da Tauromaquia, que foi um enorme sucesso, congregando mais de 18 mil pessoas no Campo Pequeno, este ano teremos uma maior presença de acções de activação da marca Touradas. Junto com o Cartão Aficionado, iremos continuar a desenvolver e ampliar a presença da tauromaquia nos media generalistas. Há ainda a mascote da marca Touradas, o Mané, que está dirigida às crianças, além de estar planeada uma publicação também para crianças, entre muitos outros projectos. Só revelaremos tudo, quando for apresentado o Plano Estratégico, pois só aí teremos a versão final.

 

 

INFOCUL – Quais as iniciativas que estão pensadas além da aposta nas redes sociais?

JSA – Com trabalho e persistência. Sem dúvida, a digitalização do sector é uma das prioridades. Por isso temos vindo também a impulsionar junto dos empresários a venda online dos bilhetes das Touradas na maior bilheteira nacional, a Ticketline, abrindo a porta para os hábitos de consumidor do século XXI, tal como a implementação do cartão de cliente da tauromaquia, o Cartão Aficionado, e muitas mais medidas que irão ser definidas no Plano Estratégico.

INFOCUL – Como irá a PróToiro financiar-se de modo a conseguir executar as actividades que pretende na promoção e defesa da tauromaquia?

JSA – A PróToiro financia-se através dos agentes da Festa, daqueles que operam no sector. Estamos também a estudar uma forma do aficionado, individualmente, poder contribuir. Na verdade, sem esse mesmo financiamento, é impossível trabalharmos e cumprirmos com aquilo a que nos propomos – defender e promover o sector de uma forma moderna e impactante.

 

 

 

INFOCUL – Para quando uma modernização comunicacional e promocional dos espectáculos tauromáquicos?

JSA – Esse, sem ser um assunto directamente da PróToiro, acaba por ser falado de forma natural nas nossas reuniões de direcção. A APET é quem pode intervir mais nesse sentido. Há aspectos – como a duração do espectáculo, o número de rezes a lidar, os meios de promoção utilizados, a comunicação e linguagem actualizada aos dias de hoje, redes sociais, entre outros temas – que terão de ser tidos em conta e certamente farão parte dessa modernização comunicacional dos espectáculos tauromáquicos. Da parte da PróToiro já iniciámos uma relação mais próxima com intervenientes do sector e queremos ser cada vez mais parceiros nessa mudança. O Plano Estratégico será uma ferramenta muito importante para potenciar essas mudanças.

INFOCUL – Quando será anunciada a rede de parceiros do Cartão Aficionado que actualmente não apresenta vantagens além dos descontos de 10% nos bilhetes e acumulação de 10 euros por cada 200 gastos?

JSA – A seu tempo. O cartão dá muitas vantagens, com os descontos e acumulação das compras. Mas há prioridades na execução do projecto do Cartão Aficionado, que está a funcionar plenamente. Estamos a trabalhar para, ainda este ano, alargar ao maior número de empresas e estar ainda mais acessível a todos os aficionados e público em geral. É um cartão grátis, sem qualquer custo, que dá desconto na compra dos bilhetes, acumula valor e dá mais vantagens no acesso às praças. Pode ser facilmente subscrito online em www.touradas.pt.

 

 

 

INFOCUL – Quando é que a Prótoiro começará a ter uma relação mais próxima com a imprensa generalista e conseguindo que a mesma marque presença nas praças de touros a nível nacional?

JSA – O trabalho de aproximação aos órgãos de comunicação social generalistas, desenvolvido pela PróToiro, tem produzido os seus resultados. No ano passado tivemos uma grande cobertura, como não sucedeu desde a criação da PróToiro em 2010, também pela nossa pró-actividade junto dos OCS. Não é só com a imprensa, mas também rádio, televisão e, principalmente, digitais. Se estamos contentes? Não, não estamos. Seremos sempre uns eternos insatisfeitos neste capítulo. Queremos e desejamos mais, até por tudo o que a tauromaquia representa para a Cultura de e em Portugal. Hoje, a PróToiro é o interveniente principal no debate deste tema. Temos uma imagem de credibilidade junto da comunicação social, capaz de produzir pensamento crítico sobre os diversos assuntos relacionados com a tauromaquia. Quanto à presença dos OCS generalistas nas praças de touros, essa é uma questão interessante que talvez devesse ser colocada aos directores dos jornais, das rádios, das televisões… Temos noção dos tempos difíceis que afectaram e afectam a sociedade, no seu todo, e a comunicação social em particular. O culto do clique, o medo dos terroristas das redes sociais, o medo de ferir o politicamente correto são, no nosso entender, males que retiram capacidade de discernimento e condicionam até aqueles que confessam, em surdina, a sua paixão pela Festa. Se há um sector em dificuldade é a comunicação social e não a tauromaquia.

 

 

 

INFOCUL – Olhando para o espectáculo tauromáquico, o que mudaria para a melhoria do mesmo?

JSA – Há que primar, acima de tudo, pela qualidade em detrimento da quantidade. Penso que, por vezes, os espectáculos demoram demasiado tempo, mas nem sempre é fácil mudar. Acima de tudo tem de haver essa consciencialização e, aos poucos, ir melhorando aquilo que é mais ou menos óbvio. Claro que a comunicação é um ponto essencial e tem de ser feita por todos os intervenientes. Sendo forte e bem-feita trará outro interesse ao grande público. Havendo uma comunicação social isenta fará com que isso aconteça mais rapidamente.

INFOCUL – Como pensa conquistar mais público para as praças de touros?

JSA – Este é outro dos assuntos discutidos e que estarão no Plano Estratégico. Temos de nos modernizar, privilegiar espectáculos de melhor qualidade, ser mais fortes e assertivos a comunicar. Temos de criar envolvência num espectáculo como a corrida de toiros, pensar na sua duração e na sua comodidade. Estes são os pontos essenciais que, quando falamos do assunto, pouco nos desviamos.

INFOCUL – Quando pensa reunir com a Ministra da Cultura?

JSA – Tão pronto quanto a ministra o permita!

INFOCUL – Pensa ser possível trabalhar em conjunto com a Ministra da Cultura?

JSA – Claro que sim. A ministra tem a obrigação de sobrepor ao seu gosto pessoal o seu sentido de Estado. Nesse mesmo sentido, é óbvio que não me passará outra coisa pela cabeça, que não a possibilidade de trabalharmos em conjunto, por mais difícil que a tarefa se preveja.

 

 

 

INFOCUL – Como analisa a não presença do Presidente da República em corridas de touros, desde que assumiu a presidência da República?

JSA – A ausência de Marcelo Rebelo de Sousa das corridas de touros, desde que assumiu a Presidência da República, é uma nota negativa para ele próprio. Acredito que, mais dia, menos dia, ele regresse a uma praça de toiros. Já lhe endereçámos um convite, para o Dia da Tauromaquia, no passado dia 23 de Fevereiro, que declinou por motivo de agenda. Acredito mesmo que, em breve, o Presidente de todos os portugueses volte a partilhar o seu gosto pela Tauromaquia com os restantes mais de 3 milhões portugueses de aficionados!

INFOCUL – A Festa dos Touros corre riscos com o aumento dos grupos contestatários da tauromaquia?

JSA – Os grupos contestatários não são ameaça. Veja-se o exemplo recente de Santarém, onde estavam 10 mil pessoas na praça, a assistir à corrida, e 10 na rua a protestar. Isto é uma demonstração de vitalidade da Festa, de rejuvenescimento. As touradas em Portugal estão cheias de jovens e isso doí a muita gente. Voltando um pouco atrás, nas suas perguntas, basta que a comunicação social generalista seja rigorosa e imparcial para a verdade chegar ao grande público. A tauromaquia faz parte da Cultura portuguesa, cultura essa que não pode ser ameaçada por grupos online de pequenos ditadores que tentam impor o seu gosto pessoal a toda a sociedade. Os números de espectadores nas nossas praças rondam o meio milhão por ano, mais cerca de 2,5 milhões envolvidos nas tauromaquias populares. São bem demonstrativos da vitalidade da Festa, que voltou a crescer nos últimos dois anos, fruto da recuperação do poder de compra dos portugueses e da capacidade de atrair novos espectadores.

 

 

 

INFOCUL – O que falta para a tauromaquia criar sinergias com outras áreas da cultura, tendo em conta que raramente marca presença em certames do sector cultural?

JSA – À tauromaquia não falta nada. Temos todo o gosto e todo o interesse de partilhar o nosso conhecimento e as nossas iniciativas. A faltar alguma coisa, como respeito pela diversidade cultural, como conhecimento do que é a tauromaquia, é de quem promove esses certames. Se não marcamos presença, não será nunca por auto-exclusão. Também neste campo irá haver uma maior integração e cada vez mais manifestações envolvendo comunidades mais alargadas.

INFOCUL – Quais as expectativas para esta temporada?

JSA – As expectativas para esta temporada são excelentes! Ao exemplo do ano passado, esperamos estabilização no número de espectáculos na casa dos 200 (corridas de toiros) e um aumento de público, aliás facto que desde o início da temporada tem sido marcante em todos os espectáculos realizados até à data de hoje, com um aumento de cerca de 25% de entrada de público, com casas praticamente cheias. Para 2019, espera-se uma grande Temporada!

Rui Lavrador

Iniciou em 2011 o seu percurso em comunicação social, tendo integrado vários projectos editoriais. Durante o seu percurso integrou projectos como Jornal Hardmúsica, LusoNotícias, Toureio.pt, ODigital.pt, entre outros Órgãos de Comunicação Social nacionais, na redacção de vários artigos. Entrevistou a grande maioria das personalidades mais importantes da vida social e cultural do país, destacando-se, também, na apreciação de vários espectáculos. Durante o seu percurso, deu a conhecer vários artistas, até então desconhecidos, ao grande público. Em 2015 criou e fundou o Infocul.pt, projecto no qual assume a direcção editorial.

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