Ricardo Levesinho é, actualmente, dos mais importantes empresários do sector tauromáquico. Gere as praças de touros Palha Blanco (Vila Franca de Xira), Daniel Do Nascimento (Moita), Chamusca e Figueira da Foz. Organiza ainda, anualmente, corridas de touros em Samora Correia e São Cristóvão.
Foi em plena Praça de Touros Palha Blanco que nos recebeu e concedeu entrevista em exclusivo ao Infocul. A família, o percurso, o meio tauromáquico e os seus desafios e até o cartel de sonho. A todas as perguntas, Levesinho respondeu.
Ricardo Levesinho começou por nos confidenciar que a sua paixão pelo mundo dos touros “nasce de berço. A minha família tem uma tertúlia em Vila Franca de Xira, o meu crescimento foi baseado e a viver na tertúlia, dia-a-dia. Depois estamos em Vila Franca, num ambiente apaixonado pela tauromaquia e pelo touro, nesta cultura e identidade tão nossa. É o nosso sangue. Penso que não conseguiria fugir a isso. Isso motivou-me, apaixonou-me e fez-me até aos dias de hoje acreditar que esta nossa identidade tem de ser defendida”.
Ser toureiro é que nunca lhe passou pela cabeça, até porque diz que “nunca tive valor para isso”. Mas desde pequeno que o seu Fado [no sentido de destino] estava traçado. “Sempre fiz cartéis. Lembro-me, desde sempre, de construir cartéis, tenho esses cartéis todos comigo. Digamos que era um projecto que tinha para se um dia conseguisse chegar aqui, os pudesse aplicar. Era a minha ilusão. Como não tinha valor para ser toureiro nem forcado, pensava, eu, que montar cartéis era mais fácil”.
E recorda-se perfeitamente do primeiro cartel que montou enquanto empresário: “Lembro-me perfeitamente. Foi na Aldeia da Venda, com Joaquim Bastinhas, Luís Rouxinol e Marcos Bastinhas. 6 touros de Falé Filipe. Forcados de Portalegre e Aposento do Alandroal. Foi a 30 de Setembro de 2006. Foi uma primeira experiência para nos irmos inserindo no meio tauromáquico, no meio das pessoas, mas com vista ao concurso em Vila Franca, em 2008”.
Assume que “passou num instante” todo este tempo, 14 anos, durante o qual “já passámos as 200” corridas de touros organizadas.
Este ano recuperou o Festival Taurino do Ateneu Artístico Vilafranquense, que durante anos não se realizou. Será a 29 de Março, na Praça de Touros Palha Blanco, com o cartel a ser composto pelos cavaleiros Manuel Ribeiro Telles Bastos, João Salgueiro da Costa e Joaquim Brito Paes e os espadas López Chaves, Sánchez Vara, Gómez del Pilar e Duarte Silva. Pegam os forcados amadores de Vila Franca. Lidam-se novilhos das ganadarias Palha, São Torcato, Lampreia, Canas Vigouroux e António Raúl Brito Paes.
Levesinho disse-nos que “sinto é que as instituições, em Vila Franca de Xira, estão cada vez mais ligadas entre si e queremos estar juntos uns dos outros. A ideia surgiu de forma natural, coloquei-a à direcção do Ateneu (que tem uma postura perante a vida e a sociedade muito bonita e voluntariosa). E aí fez match. Fez match ao regressar algo que é histórico, que teve aqui momentos muito bonitos e com figuras extraordinárias, que marcou aqui uma época: os festivais do Ateneu”.
Acrescentou, ainda sobre o festival, que “recuperar algo que é histórico num ano marcante, neste caso os 50 anos da Banda do Ateneu, penso que era o momento certo. O momento certo para estarmos juntos, ao final de alguns anos, a mostrar a força de uma terra, de uma cidade e das instituições”.
Gerir a Praça de Touros Palha Blanco foi algo que “sonhei que pudesse acontecer. Não tenho uma meta de anos. Quis aqui estar, quis cumprir o meu sonho (que sempre foi um dia poder estar aqui) e agora o que quero é ser útil, sentir que faço a diferença e consigo ajudar a contribuir com valor para esta histórica praça”.
Mas durante três anos não geriu a praça, na altura em que Paulo Pessoa de Carvalho assumiu essa função. Um período que Ricardo Levesinho recordou neste entrevista e em que assume que passou mal.
“Passei mal, passei mal… Deve ser a primeira vez que estou a abordar este tema a nível público, mas não convivi bem com esse período. Uma primeira fase de muita tristeza, sabe?! Mas, há também outros valores que nos acompanham como o amor da família, dos amigos e isso compensou-me. Isso fez-me sentir que por vezes é importante dar-mos espaço a novas pessoas. Porque assim essas novas pessoas podem trazer novas oportunidades, novas ideias e porque o que está em causa, e acima de tudo, é a Praça de Touros Palha Blanco e a sua história. Portanto, entendi que o mais importante não era eu nem o meu estado de espírito, mas sim o engrandecimento desta praça e aquilo que as pessoas trariam de novo e que pudessem contribuir”, disse, antes de acrescentar que “tive os meus momentos”, quando questionado se a solidão e o choro fizeram parte do seu quotidiano dessa altura.
Cartéis para 2020…ou pelo menos parte deles!
Para a temporada 2020, em Vila Franca de Xira, Ricardo Levesinho disse-nos que “Sebastián Castella estará no Colete Encarnado, na corrida mista de domingo” e que “Diego Ventura está confirmado, dia 6 de Outubro”.
A contratação de Castella “surgiu de uma oportunidade bonita, quer pela sua ligação a Vila Franca quer por ser uma figura do toureio. Já por duas vezes tínhamos tentado uma abordagem e uma aproximação para que este momento pudesse acontecer. Este ano houve interesse nosso, novamente, e interesse do Sebastián em estar, num ano importante no qual celebra 20 anos de alternativa. Na América, onde estava, colocou todas as possibilidades, formas e meios para poder vir e para que tivéssemos a coragem de dar esse passo em frente. É um investimento forte, mas é um sonho nosso”.
Ricardo Levesinho disse-nos ainda que Castella não é a contratação mais cara desta temporada. A contratação mais cara é a de Diego Ventura.
Sobre os restantes cartéis, explicou que “teria todo o gosto em dizer-lhe mas ainda decorrem negociações. Tenho os desenhos todos feitos na minha cabeça, em conjunto com minha estrutura que é a minha família como sabe. A estrutura será de dois cavaleiros e um matador de touros. Isso é certo”, referindo-se à corrida em que participa Castella.
Já “na Feira de Outubro, na corrida com o Diego, será um mano-a-mano. Será um cartel que diferencia a presença em Portugal de Diego Ventura, nesta temporada. Um cartel que fecha em grande a temporada e que marcará pela diferença”.
Bem diferente é a situação das ganadarias, estando já todas fechadas e decididas. “Já estão fechadas as ganadarias que estarão presentes. Haverá um duelo ganadeiro em Maio, entre António Silva e Canas Vigouroux. No Colete Encarnado serão lidados 4 touros, a cavalo, de Vale Sorraia e 2 touros, lidados a pé, de Calejo Pires. Para a Feira de Outubro: Teremos uma corrida São Torcato, uma corrida Palha e uma corrida Tomás Prieto de la Cal”, assumiu.
Este ano, Ricardo Levesinho ganhou e assumiu a gestão da Praça de Touros da Chamusca. E para esta praça, assume que “não somos reformistas nem de ideias completamente loucas. O meu raciocínio passa muito por sentir que a Quinta-feira de Ascensão é a data histórica, em que as pessoa dão a sua importância e o seu momento. E eu acho que uma feira taurina deve terminar naquele que é ‘o momento’. Penso que termos o momento e depois fazer algo apenas por fazer, não tem sentido. A minha ideia é fazermos uma corrida antes, no sábado dia 16, e depois organizamos a corrida de quinta-feira de Ascensão. Uma corrida mista, como é normal”.
Sobre os cartéis para esta praça, assume que serão apresentados dia 28 aquando do festival taurino que ali realizar-se-á. “Estamos a trabalhar de forma árdua, as coisas não são feitas do pé para a mão. São muito pensadas. Neste momento estamos a dar muita importância à questão dos touros, já vamos para a 3ª visita ao campo. Isto é algo fundamental. A tauromaquia vive do touro, da emoção e o touro é o Rei da festa. Pelo menos é a minha identidade e aquilo em que acredito. Estamos a dar importância a esse factor. Não podemos defraudar as expectativas das pessoas e portanto estamos a trabalhar para que o elenco artístico possa ser apresentado no dia 28, o dia do festival”, explicou.
2020 marca o segundo ano de Ricardo Levesinho na gestão da Praça de Touros Daniel do Nascimento, na Moita.
O primeiro ano foi “um desafio. Uma praça exigente mas penso que nisso temos experiência porque gerimos a Praça de Touros Palha Blanco e sabemos a exigência que existe a todos os níveis. Não me criou dificuldades de maior, já levámos a expectativa da exigência e de termos de fazer o nosso melhor para chegar às pessoas e assim as pessoas puderem acreditar em nós. E foi o que aconteceu. É uma praça que merece empenho, entrega e ilusão. Merece um contributo muito forte, porque não deixa de ser um ex-libris da tauromaquia nacional e quando estamos à frente, destes projectos, temos de dar o máximo e ter sucesso porque é o futuro da tauromaquia nacional que está em causa”.
Em Maio haverá um mano-a-mano entre Luís Rouxinol e João Ribeiro Telles. Lidar-se-ão touros da ganadaria Mata-o-Demo. Pega em solitário o Aposento da Moita. Sobre este cartel, disse que “estamos a fechar o processo. Penso que até final do mês está encerrado esse elenco: Luís Rouxinol e João Ribeiro Telles. Pega o Aposento da Moita. Ganadaria Mata-o-Demo. Aquilo que estamos a fazer neste momento é analisar todos os dados em termos de estratégia para podermos dar os passos certos e o cartel que as pessoas idealizam”.
Sobre os restantes cartéis para esta praça diz mesmo que “nunca podemos construir em Fevereiro ou Março uma temporada que seja finalizada. Há que dar espaço e tempo aos triunfadores e revelações. Para que se possa também dar o ânimo suficiente a um cavaleiro que triunfe no início de temporada e assim possa ter novos desafios. É isso que o motivará e o fará acreditar que há futuro para ele. Eu penso desta forma”, dando mesmo o exemplo de que “em Vila Franca vamos deixar um cartel do abono em aberto, porque só assim é que faz lógica de modo a deixar espaço para os toureiros que triunfam e se destacam”.
O Touro como Rei da Festa
Ricardo Levesinho assume que enquanto empresário tem “uma linha de orientação. Posso dizer-lhe que já houve cavaleiros que não contratei porque não aceitaram as ganadarias que sentimos ser as que deveriam estar aqui. Um exemplo: No ano passado não foi possível contratar Diego Ventura porque não chegámos a acordo com as ganadarias. Entendo que Vila Franca tem uma identidade e essa identidade tem de ser respeitada, da mesma forma que a figura de toureio que é Diego Ventura tem de ser respeitada. E eu concordei em absoluto que não havia possibilidade de negócio na altura porque não haviam interesses comuns”.
Em contrapartida, revela que “este ano, das ganadarias colocadas em cima da mesa, houve algumas que gostei. Há ganadarias que sinto que ajudam a engrandecer a Praça de Touros Palha Blanco e portanto a partir daí foi muito mais fácil chegar a esse consenso e acordo”.
Apoderamento de João Ribeiro Telles
Além de empresário, Levesinho assume o apoderamento de João Ribeiro Telles e sobre o cavaleiro começa por explicar que “é uma figura o toureio e aquilo que queremos é definir uma estratégia adequada a uma figura do toureio”.
E isto significa “estar nas feiras importantes, nas datas importantes, nos cartéis fortes. Dito assim torna-se fácil porque é gerir uma agenda”, mas acrescenta o dever de “respeitar agenda, respeitar o espaço geográfico entre corridas para que a sua imagem esteja cuidada e portanto o essencial é estar nos cartéis fortes, porque uma figura do toureio tem de ali estar, e ser respeitado o seu dinheiro, obviamente”.
E quanto a apoderamentos, assume que “o Ricardo Levesinho concentra-se no João Ribeiro Telles. É um trabalho de grande responsabilidade. A palavra equilíbrio a mim diz-me muito. Apoderar um figura do toureio não terá de ser em exclusividade mas muito próximo disso e com um projecto único, para que depois não exista dispersão de ideias ou interesses. O foco só pode ser um”.
Ainda assim, assume que “as possibilidades existem sempre e felizmente as aproximações também existem. É normal que as pessoas também vejam valor em nós para que lhes possamos ser úteis. Mas é como lhe digo, tem de haver um respeito na forma de pensar e pelo tal equilíbrio. Haver um foco é obrigatório”, quando questionado se existiram, durante o defeso, mais possibilidades de apoderamento.
O Homem e o Empresário
Sendo natural de Vila Franca de Xira, gerindo a praça local mas tendo também outras à sua responsabilidade, a pressão é sempre muita e a exigência também.
Sobre as críticas que lhe possam fazer sobre beneficiar uma praça em relação a outra, assume que “essa é uma pergunta muito interessante e que lhe respondo da seguinte forma: temos de adequar os cartéis ao público-alvo e aos aficionados locais. Os aficionados da Moita são diferentes de Vila Franca”.
Justifica que “em Vila Franca há uma exigência pelo touro, pelo trapio do touro. Por aquelas ganadarias que criam emoção e fazem as bancadas tremer. Das que fazem as pessoas estar atentas ao que se passa dentro da arena. Isto acontece porque as pessoas acreditam no touro, no que ali está!”, enquanto que “a Moita já prefere Arte. Já não se importa de um tipo de touro diferente, exigindo obviamente apresentação, mas é uma praça que prefere a Arte. Vai mais para sentir a Arte e nem tanto a emoção em si. Exige respeito e devemos sempre lutar por ele. Portanto já estamos a falar de dois ecossistemas completamente diferentes e temos de os conhecer”.
Mas é de forma aberta e descomplexada que “falando em termos emocionais, não escondo que Vila Franca é a minha terra. Vila Franca cria-me expectativas todos os dias que me custam e levam a um nível de exigência, comigo próprio, muito elevado. A minha família é daqui e todos os dias sentimos a satisfação das pessoas. E eu tenho de defender a minha família, porque as pessoas são expressivas. E o espectáculo tauromáquico é feito de emoções e as pessoas não deixam de, forma pública, manifestar os seus anseios e gostos. Já houve momentos em que as coisas não correram assim tão bem, porque nem sempre corre como queremos. Mas é algo tão bonito quando saímos à rua e sentimos a nossa família feliz com os comentários bonitos de quem passa…E isso não há nada que pague”.
Ricardo Levesinho, até pelas praças que gere e o cavaleiro que apodera, é dos agentes mais importantes do meio tauromáquico actual. Sabemos que tinha (e tem) vários pedidos de declarações e entrevistas.
Ao primeiro contacto acedeu conceder-nos a entrevista, mas não deixámos de questionar se a aposta em dar poucas entrevistas e aparecer pouco no espaço mediático era uma opção natural ou ponderada.
Ricardo Levesinho assume que “é algo natural. Eu não sou muito de protagonismo, gosto de estar no meu espaço. Gosto de estar tranquilo, não gosto de ser o centro das atenções, mas gosto de ter ilusões. Gosto de debater internamente com a minha família e equipa e aí intervenho com mais empenho e vivacidade. Mas a comunicação deve ser estratégica”.
Acrescenta que “no meio tauromáquico fala-se muito e diz-se pouco. Eu acho que aquilo que dizemos deve contribuir de forma positiva para a tauromaquia. E sinto que em muitas entrevistas, debates e opiniões fazem exactamente o oposto. Já cometi erros, aprendi com eles. Já falei algumas vezes de forma errada. Mas tudo isso ajudou-me a ser mais ponderado e a ter a ideia de que devemos ter cuidado quando somos pessoas com alguma intervenção pública. Temos de ter cuidado com a mensagem que passamos para o exterior. Não podemos passar a mensagem de que a tauromaquia é uma área sem estratégia, em que andamos aqui à guerra e a falar de tudo e de nada. Não contem comigo para isso. Contem comigo para contribuir para melhorar. Um dia quando fizerem uma avaliação do meu percurso que digam que foi alguém que ajudou, que deu o seu máximo, que não foi perfeito (de certeza absoluta) mas que foi uma pessoa séria”.
Diz que lhe custa lidar com os erros, mas que aproveita e “tiro os ensinamentos que me provocam. Errar é humano, custa-me errar e custa-me ainda mais não aprender com os erros. Mas errar é natural”.
O empresário não esconde ser um homem muito dedicado e preocupado com a família e assume que evita ao máximo que eles sintam ou vivam os maus momentos. Prefere partilhar a felicidade e os bons momentos com eles.
Disse-nos que “muitas vezes aconteceu isso, Rui. Muitas vezes, mesmo. As dificuldades que a tauromaquia me provocou a nível financeiro, muitas vezes guardei tudo para mim. Apenas eu sabia o que se estava a passar. Penso que é uma forma de proteger os meus. Os homens de família devem ser assim, fortalecer os seus e protegê-los de tudo. Tem de saber cuidar e eu sempre segui essa velha máxima”.
Relembrou que “ali no período da crise, 2012-2015, foi muito difícil. Foi mesmo de rebentar com qualquer projecto que pudesse existir. Conseguimos recuperar, conseguimos estabilizar o próprio negócio, sendo que o IVA neste momento vai fazer um arrombo monstruoso”.
E sobre o IVA, “sinto que os agentes económicos associados à tauromaquia não estão a entender isto. Acho que vão perceber tarde demais. Porque em termos de negócio, se não tivermos elasticidade para aumentar o preço dos bilhetes, como muitas vezes não existe, vai tornar o negócio cada vez mais inviável. Cabe-nos trabalhar cada vez mais e melhor. Quer se queira ou não, temos de ser nós a acreditar que a tauromaquia tem de ter futuro e portanto temos de ser diferenciadores e a conseguir que a tauromaquia tenha sucesso”.
Questionado se aumentará o valor do preço dos bilhetes nas praças que gere, disse que “estamos a pensar em tudo neste momento. Penso que os bilhetes, em si, não irão ser aumentados. Temos muita dificuldade em aumentar o preço dos bilhetes. O que estamos a tentar é ter outros ganhos, apoios de outras empresas, para que este aumento de impostos possa ser compensado de outra forma”.
E aqui surge uma revelação que é importante que o sector tenha noção.
Muitas empresas e multinacionais, que anteriormente patrocinavam, afastaram-se do meio tauromáquico. “Muitas, muitas…”, assume Ricardo.
Destaca que “felizmente vamos tendo empresas que nos apoiam, também temos empresas que nos apoiam mas implicando colocar a sua imagem cá dentro, o que é um primeiro aviso. E depois há empresas que são coagidas e posso dar-lhe um exemplo: Tivemos uma aproximação muito grande à REMAX e o que a REMAX fez (ao nível de decisão central) foi proibir qualquer apoio a este espectáculo. E atenção que a REMAX tem lojas aqui, na Moita e em todas as cidades do país. Fizeram mesmo uma ameaça aos franchisados de rescisões unilaterais no caso de haver apoio à tauromaquia. Um dos casos era a tauromaquia, como também os espectáculos de circo. E isto é uma forma de coagir. Porquê isto? Estamos numa sociedade de direito, livre, democrática. A tauromaquia é importantíssima para a economia local, regional e nacional. A tauromaquia é fundamental a nível nacional, há aficionados em todo o lado. Essa coação é negativa e afecta-nos, retirando rentabilidade do nosso negócio. Mas é o tempo que temos e os desafios que temos para enfrentar. São desafios difíceis mas temos de ser perseverantes e cada vez mais competentes”.
A Falta de União na Tauromaquia
No meio tauromáquico, “eu não acredito em união”, começou por revelar.
E justifica a afirmação, com o facto de “uma convivência comum muito difícil de coabitar com a união. Penso que há muitos interesses pessoais, por vezes nem sei se são interesses pessoais. Há muito clima de desconfiança, guerrilha e de falta de solidariedade entre os agentes, algo que é enorme. Então entre as empresas é uma coisa abismal. Não consigo aceitar que um sector, que está a ser tão atacado a nível nacional e político, possa ser tão desunido. Não sinto que haja a ideia de ‘vamos todos lutar, temos diferenças de carácter, muitas diferenças de opinião (e isso é normal) mas vamos lutar, sentar à mesa, criar uma decisão e definir um caminho que vamos todos trilhar’. Eu não acredito em nada disto. É uma ideia bonita mas em que não há o mínimo de esforço colectivo para que se possa avançar. Não há porque as pessoas são assim!”.
E sobre as pessoas, disse que “há pessoas que são boas e inteligentes, há pessoas com muita paixão pela tauromaquia que as pode ajudar a ir neste caminho, mas depois há outras com interesses promíscuos. Pessoas que não são claras, que andam aqui com guerrilhas, que não têm validade nenhuma nem como pessoas nem como profissionais. Peço desculpa se estou a passar uma ideia de falta de humildade, mas é aquilo que eu sinto. Há pessoas que criam maus ambientes, maus caminhos e confusões constantes. Só quando separarmos o trigo do joio, e espero que alguém me considere dos bons (porque estamos sempre sujeitos à crítica), é que as coisas poderão ir para a frente. Até lá, sinto que não há qualquer tipo de união que possa fortalecer a tauromaquia”.
Quando questionado se a tauromaquia não teria fechado-se sobre si própria e afastado-se de outras áreas culturais, Ricardo disse que “estou inteiramente de acordo consigo. Lembro-me dos jornais e das revistas quando a tauromaquia era algo social, visto como normal. Uma corrida de touros era um acontecimento social. Um toureiro, cavaleiro ou forcado eram figuras do social, pessoas respeitadas socialmente e vistos como referências. O que vemos actualmente, com raras excepções, é a tauromaquia colocada de fora por parte das revistas sociais. Penso ser necessária mais intervenção, mais exposição pública, principalmente por parte dos toureiros, acho que iria ajudar”.
“Quanto ao estarmos fechados, penso que demos um salto com a Prótoiro. Muitas pessoas têm criticado a Prótoiro, certamente que a Prótoiro não faz as coisas todas perfeitas, mas a Prótoiro foi um passo muito importante no foco, na união e no foco de uma estratégia. Se olharmos para trás, o que havia antes da Prótoiro? Eu acho que devemos dar destaque ao que de bom existe, mas temos sempre muita tendência a criticar. E critica-se porque não estamos lá, não estamos nos pelouros, não temos uma ligação mais pessoal aos projectos. E como estamos um bocadinho mais de fora, então torna-se fácil criticar. Mas a Prótoiro é fundamental para o presente. E se queremos ter futuro, a Prótoiro tem de existir. E isso [a criação da Prótoiro] veio ajudar a combater a falta de união completa que existia. Agora, é preciso competência, perseverança, união entre as associações que fazem parte da Prótoiro e, a partir daí, é com essa competência e dando o melhor de cada um que teremos um caminho de futuro”, acrescentou, elogiando a existência da Prótoiro.
APET
Foi notícia a candidatura de Ricardo Levesinho à APET (Associação Portuguesa de Empresários Tauromáquicos). Mas em entrevista ao Infocul.pt, Ricardo Levesinho actualiza e justifica a sua posição.
“Em primeiro lugar, eu manifestei a minha disponibilidade em candidatar-me após ouvir pessoalmente o actual presidente de que estava completamente desmotivado e que não acreditava em muitas das empresas que existiam. Ou seja, muito nesta linha que tenho estado a dizer-lhe: a falta de união. E sem reflectir muito, senti que deveria ajudar”.
Contudo, “ao momento de agora, o que senti é que o actual presidente quer manter-se no cargo e que manifesta vontade em recandidatar-se. Eu a partir daí, como não gosto de falta de união e não quero que ela exista por minha responsabilidade, só tenho uma tarefa e uma forma de pensar: afasto-me. Ajudo naquilo que quiserem, contribuo com as competências que eu possa ter para que as coisas possam ser melhores, mas para existirem duas ou três listas em que se contribua para a desunião, eu não contribuo para isso. E posto isto, tendo o actual presidente demonstrado vontade em recandidatar-se, eu afasto-me e não irei contribuir negativamente para a tauromaquia. Havendo uma candidatura de Paulo Pessoa de Carvalho, eu não me recandidatarei. E não é por estar de acordo, até porque temos muita coisa em desacordo relativamente à falta de comunicação, algumas políticas que existem, alguma falta de estratégia que está por cima (que penso não existir ou se existe não é passada em termos de comunicação), mas a união é uma palavra que me diz muito e não quero ser visto como alguém que cria desunião”.
Os Afectos e o Cartel de Sonho
Ricardo Levesinho assume que fora da tauromaquia dedica-se, além da sua actividade profissional, à “família, Rui”, isto porque “a família para mim é tudo. A amizade para mim é tudo. O amor da minha família e das minhas pessoas é fundamental, para me sentir vivo e feliz. A minha energia são os meus filhos, as pessoas de quem gosto. São tudo para mim. É isso que me dá um rumo e um caminho de vida, porque preciso de um caminho para viver. E é este o caminho certo e que me faz ter os valores que a minha família me transmitiu”. E é na família, que Ricardo tem o seu porto de abrigo, “na minha família e naqueles amigos que para mim são muito especiais. São muito poucos, mas considero família. Portanto, é a família que me acompanha no meu caminho de vida”.
Assume que gostava de ser recordado na tauromaquia como “alguém que veio dar transparência e com espírito de missão, para que esta tauromaquia que todos amamos e idolatramos tenha mais tempo”.
E aceitou o desafio de revelar o seu cartel de sonho: “Esta praça esgotada, recuperava o mano-a-mano António Ribeiro Telles e Diego Ventura. Colocava a ganadaria Palha. Mas o meu cartel de sonho é António Ribeiro Telles, Diego Ventura e João Ribeiro Telles, com a ganadaria Palha, forcados de Vila Franca e numa terça-feira nocturna”.
Texto e Entrevista: Rui Lavrador
Fotografias: Rute Nunes e Carlos Pedroso