Manuel Guerra editou este ano o mais recente trabalho discográfico, “Sem porquês”, que sucede ao EP “Dá-lhe Asas”, editado em 2014. A 13 de Dezembro apresenta o novo disco num concerto a realizar no Teatro Garcia de Resende, em Évora.
Sobre o mais recente disco, diz que “não o comecei a pensar como um disco. Comecei a pensar como várias canções, como respostas a coisas que me acontecem na vida e o amor está subentendido, subjacente, a várias dessas canções, mais explicito numas do que noutras. Mas houve uma altura em que dei por mim e disse ‘Espera, isto representa-me. Este conjunto de canções representa-me. Talvez o meu último ano, dois anos, de vida e fazem sentido como um todo”, por isso “no disco só comecei a pensar nessa altura, quando senti que tinha um conjunto de canções que me representavam. Nas canções comecei a pensar em cada qual a seu tempo como resposta ao dia-a-dia”.
Um conjunto de canções nas quais o Amor está subentendido e nas suas diferentes e vastas áreas. Mas será Manuel Guerra um homem fácil de amar ou com maior tendência a amar? Uma questão que o deixou a pensar mas à qual respondeu “acho essa pergunta muito difícil. Não faço ideia se é fácil amarem-me mas eu tenho facilidade em amar. Sinceramente, acho que tenho muita facilidade em amar”.
Um dos temas que destaquei no disco foi “Brincar com o Fogo”, o qual me confidenciou em conversa que nem era para, inicialmente, estar no disco. Em entrevista ao Infocul explicou um pouco da história deste temas, “não era para estar no disco porque foi daquelas canções muito espontâneas, foi feita assim em, não faço ideia, meia-hora. Estava a brincar com uns acordes e ia inventando umas palavras que ia escrevendo ao mesmo tempo, nem sempre é assim. Às vezes tenho um instrumental para encaixar numa letra, noutras tenho uma letra em que não sei como encaixar numa música, e depois ando a experimentar para que as palavras sejam veiculadas pela música, da melhor forma. Mas no ‘Brincar com o Fogo’ saiu tudo de repente. Para mim é uma análise a muitas pessoas que me rodeiam e a mim próprio como lido com as pessoas, como lidam comigo e como às vezes seria melhor, e para mim falo, medirmos as consequências das nossas atitudes, as nossas pequenas acções, as nossas palavras, nas outras pessoas e na vida delas”.
Já sobre se a escolha do nome do disco serve como escudo de defesa para não demonstrar que é um pensador e questionador compulsivo, respondeu com humor dizendo que “és um psicólogo que está aqui a analisar-me . Bom, é verdade que eu tenho mecanismos de defesa para tentar não ter de responder a perguntas difíceis e “sem porquês” é o meu disclaimer logo à partida que não vale a pena virem-me questionar para racionalizar muito porque isto na realidade é uma resposta natural minha, todas estas canções foram surgindo e todas elas fazem parte da minha realidade e são coisas concretas de momentos diferentes, de maneira que eu nem quero racionalizar muito…”
Manuel Guerra é um homem de emoções com a mesma força que as transmite nas suas canções, mas revela que “eu sou um bocado masoquista porque a tristeza e a amargura são daquelas coisas que parece que se faz mais por prolongar, não sei se será por serem muito intensas. Considero-me muito melancólico”, quando questionado sobre as emoções que mais gosta de prolongar.
Este novo disco “enquadro-o no pop rock” e desvenda que “eu queria que a música fossem o veículo perfeito para essas palavras e por isso tento, risco, rasgo e volto a tentar, ando à procura da melhor forma para as emoções … As emoções não se explicam mas eu tento reproduzi-las em música”.
Propus o desafio de se despir do cantor Manuel Guerra e de imparcialmente analisar este disco. O desafio foi…relativamente superado. “Já tentei o exercício. Depois não sei se o consigo muito bem. Vou tentar ser justo. É um disco que eu acho musicalmente interessante. Não me parece que esteja apenas num determinado espectro, mesmo dentro do pop rock, em que apenas mudam os beats por minuto. Eu tento reproduzir a música que eu gosto de ouvir”.
A 13 de Dezembro sobe ao palco do Teatro Garcia de Resende, em Évora, “uma sala emblemática onde já me sentei inúmeras vezes na plateia e pela primeira vez vou estar no palco a apresentar o meu trabalho. Estou a tentar, com a minha banda e com a produção, tentar mostrar da forma mais honesta possível aqui que está no disco. Ali só estamos os cinco que vamos tocar, um convidado, uma convidada. Os nossos instrumentos, as nossas vozes, e querendo ser honestos”.
Sobre o convidado diz-nos que “há várias pessoas na minha vida que têm influência na música e este convidado tem essa influência primeiro porque já o vi ir vários passos à minha frente, lançar discos, já o fui ver e ouvir várias vezes. Depois porque já nos cruzámos várias vezes, estando eu a tocar em bares e ele lá ir várias vezes e chamava-o e ele vinha ter connosco e tínhamos tertúlias musicais e isso trouxe uma amizade que depois se veio a concretizar…Se digo muita coisa já estão a adivinhar quem é…”. Assina a letra de ‘Faltam Poemas’… Já sobre a convidada revela que participa em “Brincar com o Fogo”…
E se o espectáculo é em pleno Alentejo, era impossível não falar sobre gastronomia. Último desafio ao músico, se este concerto fosse um prato tradicional do Alentejo seria “Migas de Espargos”, tendo como sobremesa “Sericaia”, sendo esta refeição acompanhada por “Cartuxa Tinto”. Vamos a esta demonstração gastronómica em formato musical e ao estilo pop rock?