“Casa de Fado” é o primeiro disco de Maria Emília, um dos nomes a quem se augura largo e risonho futuro no Fado. A apresentação do disco ocorre a 30 de Novembro, em concerto, no Tivoli BBVA, em Lisboa, mas antes concedeu entrevista ao Infocul para falar sobre o disco, o seu percurso e até sobre o lado mais pessoal.
O disco conta com produção de Carlos Manuel Proença, com os músicos José Manuel Neto e Daniel Pinto no trio de acompanhamento de fado habitual (guitarra, viola e baixo). Filipe Raposo, Luís Cunha e Marino de Freitas também participam neste disco como convidados além de um quarteto de cordas composto por Marcos Lázaro e Ângela Pereira, nos violinos, Gabriela Barros, na viola, e Ângela Carneiro, no violoncelo.
Um disco que marca a indústria discográfica nacional em 2018 e que Maria Emília dá a conhecer em entrevista a Rui Lavrador.
“Casa de Fado” é a representação fidedigna da sua essência enquanto artista?
Casa de Fado são 15 anos de trabalho e dedicação ao fado. E sim, as casas de fado são a minha essência, foi lá que cresci, enquanto artista.
Como foi a escolha do alinhamento para este disco? Um primeiro disco tem sempre uma pressão adicional…
A escolha do alinhamento para este disco foi feita com muita seriedade, por mim e pelo meu produtor Carlos Manuel Proença. Penso que em todos os discos, tem de haver um fio condutor, uma história com princípio, meio e fim. Mas o primeiro disco sim, tem uma pressão adicional, é como se fosse um “primeiro filho”, feito com cuidados extra, amor e carinho.
Teve ajuda na escolha de repertório? A quem pediu conselhos?
O repertório foi escolhido por mim, com ajuda do Carlos Manuel Proença. Alguns destes temas já os cantava nas casas de fado. Fados já bem conhecidos nas vozes de Dona Amália Rodrigues, Dona Maria da Fé, Dona Beatriz da Conceição e Dona Anita Guerreiro. Outros, gostava de os cantar, mas queria cantá-los com poemas originais, e para isso pedi ajuda ao meu querido Mário Rainho, autor do “Perfeito Pecado “ (fado Cunha e Silva), à Linda Leonardo, que me presenteou com dois temas brilhantes (Foi Deus Que Quis Assim e Queira Deus), à Cátia de Oliveira e ao Valter Rolo, autores do single de apresentação (Casa de Fado), entre outros. Uma ajudinha surpreendente vinda do outro lado do atlântico e especialmente guardada na gaveta há já uns anitos para este projecto, o tema “Minha Paz” do meu Querido Edu Kriegger.
Presta agradecimento a Beatriz da Conceição. Qual a importância dela no seu percurso e que relação tinha com um dos nomes maiores do Fado?
Tive o privilégio de poder privar com a Dona Beatriz da Conceição na fase derradeira da sua vida. Tive a honra de conhecer a pessoa e a artista. Senti me uma privilegiada. Penso que não só para mim, mas para todas as fadistas será sempre uma referência, genuína, diferente de tudo e de todos. O bom gosto, a arte de bem dizer e cantar como ninguém. Era a fadista que mais ouvia em casa, ainda no Brasil. Mais tarde, numa conversa privada sobre fado e sobre o que eu queria, ela incentivou-me fortemente a ouvir o meu coração e a gravar o que me vai na alma, a não me deixar ir pela maré e pelas modas, incutiu-me sobretudo, a força de acreditar em mim e seguir em frente com um projecto maioritariamente de fado tradicional, muito embora seja pouco usual nos dias que correm.
Quero destacar um nome neste disco: Carlos Manuel Proença. Como foi/é ter um dos mais sensíveis e geniais músicos portugueses ao seu lado?
O Carlos pode ser definido como mais um privilégio neste meu percurso. Tal como diz, e na minha óptica também, um dos mais sensíveis e geniais músicos de Portugal e do mundo. Um ser humano incrível, ajudou-me muito em tudo. Poder contar com as suas opiniões, soluções e ideias para este disco, foi muito importante para mim. Atencioso, porque soube ouvir e perceber-me, é paciente, partilha o que sabe, e confio sempre no seu bom gosto. Lá está, um privilégio.
Teve convidados neste disco. Quem e qual o motivo da escolha?
Não sei se os poderei considerar como tal. Mas todos os músicos que participaram neste disco, “mimaram-me” muito com o seu envolvimento no processo e fizeram-me sentir em casa, na minha Casa de Fado. Inclusive, aqueles que me obrigaram a sair dela, fora da minha zona de conforto (De Volta ao Meu Aconchego e Minha Paz).
Em termos instrumentais, e além de Carlos Manuel Proença, contou com José Manuel Neto e Daniel Pinto. Teve um trio de ases no seu primeiro disco. Tornou tudo mais fácil?
Tenho o melhor trio de ataque do fado, quase até posso dizer quarteto. Embora não seja um fado, não posso esquecer o meu querido Marino de Freitas (Minha Paz). São a minha equipa. Claro que torna tudo mais fácil, tenho na minha equipa o Cristiano Ronaldo, o Messi e o Zlatan na linha da frente, não é um sonho?! Poderia lá esquecer, o Neymar?! (Sorri) Bom, falta-me, o Mbappé: O Filipe Raposo…
Tem letristas de várias gerações neste disco. Podemos dizer que o seu fado caminha num limbo, entre o contemporâneo e o antigo?
Sim tenho letristas de várias gerações. Penso que o “meu fado “ caminha na direcção certa. Passando pelo mais antigo e pelo mais novo, sem deixar de ser fado.
Qual a importância de neste momento estar com um agente que conhece muito bem o mercado?
O meu querido Paulo Gil. Antes de pensar desse modo, lembro-me sempre que estou com alguém que acreditou em mim e no meu trabalho desde o primeiro momento. Ao fim de tantos anos, a única pessoa que realmente apostou e me ajudou a ir para a frente com este projecto. Além disso, é um ser humano extraordinário, é um profissional brilhante. E eu sou uma moça cheia de sorte por poder contar com tudo isto e com um grande amigo, acima de tudo.
Quando descobriu o percebeu que o Fado seria o seu caminho profissional?
Acho que no fundo sabia desde sempre. Nunca me vi a fazer outra coisa que não fosse cantar. Porém, acabei o secundário, quis fazer faculdade de Psicologia mas sem sucesso, pois quando o fado me chamou de vez, larguei tudo sem pensar e nunca mais olhei para trás. Há 10 anos talvez… não sei precisar.
O que está a preparar para dia 30 de Novembro no Teatro Tivoli BBVA? Vai interpretar o disco todo e com todos os convidados?
Para o dia 30 de Novembro, estou a preparar a Casa de Fado mais bonita de Lisboa e arredores, no Teatro Tivoli. Irei interpretar os temas do disco, como é natural, e também outros que costumo cantar… Para saberem mais informações sobre essa noite tem de lá estar e, para isso, têm ir comprar o bilhete na FNAC ou na Ticketline… (Sorri)
Onde pode o público ouvi-la em ambiente de Casa de Fado?
Quando posso, e digo isto porque ultimamente estamos na fase de promoção do disco e com alguns concertos que me obrigam a ausentar-me bastante, mas normalmente às terças e quartas no Clube de Fado.
Neste disco foi buscar um tema celebrizado por Elba Ramalho. É importante manter esta ligação ao Brasil?
Sim, fui buscar o tema De Volta Para o Meu Aconchego. Remete-me sempre a casa, cheira a saudade, é o tema que oiço todas as manhãs quando estou fora e sei que é dia de voltar para casa. Traz-me paz e felicidade . É importante não esquecer as raízes… o Brasil é a minha raiz, não é apenas uma ligação.
Onde pode o público interagir consigo nas redes sociais?
Dedica muito tempo às redes sociais?
Tento dedicar tempo suficiente para partilhar situações do foro profissional que possam interessar aos meus seguidores, singles, concertos, entrevistas, etc… Acho que as pessoas que me seguem nas redes sociais apreciam de alguma maneira o meu trabalho, então é essa a experiência que partilho com elas. A minha vida pessoal é pessoal, como tal é partilhada cara a cara com os meus amigos e família.
Qual a importância delas para o seu trabalho?
As redes sociais vieram facilitar a exposição e divulgação do nosso trabalho e deixa-nos mais perto de quem gosta de nós e do nosso trabalho. No meu caso, e como já referi: onde vou actuar, as minhas músicas, etc. Sentir que a cada “like”, ou comentário, as pessoas estão atentas e nos inspiram naquilo que estamos fazer, e poder partilhá-lo é simplesmente maravilhoso. Ou seja, é sempre importante estar perto de quem gosta de nós através do nosso trabalho, e as redes sociais tem essa magia imediata.
Quem é Maria Emília fora do palco e o que gosta de fazer?
A Maria Emília fora do Palco, é filha, é irmã, é amiga e mulher. A Maria Emília fora do palco tem 3 filhas de 4 patas, 2 cadelas e uma gata. Mais espaço tivesse, mais animais teria. A Maria Emília fora do Palco é uma mulher de 27 anos realizada profissional e emocionalmente. Gosta muuuito de estar em casa, no sofá a ler, a ouvir música, e adora o Netflix and Chill . Gosta de cinema, gosta de muuuito de comer, por isso tem de gostar muuuuito de ginásio. A Maria Emília fora do Palco é a Mila para os amigos, a “rica filhota”do senhor Vanderlei, e a “nega” do marido. Resumindo, a Maria Emília fora do Palco é mais uma menina de 27 anos que é muito feliz e agradecida por aquilo que tem, mas que trabalha com querer para atingir as suas metas.
Qual a mensagem que deixa aos leitores do Infocul?
Aos que seguem o meu trabalho, continuem seguindo… estamos a preparar muitas coisas boas. Para quem não segue, pode começar a seguir através das redes sociais: Maria Emilia Fado no Facebook e instagram. E não se esqueçam, dia 30 Novembro conto com todos para fazermos do Tivoli a mais bonita casa de fado de Lisboa e arredores. Até lá!