Pedro Calado: A Verdade como a mais bela Arte, no Teatro Garcia de Resende

 

 

O Teatro Garcia de Resende, em Évora, recebeu o concerto de apresentação do novo disco de Pedro Calado, “O Cante do Fado”, com sala cheia a que se juntou um espectáculo elegante, de bom gosto e com Pedro Calado a mostrar toda a sua valia.

‘O Cante do Fado’ é um disco que junta as duas identidades artísticas de Pedro Calado, o Cante Alentejano e o Fado. Um disco bem produzido, por Carlos Leitão, e que ganha, naturalmente, uma vida e uma emoção diferentes em palco.

Pedro Calado é naturalmente genuíno, não força emoções e não usa palavras ou frases clichés. Parecendo pouco, é actualmente muito. A sua voz grave, tipicamente alentejana e com a emoção a desbrotar em cada palavra, acaba por conquistar quem o ouve.

Acompanhado em palco por Henrique Leitão, Luís Pontes e Carlos Menezes, o canto alentejano esteve excelente em todo o concerto, mesmo quando a palavra faltou num dos temas, soube dar a volta ao texto e manter o nível elevado.

Um caso de talento puro e ímpar que poderá não ter a notoriedade devida mas que é sinónimo de qualidade indiscutível. Num mundo em que os produtos parecem conquistar o público, Pedro Calado segue o caminho das emoções, provavelmente o mais difícil mas o que melhor fará à arte, a que não de ser produzida mas criada.

‘Fado do Sobreiro’, criação de João Braza, ‘Noite’, ‘Olhos Negros’ e os temas do novo disco construíram parte do alinhamento, complementado pelas actuações de Teresa Tapadas, Grupo Cantares de Évora (grupo que integra há 20 anos), Custódio Castelo e Carlos Leitão.

Os momentos em que o Cante tomou conta do palco foram de emoção mais que natural, servida em bruto. Teresa Tapadas destacou-se no ‘Avé Maria’, Custódio Castelo não deixou créditos em mãos e guitarra alheia e Carlos Leitão esteve bem nas duas interpretações bem como nas palavras dirigidas a Pedro Calado.

Que o Garcia de Resende tenha sido a primeira paragem de uma longa viagem deste disco que demonstra que os bons valores são a base para a mais bonita das artes: a verdade.

 

Texto: Rui Lavrador
Fotografias: Hugo Calado (ODigital/ Infocul.pt)